“Carregamento dos elétricos é como um duche. Só sabemos o valor quando vem a fatura”

17/11/2019

Lisboa , 11/12/2015 - Henrique Sanchez da (UVE) Utilizadores de Veículos Eléctricos, fotografado esta manhã em Lisboa com o seu carro eléctrico . Henrique Sanchez. (Gerardo Santos / Global Imagens)
Associação representante dos utilizadores de veículos elétricos desvaloriza a queda das vendas em outubro. Reconhece que a rede pública de carregamentos é insuficiente e que falta informação nos pagamentos

Depois de meses a acelerar, a venda de veículos 100% elétricos, em Portugal, travou a fundo. Em outubro último, a subida foi apenas de 1,6%, em comparação com o mesmo mês do ano passado. Um valor inferior, inclusivamente, aos 7% de crescimento registado pelos ligeiros de passageiros “tradicionais”. Com uma queda de 97,6%, a Tesla foi a grande responsável pela queda das vendas deste segmento “verde”, face a setembro passado. Estarão os veículos elétricos estão a perder energia no mercado nacional? Henrique Sánchez, presidente da Associação dos Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE) acredita que não. E encontra várias explicações para a descida. A primeira delas prende-se com o forte “desvio” de modelos Tesla para outros mercados, como o Chinês. Os trabalhos na fábrica chinesa da marca já arrancaram, mas, como ainda não saiu nenhuma unidade das linhas de produção, “é necessário mostrar exemplares aos potenciais compradores”, revela.

A segunda explicação é uma lei europeia. No próximo ano, entram em vigor as restrições que limitam em 95 g/km as emissões de CO2 dos novos modelos lançados no mercado. Uma medida que, na sua opinião, levou muitas marcas “a adiar o lançamento de veículos elétricos para 2020”. Porquê? “Porque as coimas aplicar em 2021 versarão sobre o ano de 2020”, afirma.

É fácil entender o adiamento da venda de veículos sem emissões de gases poluentes: estima-se em 30 mil milhões de euros o valor das multas a aplicar sobre os construtores incumpridores.

“A indústria automóvel não vai aguentar”, avisa o responsável. Para mais, a lei ambiental tenderá a apertar. “Em 2023, as restrições passarão para 50 g/km. As marcas precisam de ter veículos elétricos para poder sobreviver. Caso contrário, não aguentarão as multas. É algo irreversível”, acrescenta.

Falta de informação
Henrique Sánchez reconhece que ainda existem vários entraves para que os veículos elétricos conquistem uma fatia maior de mercado. Desde logo, uma rede pública de carregamentos “insuficiente”. Depois, a falta de informação que os condutores de veículos elétricos têm sobre o preço de cada carregamento. “Quando abastecemos o automóvel, com gasóleo ou gasolina, estamos habituados a saber, na hora, quanto custa. Mas na nossa vida nem tudo é assim. Não sabemos o custo de um duche ou de aspirar uma casa. Só quando chega a fatura com o consumo de eletricidade. A mobilidade elétrica tem esse formato. Desconhecemos o custo de cada ação”, explica. E vai mais longe. “Nesta fase inicial, seria muito positivo que as pessoas tivessem uma ideia mais concreta do custo do carregamento”, afirma.
Ainda assim, deixa algumas diretrizes. “O consumo médio de 15 kWh para 100 quilómetros (com um preço médio de eletricidade de 20 cêntimos por 1kWh) andará à volta de três euros. No caso da tarifa bi-horária, para quem possa carregar em casa, será inferior: dois euros. Em termos médios, estes mesmos 100 quilómetros custariam nove euros num veículo a gasóleo e 12 euros numa viatura a gasolina. Mesmo na rede pública de carregamento, mais cara, o custo seria de seis euros. Não há dúvidas de que um elétrico é muito mais barato”, sublinha.

Benefícios desequilibrados
No nosso país, os principais clientes dos veículos elétricos continuam a ser as empresas. Henrique Sánchez admite que existe um desequilíbrio nos apoios atribuídos pelo governo. “Existe um montante de três milhões e seiscentos mil euros destinados à compra de elétricos, a empresas e particulares. Para as empresas o incentivo para a compra é de 2.250 euros, com direito a quatro candidaturas. Para os particulares, o valor é de 3.000 euros e uma candidatura. Nestes dois anos, 70% dos incentivos para a compra foram para as empresas e apenas 30% para os particulares”, lamenta. Na sua perspetiva, “como as empresas já beneficiam da recuperação do IVA (recuperam 23%) e da Tributação Autónoma, defendemos que não deviam ter incentivos para a compra. Deviam manter os outros benefícios, no âmbito da fiscalidade verde. Mas o montante disponível para o apoio à aquisição devia ser destinado aos outros 30%: aos particulares”, defende o presidente da UVE.