M. Francis Portela
M. Francis Portela
Investigador
A semana passada, o MAP (Programa de Arqueologia Marítima do Mar Negro) encontrou um dos maiores achados arqueológicos dos últimos anos. Contrariando todas as expectativas, a equipa de trabalho que junta arqueólogos do Reino Unido e da Bulgária conseguiu encontrar o destroço de um navio afundado, que se encontra no fundo do mar há nada menos que 2400 anos.
M. Francis Portela
M. Francis Portela
Investigador

Esta não é a primeira vez que o MAP encontra destroços afundados. Aliás, este projeto já encontrou cerca de 60 embarcações no fundo do Mar Negro nos últimos três anos. Mas nunca se encontrou um navio afundado com esta idade e tão bom estado de conservação. Já tinham sido encontradas embarcações como um navio cossaco do Séc. XVII e algumas embarcações do Império Bizantino carregadas de ânforas. Mas este navio encontrado junto à costa vem da Antiguidade Clássica, e tem uma aparência semelhante à que foi encontrada em pinturas e gravuras, como o Vaso da Sereia, em exposição no Museu Britânico.

Então, como é possível que este navio afundado tenha sobrevivido até agora sem se degradar? A resposta está num fenómeno de poluição que não é uma consequência da revolução industrial, aliás, é um processo natural, mas que tem vindo a intensificar-se desde a década de 1970, com a criação de zonas mortas nos oceanos, em que não existe oxigénio suficiente para os seres vivos habitarem.

Eutrofização acontece naturalmente em massas de água isoladas, como lagos, em que a presença de certos elementos, como fósforo, intensifica a formação de cianobactérias, algas que não podem ser consumidas por animais como alimento e que acabam por consumir todo o oxigénio na água. Este fenómeno tem aumentado até em mares e oceanos, e o Mar Negro, que está isolado das concorrentes oceânicas pelos estreitos de Bósforo e Dardanelos, funciona, na prática, como um lago gigante. A área junto à costa búlgara onde o navio afundado foi encontrado é uma dessas zonas mortas, e foi precisamente a falta de oxigénio que impediu a oxidação dos materiais, preservando-os durante milénios.