O automóvel está hoje massificado em Portugal, sendo a tendência hoje curiosamente a de reduzir a sua utilização nas grandes cidades em prol de uma mobilidade mais desmaterializada ou com recurso a métodos mais amigos do ambiente. No entanto, na transição do século XIX para o século XX, o automóvel era visto como objeto longínquo e ainda estranho para a grande maioria da população.

Praticamente sem vias consideradas dignas do nome estradas e sem regras de trânsito por que se guiar, os condutores dos primeiros automóveis não tiveram vida fácil em solo nacional, sobretudo quando o Conde de Avilez cometeu a ‘ousadia’ de importar o primeiro automóvel para Portugal.

Sem concessionários, tudo era mais difícil – incluindo o processo de classificação alfandegária –, mas a 12 de outubro de 1895, o Panhard & Levassor comprado pelo Conde entra em território português, veículo de topo na sua época com um motor de patente Daimler (recorde-se que foi o inventor do primeiro carro, na Alemanha) capaz de chegar aos cerca de 20 km/h. No caso premente, o Panhard & Levassor era uma criação gaulesa, que havia encantado o Conde de Avilez numa visita a Paris.

No entanto, o veículo teve uma estreia azarada, já que na sua primeira viagem, entre Lisboa e Santiago do Cacém, registou-se o primeiro acidente de viação de que se pode falar em Portugal, quando o condutor não conseguiu evitar um embate ligeiro num burro. Rezam as crónicas da época que o caso só foi sanado quando o dono recebeu uma indemnização pela comoção causada ao animal.