Ao contrário daquilo que sucedeu nos últimos anos na indústria automóvel, com a maioria dos fabricantes a sentirem-se obrigados a apanharem o “comboio” da eletrificação – sobretudo por causa da Tesla –, para produzirem automóveis 100% elétricos, o mesmo não aconteceu com os motociclos.

É verdade que surgiram imensas propostas na forma de trotinetes, e scooters elétricas como alternativas para a mobilidade urbana. Mas para quem quisesse trocar a sua moto de combustão por uma alternativa totalmente elétrica, sobretudo os motociclistas que gostam de viajar, não existiam grandes opções no mercado até agora.

Fundada em 2014 na cidade italiana de Modena, a Energica não receia desafiar os preconceitos em relação a este tipo de veículos elétricos. Começou por desenvolver a tecnologia há mais de dez anos, e não só fabrica motos totalmente elétricas altamente sofisticadas, como foi a primeira marca a fornecer motos para o campeonato mundial de MotoE até ao final de 2022. Na época de 2023 passou a ser a Ducati a fazê-lo.

O modelo Experia, é, segundo a marca uma “green tourer”. O seu estilo de aventura, embrulha convenientemente o pacote tecnológico na forma do motor e bateria, desenvolvidos a partir da experiência adquirida no MotoE e nas motos de estrada.

a bateria tem uma capacidade semelhante às que equipavam os Renault Zoe da primeira geração: 22.5 kWh

A conceção desta aventureira exigiu uma plataforma desenhada de raiz. O novo quadro em treliça de aço tubular alberga o recém-criado motor de imane permanente, mais leve e compacto, que apesar da sua eficiência térmica melhorada, continua a ser refrigerado por líquido – tal como o inversor –, e lubrificado por óleo. A bateria, também é nova e foi reposicionada de forma a obter um centro de gravidade mais baixo e uma melhor distribuição de peso. Tem uma capacidade aproximadamente igual às que equipavam os Renault Zoe da primeira geração: 22.5 kWh (19.6 kWh efetivos). É a maior que encontramos atualmente numa moto elétrica de produção, e a marca estima ser possível obter até 420 quilómetros de autonomia em cidade; 250 km em percurso combinado; e 209 km em extra-urbano.

Quando chega a altura de carregar a bateria, é bom saber que neste aspeto o processo é semelhante ao que encontramos num automóvel elétrico atual, ou seja: não há surpresas com fichas ou tomadas de carregamento proprietárias. Todas as motos Energica utilizam tomadas de carregamento CSS Tipo 2, adotadas globalmente pela rede de carregamento e fabricantes de automóveis. Assim, é possível tirar partido de uma wallbox em casa, e carregar em nível 2 até ao máximo de 3 kW demorando cerca de sete horas do zero até cem porcento, ou num carregador público até ao máximo de 25 kW em apenas 20 minutos dos 20% aos 80%. A Energica dá uma garantia na bateria de três anos ou 50 mil quilómetros. O que acontecer primeiro.

Se as estimativas de autonomia divulgadas pelos fabricantes de veículos de combustão costumam ser otimistas, nos elétricos também é verdade que, em princípio só se conseguem os valores anunciados em condições muito especiais. Durante o primeiro dia do nosso teste não nos preocupámos com consumos, e com uma condução entusiasmada obtivemos 15,4 kWh de média com a Experia. Tendo em conta o tamanho da bateria carregada a 100%, daria para cerca de 127 quilómetros. É um valor que está bem abaixo do indicado pela marca para qualquer uma das estimativas, mas nos dias seguintes, já com o entusiasmo moderado no punho direito, foi possível baixar o consumo para 9,9 kWh e cerca de 198 quilómetros de autonomia. Mais perto dos 200 km indicados pelo fabricante em percurso extra-urbano.

A ergonomia está bem conseguida, apesar de o assento estar a 846 mm de altura. Pode ser um problema para condutores inexperientes de baixa estatura, sobretudo quando é preciso manobrar os seus 260 kg. Como solução para essas situações, a Energica equipou a Experia com um sistema que permite realizar as manobras para a frente e para trás a uma velocidade muito reduzida, para quando se está a parquear ou a sair do lugar.

Em andamento, a Experia é uma moto extremamente confortável e até custa acreditar que pesa 260 quilos, pois não se fazem notar. Mesmo em andamentos a ritmos mais elevados, a Experia demonstrou uma grande agilidade a curvar. A suspensão totalmente ajustável e o amortecedor com regulação da extensão e pré-carga, ambos ZF Sachs vinham com uma afinação firme, mas lidaram com todo o tipo de pisos em que rodamos sem prejudicar o conforto.

O motor da Experia produz 115 Nm de torque instantâneo. a Suzuki Hayabusa tem no máximo 150 Nm com um motor com 1300 cc

As especificações, que podem parecer algo modestas no papel: apenas 80 cv, atingindo os 100 cv em picos de potência; e a velocidade máxima limitada aos 180 km/h, contrastam com o seu desempenho. O motor da Experia produz 115 Nm de torque instantâneo, catapultando-a dos 0 aos 100 km/h em 3,5 segundos. Por comparação a Suzuki Hayabusa tem um binário máximo de 150 Nm com um motor com 1300 cc. Qualquer ultrapassagem é feita rapidamente e em segurança, mesmo viajando com passageiro atrás.

Dominar a potência desta moto não seria tarefa fácil sem a preciosa ajuda da eletrónica, e neste aspeto vem com um pacote muito completo. Apesar da boa visibilidade, gostaríamos que o painel de instrumentos com 5 polegadas TFT fosse um pouco maior. Nele é possível escolher quatro modos de condução: (Eco, Urban, Rain, Sport), mais três modos personalizados e parametrizáveis pelo utilizador. Existem também 4 níveis de travagem regenerativa, 6 níveis de controlo de tração e ainda o cruise control.

Rodámos maioritariamente nos modos Urban e Sport, experimentando entre os níveis de controlo de tração, que tivemos oportunidade de ver em ação ao passar nas listas de uma passadeira para peões. Mas também qual a dose de travagem regenerativa, para concluir que no máximo, tem quase o mesmo efeito do travão do motor de uma bicilindrica com 800 cc. Ainda no capítulo da travagem, a tarefa de parar este míssil com 260 kg está a cargo do sistema Brembo de duplo disco flutuante, com 330 mm de diâmetro e por pinças de 4 pistões de montagem radial na frente. E um disco de 240 mm e pinça de dois pistões na traseira. Realçamos que a Experia está equipada com o auxiliar de travagem em curva ABS Cornering, controlado pelo sistema Bosch 9.3MP.

A Energica prova que tal como nos automóveis, também é um fabricante de fora do meio que toma a liderança nas motos elétricas

Com a Experia, a Energica prova que tal como nos automóveis, também é um fabricante de fora do meio que toma a liderança ao apresentar uma moto com a qual se pode viajar. Mas é impossível não falarmos no seu custo que à partida é elevado: são 29 213 euros, e por este valor a concorrência oferece mais tecnologia, como suspensão semi-ativa e até radar. No entanto experimentando alguns simuladores online, conseguimos por exemplo chegar aos 29 500 euros para uma R 1250 GS Adventure. É certo que a Experia não tem as capacidades para fora de estrada da BMW, mas também não terá as mesmas necessidades em termos de manutenção. É tudo uma questão de perspetiva.

Ficha técnica:

  • Energica Experia
  • Motor: Elétrico Permanent Magnet Assisted Synchronous Reluctance Motor (PMASynRM)
  • Potência: 80 cv / 60,0 kw
  • Pico/RPM: 102 cv @7500 rpm
  • Binário: 115 Nm
  • Transmissão: Automática
  • Altura do assento: 847 mm
  • Capacidade bateria: 22,5 kWh
  • Peso: 260 kg
  • Pneu dianteiro: 120/70 ZR17
  • Pneu traseiro: 180/55 ZR17
  • Suspensão dianteira: ZF Sachs 150 mm curso ajustável
  • Suspensão traseira: ZF Sachs 150 mm curso ajustável extensão e pré-carga mola
  • Travão dianteiro: Brembo hidráulico, 330 mm discos flutuantes pinças 4 êmbolos ABS
  • Travão traseiro: Brembo disco 240 mm pinça duplo embolo ABS
  • Preço: 29 213 euros
  • Garantia: 2 anos moto – 3 anos / 50 000 km bateria
  • Capacidade malas: 112 litros

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AVALIAÇÃO
Qualidade geral
9,5
Prestações
10
Ergonomia
9,5
Segurança
9,5
Condução
9,5
Consumos
8,5
Preço/Equipamento
8