A manutenção da produção do Panda na fábrica napolitana de Pomigliano D’Arco e o sucesso do 500 – passado e presente – são motivos de orgulho para Gaetano Thorel, atual responsável da Fiat e da Abarth na Europa, que olha para o papel da marca italiana como uma construtora de automóveis acessíveis e joviais.

O Panda foi um dos protagonistas da indústria automóvel na semana passada, com o pequeno citadino da Fiat a ver confirmada a sua continuidade até 2027, revisto com algumas melhorias estéticas e novas competências tecnológicas na área da segurança, essenciais, para se manter em comercialização na Europa a partir de julho, quando entrarem em vigor as novas regras relativas aos sistemas de segurança.

Um dos aspetos mais importantes para o renovado Panda é o facto de assumir o estatuto de único modelo de segmento A da Stellantis com cerca de 3,6 metros de comprimento, cinco portas e cinco lugares, dando-lhe assim um papel muito claro dentro do grupo multimarca.

“Defino sempre as razões pelas quais a Fiat existe dentro da Stellantis. Para mim, existem apenas dois elementos. Um é o da mobilidade urbana, qualquer que seja: o 500 elétrico, o Panda com 3,6 metros, o Topolino… o outro é o dos veículos comerciais, o setor profissional. Assim, dentro da mobilidade urbana, o Panda é o ‘rei’, permitam-me que diga assim, porque tem 3,6 metros, cinco lugares e cinco portas como única oferta da Stellantis”, começa por dizer Gaetano Thorel, justificando a sua visão.

“Imaginem todos os clientes dos [Citroën] C1 e [Peugeot] 108. Eles compraram esse carro, provavelmente, repito, provavelmente, pelo tamanho. Assim, quando precisarem de trocá-lo, ainda precisando de um carro de 3,6 metros, o Panda vai ser a nossa oferta. Sabem, porque ser um Fiat é ser também acessível, mas mais importante agora, com este investimento, este carro é absolutamente incrível de ter na Europa, porque agora temos a tecnologia e a segurança que temos e o carro tem a dignidade, diria, para ser uma oferta credível de 3,6 metros na Europa”, complementa, destacando a importância de manter a produção do Panda na fábrica de Pomigliano D’Arco, junto a Nápoles, no Sul de Itália.

Ao destacar a passagem da produção da Polónia para Itália, em 2011, Thorel recorda a “coragem” do malogrado líder da Fiat Chrysler Automobiles (FCA), naquela que denomina “de decisão socialmente responsável que ele tomou pelo país, pela Itália”. Agora, a fábrica de Pomigliano assegura a produção do Panda até 2027 e, até, um aumento da produção em 20%, naquele que diz ser um claro sinal de compromisso da companhia para com a Europa.

Mais tecnologia útil

Outra competência adquirida agora pelos renovados Panda (e da versão especial de lançamento Pandina) é o aumento das tecnologias de segurança, as quais têm de ser sempre úteis ao condutor e acessíveis, como é o caso do assistente de manutenção de faixa ou o assistente de máximos ou um novo painel de instrumentos digital essencial para estas novas tecnologias.

“O objetivo era fazer um investimento para estender [a vida] do Panda e colocar-lhe toda a tecnologia e segurança que o cliente precisa, nada mais que isso, porque quantas mais coisas são adicionadas o preço passa a ser um problema. Por isso, apenas aquilo que os clientes precisam e utilizam diariamente. Mas, tudo isso, a travagem de emergência, o assistente de máximos ou o reconhecimento de sinais de trânsito foi o motivo por que mudámos o painel de instrumentos, porque se não for suficientemente grande para permitir ver facilmente os sinais de 30 ou de 50 km/h, então a tecnologia não é utilizável”, define este responsável da Fiat. O incremento da tecnologia, insiste, não deve ser feito à custa da acessibilidade do modelo: “é um esforço de grupo e continuamos a trabalhar na acessibilidade. É outro elemento do ADN da Fiat. A Fiat não existe, em específico a família Panda se não trouxer consigo a acessibilidade. É parte do ADN do Panda”.

Eletrificação em crescendo

A família Panda vai crescer nos próximos anos, com a marca a revelar já em junho uma versão 100% elétrica do modelo que irá coexistir com o Panda/Pandina revelados recentemente. No total, serão declinadas algumas versões do Panda, como uma pick-up, um fastback ou um SUV para que exista um modelo para cada tipo de cliente.

Ao falar destes “irmãos e irmãs” que o Panda vai ganhar, Gaetano Thorel escusou-se a avançar grandes detalhes sobre a nova gama que será lançada ao longo dos próximos anos. Ainda assim, revela que “a plataforma é uma plataforma multienergia e precisamos de responder às necessidades dos clientes, pelo que a plataforma pode acomodar sistemas elétricos, híbridos ou térmicos. É a beleza da Stellantis”.

Já quanto à eletrificação, o italiano afirma que está-se a assistir a um momento de transição energética neste momento na Europa, mas que a questão “é que velocidade decorre e quanto tempo demora. Pessoalmente, acredito que, tal como qualquer nova tecnologia, leva algum tempo a tornar-se mais acessível de um ponto de vista do custo. Dou sempre o exemplo das televisões de ecrã plano: quem é que se lembra dos primeiros televisores ‘flat screen’? Eu lembro-me perfeitamente quando passámos das antigas televisões de raios catódicos para os LCD e as primeiras custavam sete ou oito mil euros. E isso não foi há 50 anos, foi há 15 e agora compra-se um televisor de ecrã plano por 300 euros. É apenas uma questão de tempo e de como é que se faz a ponte neste período”.

“Idealmente, se quiserem acelerar a transição é com incentivos governamentais, um apoio para os cidadãos passarem dos carros térmicos para os elétricos. É como uma ponte, mas nesta fase há outros elementos que são importantes: um, claro, é a tecnologia, o outro é a infraestrutura. Por isso, precisamos de tempo para evitar a ansiedade do cliente. E o terceiro é a autonomia. Estas três coisas andam em paralelo, de mão dada. Vai demorar algum tempo, nada mais. Adoro o caso da Noruega, porque abriu o mercado à transição elétrica há 15 anos. Hoje têm 70% de elétricos nas estradas, pelo que [nos outros países] será também uma questão de tempo. Nada mais. Entretanto, temos de oferecer aos clientes, sendo os clientes os reis e sendo esta uma companhia centrada no cliente, a possibilidade de desfrutar da nossa nova família Panda, com a energia ou tecnologia que preferirem”, complementa.

Garante, ao mesmo tempo, que o desenvolvimento dessa nova família do Panda vai já bem avançado, com o primeiro resultado final, o Panda elétrico, a ser conhecido a 11 de julho.

O sucesso do ‘carro que ri’

Questionado sobre o sucesso do 500, agora na sua fase elétrica, Gaetano Thorel confessa-se “surpreendido” com o acolhimento que este modelo tem tido, sobretudo, em mercados nos quais os automóveis locais ditam leis, como na Alemanha.

“Honestamente, é uma verdadeira surpresa. Honestamente, se me perguntassem há dois anos se o 500 elétrico na Europa teria sido o automóvel elétrico mais vendido nos segmentos A+B… Na Alemanha, por exemplo, o 500 elétrico foi o terceiro automóvel elétrico mais vendido. Na Alemanha, a ‘Casa do Automóvel’, temos um Tesla, um BMW e um Fiat. É espantoso”, aponta, antes de revelar a relevância do 500 para a Fiat e a estória do ‘carro que ri’, a qual teve como protagonista o Papa Francisco.

“O lançamento do 500 em 2007 foi algo de inacreditável. Mas este é o poder de um ícone. Quando se tem um ícone é claro que é importante quando se toca e se lê esse ícone para manter as mesmas proporções, o ADN e o espírito. E o 500 era exatamente isso. E, sinceramente, acho que o 500 elétrico também é um sucesso incrível porque manteve o mesmo espírito do 500. E o carro é feito com amor. Sabem o que adoro no 500? Quando olhamos para o 500, sorrimos. Olhamos para o carro e sorrimos. Uma vez levámos o carro elétrico ao Papa, penso que há cerca de dois anos, e o Papa disse-nos ‘quando olho para o carro, sorrio’ e nós perguntámos ‘porquê’? [A resposta foi] ‘Porque o carro sorri para mim’. E é um conceito interessante, mas o carro é realmente feito com todo o amor possível. O novo 500 elétrico é absolutamente feito com amor”.

Falando de ícones e do seu poder para uma marca, Thorel descarta qualquer receita do mesmo género com outros nomes da ‘velha guarda’, como o Uno ou o Punto.

“Não, acho que ser-se um ícone é uma responsabilidade. Por isso, para mim, o 500 é um ícone e o Panda é um ícone. O Renault 5 é um ícone. O Uno é um carro de sucesso por alguns anos. Sim, o Punto é um carro de sucesso por muitos anos. Ser um ícone é diferente. Não lhe chamaria nostalgia, mas sim manter um ícone e modernizar um ícone para a geração futura. É por isso que o 500 é elétrico”, concluiu.

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