Paulo Moura (Europcar): “A grande tendência será o fim da propriedade do automóvel”

30/09/2019

Filipe Amorim / Global Imagens
O tema da mobilidade está na ordem do dia e obriga a que todos os integrantes deste mercado – entre fabricantes automóveis e fornecedores de serviços – alterem muitas das conceções até aqui vigentes. Para as empresas de rent-a-car como a Europcar, as mudanças também se tornam imperiosas, adaptando-se a uma nova época em que a prática de movimentação e de utilização dos automóveis nos grandes centros urbanos se alteram e em que os perfis de utilizadores também começam a ter novas exigências.

Entre as novas tendências, a Europcar, pela voz do seu Diretor Geral, Paulo Moura, aponta o fim da propriedade automóvel particular como uma daquelas que será mais disruptiva, mas não a única. Em entrevista ao Motor24, aquele responsável indica qual o caminho a seguir pela Europcar nos seus projetos em Portugal.

Motor24: O que antevê a Europcar como tendência de mobilidade para o futuro, sobretudo quando se olha para os grandes centros urbanos?

Paulo Moura: A grande tendência será o fim da propriedade do automóvel. As pessoas querem mudar de tipo de veículo de acordo com a conveniência – para um programa em família, mudanças de casa, um fim de semana off-road, uma reunião de trabalho – e, com o ritmo de vida muito exigente, hoje em dia, não querem ter de pensar em manutenção, seguros, burocracia. O cliente quer soluções chave na mão que sirvam as suas necessidades. A Europcar, enquanto referência nacional e internacional, assume cada vez mais um papel importante na organização da mobilidade nas cidades. Procuramos diversificar e disponibilizar cada vez mais uma multiplicidade de soluções de mobilidade para todo o tipo de clientes.

Neste sentido, a Europcar lançou uma série de serviços como o Europcar Longa Duração, uma solução flexível para alugueres superiores a 12 meses, e que, se encontra disponível tanto para clientes empresas como para clientes particulares. O aluguer mensal de scooters, que tem vindo a crescer no mercado nacional, com grande aceitação junto de empresas que necessitam de mobilidade rápida e de particulares com a mesma necessidade. No caso do aluguer de bicicletas, temos cada vez mais procura por parte de turistas. Mas também o Chauffeur Service, uma oferta de veículos de luxo, com motoristas profissionais, disponível para empresas e turistas. Para as empresas, oferecemos os transfers e as deslocações para reuniões, ao turismo oferecemos alguns percursos turísticos bem delineados por um especialista em viagens. Estes são apenas alguns exemplos de soluções de mobilidade que criámos e estão a ser especialmente bem recebidas tendo em conta que foram pensadas para as necessidades das pessoas nas várias situações de deslocação nos centros urbanos.

Filipe Amorim / Global Imagens

Se a este tipo de ofertas, somar as nossas ofertas tradicionais de aluguer de curta duração e, as ofertas também já existentes através de apps para deslocações mais curtas dentro da cidade, conclui facilmente, que o investimento na aquisição de um veículo é mais dispendioso e absolutamente desnecessário.

Motor24: Neste mesmo cenário, como estão a evoluir as operações da Europcar nos últimos tempos, quer a nível nacional, quer a nível europeu?

PM: O Europcar Mobility Group está muito atento à evolução do mercado e, sobretudo, aquilo que sentimos ser as necessidades dos nossos clientes, sejam eles particulares ou empresas. No nosso “core business” tradicional, o aluguer de curta duração, temos feito grandes investimentos que visam uma melhoria significativa de experiência que proporcionamos ao nosso cliente, desde o momento da reserva, através do nosso site, até à conclusão do aluguer. Os investimentos no digital são muito importantes neste processo de transformação. Por outro lado, e, como já referido anteriormente, disponibilizamos uma oferta alargada de produtos de conveniêcia como, o Europcar Longa Duração (12 a 24 mees), o Europcar Média Duração (+ de 30 dias), o aluguer mensal de scooters, o aluguer de Motos de maior cilindrada (BMW), o Chauffeur Service, etc.

O car sharing e o scooter sharing já são uma realidade noutros países europeus e, no futuro, vão ser também em Portugal. Por enquanto, aguardamos o momento oportuno em termos de mercado para o fazer.

Tanto em Portugal como na Europa, somos os líderes de mercado e uma referência em termos de soluções de mobilidade. Essa responsabilidade, dá-nos a motivação necessária para continuar a inovar e procurar novos segmentos de mercado. O Europcar Mobility Group investiu em novos negócios de forma significativa nos últimos, para oferecer novas soluções de mobilidade e para crescer enquanto grupo.

Motor24: Tendo adquirido a Ubeeqo, como se está a desenrolar o plano de entrada em cena deste serviço de Car sharing?

PM: A Ubeego está a ultimar os preparativos para entrar no mercado. Logo que haja notícias mais concretas partilharemos com a imprensa.

Motor24: O aumento do turismo trouxe uma maior taxa de utilização dos serviços da Europcar? Houve uma maior diferenciação entre um tipo de cliente – nacional – e outro – estrangeiro?

PM: Nos últimos anos temos registado um crescimento muito significativo. Sem dúvida que o turismo veio dar uma grande ajuda e, hoje, temos mais turismo ao longo de todo o ano e mais bem distribuído geograficamente. Estes dois factos, foram muito positivos na forma como o turismo evolui nos últimos anos. Mas também tivemos uma evolução muito positiva no mercado nacional. Nos clientes individuais e nos clientes empresa. A Europcar em Portugal tem vindo a ganhar a confiança dos clientes nestes mais de 40 anos de existência no mercado. Temos uma operação que cobre todo o país, com 85 estações. Oferecemos uma frota muito diversificada e, nos últimos anos, temos feito um investimento muito grande nos veículos comerciais, onde a oferta também é muito alargada, desde os carros de frio, furgões, carrinhas com plataforma elevatória, etc.

Motor24: Apesar de se apontar como solução para o congestionamento urbano, o facto de haver mais turistas a recorrer a Car sharing ou ao aluguer não incorre também no risco de aumentar o trânsito nas cidades?

PM: Julgamos que não. A solução para uma maior fluidez no trânsito é criar um ecossistema de transportes que seja adequado à procura. As pessoas têm hoje maior mobilidade na habitação, no trabalho, viajam mais, e procuram diferentes alternativas de mobilidade, de acordo com a idade, a necessidade, a função que exercem e, até a meteorologia. A oferta de soluções de mobilidade tem de ser integrada. Temos de criar soluções que façam com que haja menos carros a entrar na cidade. Também tem de haver novas ofertas de soluções de mobilidade porque as pessoas querem novas alternativas como, por exemplo, as bicicletas, as scooters, as motos, o Car Sharing, o aluguer de viatura com motorista, etc.
“na realidade, ainda não sentimos que os nossos clientes procurem esta alternativa [Os Veículos elétricos] de forma tão efetiva quanto o que é noticiado”.

Lisboa é uma cidade com algum congestionamento ainda por resolver, mas não comparável a cidades com densidade populacional, bem mais elevada, em que o efeito das novas soluções de mobilidade foi flagrante e trouxe uma clara diminuição do trânsito e mais qualidade de vida.

Motor24: Como é que veem o potencial de utilização de novas soluções de mobilidade no âmbito empresarial?

PM: Os empresários já perceberam que há ganhos de tempo substanciais e melhoria na gestão de pessoas e meios, quando recorrem aos serviços da Europcar. Há cada vez mais empresas a recorrer ao rent-a-car. Para além das tradicionais ofertas de curta duração, soluções flexíveis como o Europcar Média Duração, o Europcar Longa Duração, o aluguer mensal de sccoters, o Chauffeur Service, tem tido grande aceitação junto das empresas. A realidade é que o vasto conjunto de ofertas que dispomos, cobre grande parte das necessidades das empresas, evitando terem de recorrer a investimentos desnecessários.
Muito brevemente, vamos apresentar mais uma solução inovadora no mercado nacional que, pela reação dos clientes que já abordámos, acreditamos, terá grande aceitação junto das empresas.

Motor24: A potencial transição do modelo de propriedade privada tradicional abre um novo capítulo para exploração por parte de companhias como a Europcar?

PM: Como referido no início da conversa, julgamos que o fim da propriedade do automóvel é uma das grandes tendências atuais. Sem dúvida que terá um impacto positivo, no crescimento da nossa operação tradicional e nas novas soluções de mobilidade em que temos investido mais recentemente.

Motor24: Como veem a ascensão da mobilidade elétrica e como será integrada no grande ecossistema da mobilidade no geral dentro das grandes cidades?

PM: A mobilidade elétrica é cada vez mais uma realidade e julgamos que vai ser um segmento com algum significado. Mas para isso acontecer, é necessário que haja ainda uma grande evolução. Há necessidade de uma rede de carregamento bastante melhor, quer nas cidades, quer fora das cidades, que acompanhe o aumento de número de veículos elétricos a circular. Os próprios veículos, com certeza, ainda vão ter grandes evoluções. Temos vindo a reforçar a nossa frota elétrica, mas, na realidade, ainda não sentimos que os nossos clientes procurem esta alternativa de forma tão efetiva quanto o que é noticiado.