Vamos a um pouco de história primeiro: A Alpine foi criada em 1954 por um entusiasta do desporto automóvel francês, (Jean Rédélé) que começou a vencer provas com o Renault 4CV, um dos poucos carros franceses construídos a seguir à segunda guerra mundial.

 

As duas marcas tiveram desde então uma ligação muito forte, tendo a Renault adquirido a Alpine na década de 1970. Os frutos não tardaram a chegar, e em 1973 vence o campeonato do mundo de ralis com vitórias em Monte Carlo e em Portugal, entre outros. Já em 1978, Didier Pironi é um dos pilotos que leva à vitória o sport protótipo A442 nas 24 Horas de Le Mans.

Infelizmente, o insucesso comercial dos modelos produzidos entre 1985-90 determina o fim da sua produção. O modelo A610 teria ainda destaque nas mãos do controverso Jeremy Clarkson no conhecido programa Top Gear em 1992. Clarkson ainda voltaria a usar um A610 no seu DVD, “Supercar Showdown” de 2007, acabando por destruí-lo contra uma barreira de cimento, não sem antes o criticar, no seu estilo inconfundível.

a virtude do A110 S não está na potência da motorização, mas sim no baixo peso do conjunto

Regressado em 2016, o novo Alpine recupera o espírito do seu percursor da década de 1960. É um verdadeiro desportivo de dois lugares com motor central traseiro, cuja virtude não está na potência da motorização, mas sim no fenomenal chassi, e no baixo peso do conjunto. São cerca de 1114 quilos na versão S, conseguidos à custa da utilização de muito alumínio e carbono. Uma grande parte do peso está no eixo traseiro, por isso tem uma frente muito leve e um comportamento muito caraterístico, que desafia algo proposto ali para os lados de Estugarda, na Alemanha (Porsche Cayman?).

O esforço para a redução de peso torna-se quase obsessivo quando os engenheiros optam por eliminar as pinças extra nas rodas traseiras para o travão elétrico de estacionamento, que passa a funcionar no sistema de travagem principal. Só isto poupa 2,5 quilos. Outro exemplo são os bancos da marca Sabelt, que pesam metade dos Recaro utilizados no Renault Megane RS, e poderíamos continuar a dar exemplos pois a lista continua.

O pequeno motor com 1800 cc sobrealimentado, não deixa ninguém imediatamente eufórico. Debita uns “modestos” 300 cv, no entanto, revela-se suficiente para uma verdadeira experiência de condução em estrada de montanha, a fazer lembrar o antigo rali Tap Portugal ao passarmos pela serra de Sintra.

 

 

A altura do A110 S ao solo pode ser uma condicionante para quem tenha “problemas nas costas”, a posição de condução é muito baixa, mas permite estabelecer uma comunicação com a estrada difícil de encontrar na maioria dos automóveis. O volante tem um excelente tato e a caixa Getrag de dupla embraiagem comandada quer pelas patilhas fixas na coluna de direção, ou nos botões da consola, tem um funcionamento irrepreensível.

o Alpine é capaz de “devorar” curvas, com uma agilidade desconcertante

Conduzido de forma mais efusiva, o Alpine é capaz de “devorar” curvas, com uma agilidade desconcertante. Nestas condições verificamos que a quantidade de tração disponibilizada pelos pneus Michelin Pilot Sport 5 parece não ter limite. Aqui, o kit aerodinâmico em carbono – formado por um difusor dianteiro, o fundo plano e um aileron traseiro – também dará alguma ajuda, apesar de o valor máximo de força descendente de 141 quilos ser obtido apenas à velocidade máxima, que nesta versão do A110 S é de 275 km/h. Está sempre à vista, e quando circulamos no dia-a-dia serve apenas para chamar a atenção. Função que cumpre na perfeição a avaliar pela quantidade de pessoas que nos abordaram com curiosidade.

É possível viajar com o A110, desde que se seja frugal na bagagem. Os 100 litros da bagageira na frente dão à justa para duas malas de cabine no formato mais pequeno, e na traseira há um pequeno compartimento com 96 litros onde cabem mais duas pequenas mochilas. O problema é que por estar mesmo colado ao motor, este espaço aquece muito, por isso há que ter cuidado com o que se vai lá guardar. No interior a falta de espaço mantém-se, onde não existe um guarda-luvas, mas há uma pequena bolsa de pele no painel traseiro entre os bancos, para a carteira, chaves e pouco mais, já o smartphone pode ser colocado num pequeno espaço na consola central, que parece ter sido criado para esse propósito.

Falta de espaço à parte, no interior é percetível o investimento em materiais de qualidade como é o caso dos bancos, volante, o design da consola central e o sistema de som da marca de alta-fidelidade Focal, também ela francesa e com uma vasta experiência em som para o mercado automóvel. O sistema de infoentretenimento, para além das fucionalidades já habituais, disponibiliza a função de telemetria, que permite gravar todos os dados do desempenho do Alpine. Muito útil para quem gosta de ir fazer trackdays em pista.

O A110 S é um automóvel desportivo que proporciona uma experiência de condução pura e muito gratificante, sem sacrificar algum conforto, necessário para uma utilização diária.

Ficha técnica
  • Motor: 4 cilindros em linha turbo 1798 cc
  • Posição: central traseira
  • Potência: 300 cv
  • Binário: 340 Nm
  • Transmissão: traseira
  • Pneus dianteiros: 205/40 R18
  • Pneus traseiros: 235/40 R18
  • Travagem traseira: Discos Ventilados (320mm)
  • Travagem dianteira: Discos Ventilados (320mm)
  • Caixa de velocidades: 7 vel. Getrag
  • Peso: 1114kg
  • Vel. máxima: 275 km/h
  • Aceleração: 4,2 segundos
  • Consumo: 6.9 Litros/100 km WLTP ciclo combinado
  • Equipamento: Bancos Sabelt, Sistema de Infotainment com telemetria, Acabamentos em carbono, Jantes 18 polegadas, Cruise-control, Ar-condicionado automático, Airbags, Cruise control adaptativo, Sistema de câmaras 360º.
  • Preço da unidade ensaiada: 100 200 euros

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AVALIAÇÃO
Qualidade geral
9,5
Prestações
10
Ergonomia
9,5
Segurança
9,5
Condução
10
Consumos
9
Preço/Equipamento
9
Espaço
7,5