Fotos: https://www.instagram.com/marc.holstein/
O primeiro Ferrari conhecido com reais aptidões para o todo-o-terreno chamou-se Jerrari e foi construído na década de 70.

Em 2019, a Ferrari confirmou que iria entrar na corrida ao formato da moda, com o arranque do desenvolvimento do Purosangue, o primeiro SUV na história do construtor de Maranello; o único automóvel no portefólio da Ferrari com reais credenciais off-road.

O que, provavelmente, desconhecia é que, muito antes, em meados da década de 70, já houve quem pensasse em levar o emblema do Cavallino Rampante por maus caminhos…

O primeiro Ferrari para circular fora de estrada foi uma criação de William F. Harrah, um excêntrico milionário que desenvolveu o Jerrari, modelo que resultava da fusão entre dois automóveis: um Jeep Wagoneer e um Ferrari 365 GT!

A Ferrari não o quis fazer

Fã de desportivos e formado em engenharia mecânica, o magnata norte-americano procurava um automóvel de altas prestações com capacidade para evoluir sem sobressaltos por caminhos não asfaltados que ligavam a sua propriedade no Lago Tahoe e as suas empresas, nos arredores de Las Vegas. Formalizou um pedido à Ferrari, que recusou o projeto.
Motor e componentes do Ferrari 365 GT, tração, suspensões e chassis do Jeep Wagoneer, eis o Jerrari

 

Harrah, ainda longe de adivinhar que o seu conceito era, no mínimo, visionário, não desistiu da ideia e avançou teimosamente com o desenvolvimento do carro. Na oficina que detinha numa das suas propriedades, dedicada à manutenção dos caríssimos bólides que integravam a sua coleção privada, arrancou então a construção do Jerrari, a partir de um belíssimo Ferrari 365 GT 2+2 de 1969.

A dianteira e grande parte dos componentes foram aproveitados do desportivo italiano, bem como o motor V12 de 4,4 litros, mas parte da carroçaria, chassis e sistema de quatro rodas motrizes pertenciam a um Jeep Wagoneer de 1970. O trabalho inclui o redesenho dos símbolos da marca de Maranello, substituindo-se o F de Ferrari por um J. E trocando o puro-sangue por um urso animado no logótipo…

0 a 100 km/h em menos de 9 segundos

O motor V12 da Ferrari recebeu as modificações necessárias para a adaptação à tecnologia de quatro rodas motrizes da marca norte-americana, e a caixa de 5 velocidades original do 365 GT foi substituída por uma transmissão de quatro relações da Borg-Warner T-10. O resultado foi tão surpreendente que chamou a atenção dos especialistas da Road & Track, que publicaram o teste que realizaram ao carro em 1971. De acordo com aquele ensaio, o Jerrari acelerava de 0 a 100 km/h em menos de 9 segundo e fazia 210 km/h de velocidade de ponta. Provavelmente, o todo-o-terreno mais rápido do seu tempo!

Harrah morreu em 1978, com 66 anos, perdendo-se o rasto a parte do seu património. O seu Jerrari foi visto pela última vez em 2008, quando um colecionador alemão, Alex Lockmann, o comprou no eBay por pouco mais de 18.000 euros.