Um dos executivos de topo que mais tem levantado questões quanto à viabilidade dos carros elétricos é Sergio Marchionne, CEO do Grupo FCA e da Ferrari, para quem persistem ainda muitas dúvidas quanto à total sustentabilidade da tecnologia elétrica. O italiano apelou mesmo a que se façam análises aprofundadas aos carros elétricos para que se comprove que a sua sustentabilidade é, efetivamente, maior do que a de um carro com motor de combustão interna, cujos avanços recentes têm aumentado a sua eficiência.
“Penso que se não se fizer uma análise completa da origem da energia elétrica, de onde vem, de como é que se produzem as baterias para os carros, quais os seus custos em termos de CO2 e para o ambiente, creio que a perceção de que vamos salvar o planeta com carros elétricos não faz sentido”, referiu o homem-forte daquele que é um dos maiores grupos automóveis mundiais em declarações à CNBC.
“Se a base para a produção de energia elétrica for nuclear, então não terei problemas. Estaremos todos a fazer o correto. Mas estamos a apostar na energia nuclear como solução para os nossos problemas. Se estivermos a confiar em combustíveis fósseis para a produzir, penso que o problema será ainda maior”, afirmou como argumento para colocar alguma ‘água na fervura’ em torno dos elétricos.
“Sem modelo viável de comercialização”Se a Fiat tem um elétrico na sua gama – o 500e –, Marchionne nunca escondeu que o mesmo não se traduzia, comercialmente, em rentabilidade, chegando mesmo a dizer no passado que cada unidade vendida daquele citadino em modo elétrico representava uma perda de 20 mil dólares. Além disso, essa visão é reforçada por outras declarações transcritas no site The Street, também dos EUA, no qual Marchionne levanta uma forte questão em termos de comercialização e rentabilidade desses modelos.
“Ainda não temos um modelo económico viável para a venda de carros elétricos. Por mais que eu goste do Elon Musk, e é um bom amigo e fez, na verdade, um trabalho fenomenal com o marketing da Tesla, continuo sem acreditar num modelo económico viável para o modelo que ele está a lançar”, referiu Marchionne, alertando para uma “espécie de corrida desenfreada para se chegar primeiro” aos carros elétricos.
Recordando o caso do 500e, Marcionne explica que o valor de 20.000 dólares se referiam a um custo com base nos componentes de 2010-2011 e que os mesmos são agora muito mais baixos. Mas, ainda assim, continua a não ser lucrativo.
“Não se pode gerir uma entidade económica com base em prejuízos. Simplesmente não acontece”, acrescentou Marchionne, que deixou a garantia de que se está a trabalhar e a investir na eletrificação na FCA, mas que a forma mais simples de obter algum lucro e um modelo de negócio que seja sustentável para a companhia é através da combinação dos motores térmicos com os elétricos.
Marchionne não é o único a manifestar cautelas quanto ao ‘salto de fé’ para os elétricos. Recentemente, Carlos Tavares, CEO daquele que é agora um dos maiores grupos mundiais, a PSA, alertou em entrevista ao site Autoactu.com que a pressão política irá levar a algumas decisões erradas por parte dos construtores.
Numa expressão forte, o português admite que o “o mundo está louco” quando se observa a existência de uma imposição política rumo à mobilidade e automóveis elétricos. “Toda esta agitação, todo este caos vai virar-se contra nós, porque, levados pela emoção, vamos tomar más decisões, pouco refletidas e sem possibilidades de recuo”, referiu.
A Peugeot terá também uma aposta nos elétricos – que prevê seja de 80% de eletrificação integrada nos seus modelos em 2023 –, mas enquanto cidadão diz-se “inquieto” ao apresentar questões de “como produzir mais energia elétrica limpa? Como fazer para que a pegada de carbono derivada da fabricação de baterias para os automóveis não se torne num desastre ecológico? Como proceder para que a reciclagem destas baterias não seja também um desastre ecológico? Onde vamos buscar as matérias-primas raras para produzir as células e apurar a química de baterias mais duradouras? Quem está em condições de levantar a questão de uma forma globalizada do ponto de vista societal para atender ao conjunto destes parâmetros? Qual a resposta do grupo PSA? Não a posso dar, pois enquanto construtor automóvel não sou um ator credível!”.
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