Revisão completa na estratégia da Mercedes-Benz para os próximos dez anos. Se nos últimos tempos, o crescimento da marca foi muito focado na gama compacta de automóveis e na multiplicação de modelos, a nova estratégia de crescimento sustentável irá introduzir diferenças substanciais na marca alemã – redução dos modelos com motor de combustão, primazia aos elétricos, fim das caixas manuais, mais vendas digitais, foco nas submarcas e melhoria considerável na área da produção para reduzir custos.

Numa conferência de imprensa virtual apresentada, entre outros, pelo CEO da Daimler e da Mercedes-Benz, Ola Källenius, a visão de progresso da Mercedes-Benz aposta em diversos pontos com a intenção de reduzir custos e aumentar a sua rentabilidade a médio prazo sem prejudicar a imagem de marca Premium.

Entre as medidas que visam a melhoria da eficiência de produção e a redução substancial dos custos de desenvolvimento e de produção, a marca de Estugarda pretende dar primazia aos veículos elétricos – alargando essa intenção também a submarcas como a AMG e a Maybach – numa estratégia que denomina de ‘Electric First 20-22’ e que obriga a um corte drástico nos modelos de combustão interna, o que implicará também reduzir o portefólio de modelos atualmente disponível e acelerar o desenvolvimento dos veículos elétricos, respondendo à procura de mercado.

A primeira ideia lançada pelo líder da Mercedes-Benz passa pelo estabelecimento e cumprimento de seis pilares muito rigorosos para a estratégia da Mercedes-Benz nos próximos dez anos: pensar e agir como uma marca Premium, focar-se na rentabilidade e sustentabilidade das operações, aumentar a base de clientes através do crescimento das submarcas, ‘abraçar’ os clientes e aumentar as receitas com serviços recorrentes, ser líder nos VE e na criação de software e, por fim, baixar o custo de base e melhorar a pegada industrial.

Entre a gama de modelos, a Mercedes-Benz reconhece que a atual panóplia de automóveis introduz complexidade e, com isso, aumento de custos, pelo que um dos seus pontos fundamentais é a revisão da gama. Se nos modelos compactos – Classe A, GLA e afins – não irão existir grandes alterações, já noutros segmentos acima existirão algumas mexidas, como por exemplo a a consolidação de diferentes modelos em gamas únicas: ou cabrios e coupés dos Classe C e Classe S serão alinhados no futuro CLK.

Quanto ao crescimento da base de clientes, a ideia é tornar o crescimento horizontal através das marcas sob o denominador comum da Mercedes-Benz, ou seja, a Mercedes-AMG, a Maybach, a EQ e a gama G. A eletrificação será comum a todas essas, com o primeiro AMG desportivo 100% elétrico a chegar em 2021, o mesmo acontecendo com a Maybach na área do luxo de topo. A juntar a isso, o icónico G, todo-o-terreno que tem vindo a contar com um aumento da procura, também será 100% elétrico.

Confirmado está o desfasamento dos motores de combustão, que já atingiu o pico em termos de investimento, pelo que a partir de agora o investimento será feito maioritariamente em tecnologias elétricas. Neste sentido, surgirá uma nova plataforma, a MEA, que dará origem a uma nova geração de modelos elétricos para uma nova geração.

O EQS será o próximo modelo deste tipo, prometendo já uma autonomia WLTP em redor dos 700 quilómetros, com a marca a manter o rumo no mercado de luxo. Contudo, a gama de modelos 100% elétricos será expandida para seis veículos nos próximos anos, incluindo uma berlina EQE, variantes SUV dos EQS e EQE e ainda dos compactos, os EQA e EQB, igualmente com recurso à nova plataforma de elétricos em 2021.

Rentabilidade como objetivo supremo

A marca reconhece que os seus valores de ponto de equilíbrio no negócio na fase pré-Covid estava a caminho de se tornar incomportável, acabando por tomar uma série de medidas para colocar o ponto de equilíbrio de operações (‘break-even point’) num ponto mais sustentável. Entre as medidas tomadas, a Mercedes-Benz procedeu a uma redução no pessoal (cerca de 3800 saídas no espaço de um ano), naquela que é uma das ‘necessidade’ no sentido de reduzir os custos fixos, algo que se irá prolongar nos próximos anos, com mais saídas, ajuste de capacidade de produção, mais força nas vendas digitais e mudança no marketing e digital.

A marca prevê reduzir em 20% os custos de Pesquisa e Desenvolvimento até 2025, com recurso à primazia dos elétricos, redução de portefólio e retirada da complexidade da gama de veículos. Paralelamente, como já indicado, o investimento de desenvolvimento de motores de combustão foi reduzido substancialmente.

Mas, para os clientes, é na estratégia ‘Electric First 20-22’ que as diferenças da Mercedes-Benz se tornarão mais notórias, com redução do número de variantes com motor térmico (e redução dos seus custos), extinção das caixas manuais, ao mesmo tempo que acentua o desenvolvimento e empenho no desenvolvimento de veículos elétricos. Ao mesmo tempo, o foco na criação de software (salientando-se o acordo de parceria com a NVIDIA) permitirá à marca oferecer serviços paralelos para que os clientes possam ter outra experiência com o seu carro, incluindo atualizações ‘wireless’ e compra de funcionalidades.

No lado da produção, para dar azo a uma redução de 20% nos custos fixos, a marca tem alguns planos já delineados, incluindo a venda da fábrica de Hambach (França) e a concentração de produção em menos locais, de forma a aumentar a eficiência de produção, algo que o novo Classe S já exemplifica. A marca aponta que nas áreas de produção de motores, por exemplo, os responsáveis pelas linhas de produção das unidades de combustão e dos elétricos já trabalham quase a par.

Para Källenius, porém, algo que não será descurado será “o prestígio da Mercedes-Benz”, que terá de ser protegido rumo a uma nova era, terminando a conferência de imprensa, com a duração de quase três horas, com a admissão de que “é uma marca ambiciosa e tenaz para cumprir essas metas”.