Os proprietários de automóveis elétricos mais modernos, aproveitaram o carregamento bidirecional e estão a manter as coisas a funcionar em casa, apenas com recurso à bateria do carro.
O The Atlantic conta o caso de Dustin Baker, um morador de Charlotte, na Carolina do Norte, que ficou sem eletricidade. Proprietário de uma Ford F-150 Lightning, Baker ligou extensões elétricas ao seu carro e utilizou a bateria para manter o frigorífico e o congelador a funcionar e conta: “Passei outra extensão para o meu vizinho, para que ele pudesse ligar os dois frigoríficos que tem.
Com a tecnologia de carregamento direcional (V2L), os veículos elétricos podem alimentar aparelhos que funcionem a eletricidade, tendo energia suficiente para alimentar uma casa inteira durante vários dias.
“Perdi um total de cerca de 7% da capacidade da bateria”, disse Baker. “Fazendo as contas, calculei que poderia ter quase duas semanas de funcionamento do meu congelador e frigorífico.”No rescaldo do furação Helene, o Atlantic conta ainda o caso de uma clínica veterinária que usou a energia de um F-150 elétrico para alimentar os frigoríficos e assim manter os medicamentos frios para poder continuar a atender os pets doentes durante o apagão.
Os automóveis elétricos mais populares entre os norte-americanos, os Tesla Model 3 e Model Y, não suportam carregamento bidirecional.
Drew Baglino, vice-presidente da Tesla para Engenharia de Grupos Motopropulsores e Energia, disse o ano passado não se ter tratado de uma decisão pensada: “Simplesmente não era uma prioridade na altura”, mas em 2025 o carregamento bidirecional chegará aos Model 3 e Model 5.
Mas a Cybertruck já oferece essa tecnologia, e o proprietário de uma tem utilizado a pickup para alimentar toda a sua casa durante o apagão.
Com tudo ligado, Courtney constata que, ao fim de 24 horas, a bateria do seu Cybertruck desceu de 99% para 80% da sua carga.
Como a nova geração de veículos elétricos vem equipada de série com carregamento bidirecional, esta caraterística pode tornar-se uma parte importante do argumento a favor da utilização da eletricidade numa zona dos Estados Unidos que é frequentemente alvo de fenómenos meteorológicos extremos.
O carregamento bidirecional pode mesmo vir a tornar-se a arma secreta para que a eletrificação avance no Sul dos Estados Unidos, que, de um modo geral, tem ficado muito atrás do Oeste e do Nordeste em termos de aquisição de veículos elétricos.
Se os EV passarem a ser percecionados como a melhor opção para os apagões, poderão atrair não só as pessoas preocupadas com o clima, mas também os cidadãos suburbanos do país dos furacões, que acreditam que é preciso estar preparado para tudo.
Antes da passagem do furacão, o Governador da Florida alertou os proprietários de automóveis elétricos de que houve casos, embora raros, de veículos que arderam após tempestades.
A própria Tesla aconselhou que os carros submergidos devem ser rebocados para pelo menos 15 metros de distância de estruturas ou de qualquer combustível até que possa ser inspecionado por um mecânico.
Os avisos foram emitidos na sequência do furacão Ian, que atingiu os Estados Unidos há dois anos, comprometendo as baterias de cerca de 5.000 veículos elétricos. Desse total, 36 deles incendiaram-se, o que corresponde a menos de 1 por cento dos veículos afetados.
“Se a água salgada conseguir preencher a lacuna entre os terminais positivo e negativo da bateria, pode causar um curto-circuito”, disse Tom Barth, que é chefe da secção de investigações especiais do gabinete de segurança rodoviária do NTSB, em declarações à ABC News.