Desenhar um automóvel também conta uma história – e quando nos sentamos ao volante, raramente conhecemos o que está neste imaginário.
Texto: Bruno Contreiras Mateus
A Alpine inspirou o nome da marca, preparada para competição, nas estradas dos Alpes franceses, onde muito se divertiu o seu fundador, Jean Rédélé, nas corridas ao volante de um Renault 4CV. É neste cenário glaciar que, 69 anos depois, surgiu inspiração para o interior do A390_β, o primeiro 100% elétrico fastback desportivo da Alpine.
Mas antes de irmos ao exterior deste protótipo, que já corresponde entre 80% a 85% ao que será a versão de produção, vamos desfilar pelo interior, que esse sim é puramente conceptual. Mas é aqui que está a história para contar.
Abrindo as portas laterais, em posição diametralmente oposta e sem pilar central, o interior monocromático divide-se entre a parte negra que representa o mineral afiado que contrasta com a brancura da neve e as transparências do gelo. É como se o carro estivesse assente numa base vulcânica, uma espécie de prolongamento do aspeto dinâmico do exterior, onde assentam depois os Alpes gelados, de uma suavidade extrema, que representam os bancos.
A dupla posição de condução, estilo cockpit, e o volante, também inspirado na Fórmula 1, são centrais no interior. Quando se clica no botão F1, salta da posição lifestyle para a de corridas, os pedais levantam e o banco do condutor rebaixa e torna-se mais envolvente, e o volante adquire o formato de um autentico Fórmula 1. O painel de instrumentos disposto triangularmente ajusta a informação ao grau de importância, da frente para trás.
Mas não é só o interior que se transforma quando se carrega no botão F1, o motor entrega toda a potência instantaneamente com um simples toque no pedal, proporcionando uma experiência de condução no limite da adrenalina.
Para contrastar com o mundo de emoções que se vive ao volante, sentado neste autentico cockpit de F1, no banco de trás reina o conforto, disposto num suave manto branco que parece levitar no chão.

A marca francesa explica que “o futuro fastback desportivo da Alpine será projetado para ser totalmente elétrico, baseado numa versão fortemente modificada da plataforma AmpR Medium, da Ampere, que é dedicada a motores elétricos. Esta plataforma oferece grande flexibilidade, permitindo aos engenheiros da Alpine fazer as adaptações necessárias para criar um fastback desportivo. As baterias serão posicionadas sob o habitáculo para manter o centro de gravidade o mais baixo possível, melhorando a estabilidade e o comportamento em estrada. Além disso, o piso plano otimiza o espaço interior, proporcionando a todos os passageiros uma maior sensação de amplitude em comparação com veículos equivalentes movidos a combustão”.
O que o exterior transpira é precisamente a sensação de velocidade, de estarmos perante um desportivo futurista (o que marca bastante o design da maioria dos carros elétricos). O A390_β é decididamente destinado a apaixonados por carros. Aos entusiastas de carros desportivos que procuram também conforto para o dia a dia. Ainda que aqui se note a transição no desenho da marca, a Alpine não abandona o ADN desportivo, de autênticos veículos de performance, enfatizou Fabrice Izzillo.

Por fora, a pintura “Bleu Specular” do A390_β parece mudar de tom de azul a cada deslizar em velocidade do carro. As jantes foram inspiradas em velozes patins em linha para o gelo, o que transmite uma sensação dinâmica ainda maior. E os logos Alpine iluminados, num tipo de letra de inspiração alienígena, acrescentam o caráter da marca. E ainda triângulos iluminados chamados ‘Cosmic Dust’, no para-choques à frente e atrás, remetem para um cometa a entrar na atmosfera terrestre.
O A390_β fará a sua estreia mundial no Salão Automóvel de Paris, de 14 a 20 de outubro de 2024. Este pode muito bem ainda ser um protótipo, mas o futuro A390 será produzido na fábrica de Dieppe, em França, nas origens da Alpine, já a partir do próximo ano.