Inicialmente, a proposta para a norma Euro 7 relativa às emissões poluentes dos automóveis com motor de combustão previa valores de CO2 bastante apertados, o que obrigava os construtores automóveis a tomar uma de duas decisões no que diz respeito ao setor dos citadinos e utilitários: ou introduzir componentes ainda mais evoluídos que controlassem as emissões poluentes, limitando as prestações dos veículos na condução com um custo bastante elevado, tornando-os bastante caros, ou abandonar, simplesmente, esses segmentos, focando-se nos elétricos, mas ainda sem o valor necessário para se tornarem acessíveis aos cidadãos com rendimentos inferiores.
Porém, com os países da União Europeia a chegarem a acordo para a manutenção dos valores de emissões de CO2 da norma Euro 7 para os automóveis ligeiros de passageiros (alterando-se para os veículos pesados e autocarros), há a possibilidade de os construtores conseguirem atingir baixos valores de emissões mas sem o incremento de custos decorrente da aplicação de novos componentes de limitação de emissões, pelo que os veículos mais acessíveis poderão continuar a ser uma possibilidade no continente europeu.
A questão da concorrência de custos entre o desenvolvimento de tecnologias para os motores de combustão e para os elétricos já havia sido abordada por diversos responsáveis da indústria automóvel, como o CEO do Grupo Stellantis, o português Carlos Tavares, crítico declarado da sua implementação, Oliver Zipse, CEO do Grupo BMW, e até por Spiros Fotinos, CEO da Zeekr Europa, marca apenas de automóveis elétricos, que recentemente, em declarações ao Motor24, disse que diversos custos, relacionados com a segurança e emissões, obrigam a “repensar a questão do carro urbano acessível”.
Mesmo a Dacia, marca declaradamente de custo acessível, mas já afastada do rótulo ‘low-cost’ que teve em tempos, tem visto os preços dos seus automóveis subirem, a reboque da introdução de novas tecnologias a bordo, nomeadamente, das de segurança. O futuro, com a introdução prevista da norma Euro 7 poderia ditar um aumento ainda maior.
“A discussão em torno do essencial é quase como uma doença para nós. A discussão sobre o que temos de manter e o que temos de abandonar. Com o risco… Não é um risco, é um facto conhecido. Com o GSR 2 [NDR: novo conjunto de normas de segurança], com o Euro 7, com as matérias-primas a aumentarem, o custo do automóvel vai aumentar, por isso se continuarem a acrescentar coisas, o carro vai ficar mais caro. Temos de continuar a pensar no que é essencial para os clientes”, afirmou Xavier Martinet, Vice-Presidente para a área do Marketing, Vendas e Operações da Dacia, também em declarações ao Motor24.“Um dos riscos que vemos é que se o mercado continuar a subir assim, algumas pessoas não vão conseguir comprar um carro novo. Mas para todos. E vemos pessoas até provenientes de outras marcas que dizem ‘um C-SUV por 45.000€? Não quero pagar isso’ ou ‘25.000€ por um compacto de segmento B? Não quero pagar isso’. Por isso é que a Dacia está-se a tornar numa alternativa muito interessante e que estamos a trabalhar na imagem para tornar a marca atrativa”, complementou, dando também uma ideia sobre o posicionamento da Dacia.
Esta é uma questão importante para o mercado europeu, sobretudo numa fase em que os elétricos acessíveis não são ainda uma questão comum, já que apenas um fica abaixo dos 25.000€, precisamente, o Dacia Spring, pequeno modelo urbano produzido na China. De resto, a grande maioria das alternativas com motorização elétrica tem um custo acima dos 40.000€, o que não é acessível para a classe média europeia.
Efetivamente, o mercado europeu continua a ser largamente dominado por modelos de segmento B (incluindo os B-SUV), sendo que a única exceção vem da… Tesla, com o Model Y a ser o automóvel mais vendido no primeiro semestre de 2023. Os modelos seguintes demonstram outro cenário, com o Dacia Sandero a ser o segundo mais vendido, seguido pelo ‘português’ Volkswagen T-ROC, produzido na Autoeuropa. Ambos dispensam qualquer assistência eletrificada na motorização.
Nas posições seguintes, mais modelos de segmento mais acessível, com o Peugeot 208 a surgir em quarto, à frente de Opel/Vauxhall Corsa, Renault Clio, Toyota Yaris Cross e Fiat/Abarth 500.
