Campeão num Ferrari azul e branco

15/01/2024

POR BRUNO MACHADO

Imaginem a Fórmula 1 sem os monolugares vermelhos da Scuderia Ferrari. Agora já não o conseguimos mas em 1964 o Rosso Corsa da equipa de Maranello, a única equipa italiana que ainda resistia à chegada dos “garagistas”, estava prestes a desaparecer a duas corridas do final do campeonato de Fórmula 1 daquele ano!

Depois das críticas ouvidas na sequência da homologação, dois anos antes, do Ferrari 250 GTO (“O” de Omologato), a CSI (atual FIA) tinha recusado a homologação do “novo” 250 LM na categoria GT, tal como era pretendido pela Ferrari.

Considerando que a federação italiana (ACI) não tinha dado o devido apoio à sua marca no litígio com a CSI, Enzo Ferrari, furioso, decidiu cortar relações com as autoridades italianas do automobilismo. Isto implicava que a equipa deixaria de correr com licença italiana, e numa época em que as cores dos veículos de Fórmula 1 eram definidas pela nacionalidade da equipa (e não pelos patrocinadores), tal significava que os monolugares da Maranello deixaram de ser vermelhos.

Se alguns apaixonados, na altura, não acreditavam em tal cenário a verdade é que o Commendatore manteve-se firme e à chegada no circuito de Watkins Glen, ninguém viu os monolugares vermelhos da Scuderia. No entanto, os pilotos da equipa, John Surtees e Lorenzo Bandini, estavam efetivamente inscritos, mas agora como pilotos da equipa privada NART (North American Racing Team), que fazia correr o 158 F1, e que era dirigida por Luigi Chinetti, um importador norte-americano da Ferrari.

Correndo agora por conta de uma equipa norte-americana, os pilotos Surtees e Bandini passaram a pilotar um monolugar azul e branco. Pelos vistos isso não distraiu o piloto britânico, que acabou em segundo lugar, atrás de Graham Hill, mantendo assim as suas chances para o campeonato.

No Grande Prémio seguinte, no México, as relações entre o Commendatore e as autoridades italianas ainda não estavam pacificadas. Assim sendo, foi novamente de azul e branco que John Surtees lutou pelo título, contra Graham Hill e o campeão em título, Jim Clark.

Numa corrida cheia de sobressaltos, vencida por Dan Gurney, John Surtees terminou em segundo lugar, o suficiente para se sagrar campeão do mundo de Fórmula 1, depois de já ter sido campeão do mundo em motas, um feito único na história da Fórmula 1.

Por seu lado, Enzo Ferrari acabou por resolver os seus desentendimentos com a ACI, fazendo com que a Scuderia regressasse às pistas com os seus monolugares vermelhos que podemos ver até aos dias de hoje.