Mais tecnológicos, mas com custos cada vez maiores, os construtores de automóveis encontram-se numa encruzilhada para a sua sustentabilidade. A eletrificação torna-se obrigatória para o cumprimento de metas anti-emissões na Europa e apela-se à transição energética para que a pegada ambiental associada aos automóveis seja menor. Contudo, tal fará com que os fabricantes enfrentem constrangimentos de grandes dimensões em vertentes tão díspares como a da rentabilidade e da própria responsabilidade ambiental.
Eis cinco pontos que serão desafiantes (e fundamentais) para o setor automóvel em 2021, um ano que se quer de recuperação, mas que não deixará para trás o ‘fantasma’ da pandemia durante muitos meses.
1. Os elétricos vão ganhar importância
Serão em cada vez maior número os elétricos na estrada, a reboque de diversos fatores, como o da necessidade de cumprimento das metas ambientais na Europa, mas também do aumento da procura por parte dos clientes europeus. Recorde-se que no final de 2020, os veículos eletrificados superaram em volume de vendas os automóveis Diesel, num contraste dramático face àquilo que era a norma há somente cinco anos.
2. Os automóveis deverão ficar mais caros
Se aumenta o custo do desenvolvimento de tecnologia para controlo das emissões dos veículos de combustão atualmente à venda, é muito provável que os automóveis novos com motores térmicos passem a ser mais caros.
Essa circunstância não é ainda compensada por um preço acessível dos automóveis elétricos, que permanecem ainda relativamente inacessíveis para muitos condutores, sobretudo os da classe média, que anseiam por modelos familiares a custo mais moderado – exemplos como os dos Renault Twingo ZE e ZOE ou o Fiat 500e são salutares e abrem muitas ‘portas’ para o futuro, mas não são ainda os modelos para famílias, dadas as suas dimensões compactas, extremamente úteis para trajetos urbanos e quotidianos.
3. Híbridos penalizados em Portugal
Contrariando uma tendência europeia, o Governo português decidiu acabar com algumas benesses fiscais para os automóveis híbridos (HEV) e híbridos plug-in (PHEV) em Portugal com o mais recente Orçamento do Estado para 2021. Aceitando uma proposta do PAN, o Executivo liderado por António Costa passou a impor que se acabasse com a redução do Imposto Sobre Veículos (ISV) sobre os híbridos e híbridos plug-in, que era de 40% nos híbridos auto-recarregáveis e de 75% nos híbridos recarregáveis pela tomada (tendo em conta o preço base dos automóveis). Para manterem essa benesse, os automóveis passam a ter de emitir menos de 50 g/km de CO2 e terem 50 quilómetros de autonomia elétrica.
Se para os segundos, a situação é relativamente pacífica pois cumprem, na grande maioria, com os requisitos para a manutenção dos tais benefícios fiscais, para os primeiros, o caso é bem mais penalizadora, pois a norma aprovada não se aplica a nenhum híbrido comum à venda em Portugal. E, sobretudo em segmentos mais baixos que poderiam beneficiar com uma redução das emissões decorrentes da eletrificação – fosse através de sistemas mild hybrid, fosse com bateria e motor elétrico de maiores dimensões –, a tendência será para a penalização em termos de custo. Nalguns casos, como o do Hyundai i20 eletrificado, atendendo ao seu posicionamento de preço mais elevado, o importador optou por nem sequer o comercializar. Marcas como a Toyota ou a Hyundai também já vieram a terreiro criticar de forma feroz esta nova decisão do OE para 2021, apontando para uma posição de regressão face ao que seria desejável em termos de incentivo à eletrificação.
Será por esta conjunção de fatores que os preços dos automóveis novos tenderão a ficar mais altos, permitindo que exista uma não-renovação do parque circulante automóvel, logo com maiores riscos em termos de emissões e de segurança – recorde-se que a idade média do parque automóvel em Portugal ronda os 13 anos, sendo já uma das mais altas da União Europeia.
4. Desportivos em risco
Numa espécie de conjugação de elementos, os automóveis desportivos com motor de combustão tenderão a ficar em risco de desaparecimento. Os seus custos em termos de contabilização de média de emissões para a gama de cada fabricante tenderão a ser cada vez menos rentáveis, sobretudo atendendo a que a partir de 2021 os construtores terão de fazer a média de emissões de CO2 a toda a sua gama (em 2020, apenas contavam 95%, o que permitia colocar nos demais 5% os veículos mais poluentes).
5. Passos de gigante
Atendendo às novas exigências na Europa, haverá uma tendência para racionalizar custos e lançamentos, o que quer dizer que modelos de contexto emocional poderão dizer ‘adeus’ do contingente das marcas. Havendo a obrigatoriedade de se lançarem mais elétricos e mais depressa, a parceria entre marcas vai ser mais apertada.
No início de 2021, dar-se-á mais um grande passo na racionalização de custos com a criação do quarto maior grupo mundial de automóveis, a Stellantis, que resultará da fusão entre os Grupos PSA e FCA. Esta será uma fórmula que permitirá aos construtores manterem a sua vida na Europa, enquanto promovem o desenvolvimento conjunto de tecnologias cada vez mais dispendiosas, como as de condução autónoma, conectividade avançada e bidirecional ou novos conceitos de propriedade.
