Cidade alemã retira autocarros a hidrogénio de circulação… por falta de espaço na garagem

04/01/2023

Cidade alemã retira dez autocarros a célula de combustível de hidrogénio, depois de ter recebido mais de €5M das autoridades.

A cidade alemã de Wiesbaden vai retirar os seus dez autocarros de célula de combustível movidos a hidrogénio – um ano depois de terem sido entregues pela portuguesa Caetano à transportadora ESWE Verkehr – isto depois do posto de abastecimento de 2,3 milhões de euros da empresa pública de transporte ter alegadamente sofrido uma avaria.

Segundo o jornal Frankfurter Allgemeine, o posto de reabastecimento “não está mais em operação devido a um defeito”.

Oficialmente, o conselho de administração da empresa limitou-se a informar o conselho fiscal, presidido pelo responsável pelos transportes da câmara municipal, da sua intenção de acabar com o seu programa de hidrogénio.

Mas as reais razões não são conhecidas, podendo ser outras, destaca a publicação Hydrogen Insight, pois, na comunicação, não são mencionados os problemas com o posto de abastecimento de hidrogénio.

E as afirmações que constam do comunicado de imprensa da ESWE são bastantes estranhas, pois, a serem verdade, sugerem um inusitado amadorismo na gestão (pouco crível), pois deixam acreditar que esta aquisição da frota de hidrogénio poderá ter sido feita sem qualquer estudo prévio sobre o tipo de veículos necessários para a operação.

A ESWE terá descoberto agora que os autocarros são muito pequenos para atender à procura – “são necessários bus com maior capacidade de passageiros” – e que ter “duas tecnologias de acionamento na nossa infraestrutura de oficina já é muito exigente”.

Os autocarros a hidrogénio da ESWE Verkehr foram comprados ao fabricante português Caetano. O primeiro bus com célula de combustível foi entregue à ESWE Verkehr no terceiro trimestre de 2021, com os outros nove veículos a seguirem para a Alemanha até ao final do ano.

Os veículos foram financiados por € 1,95 milhão da Clean Hydrogen Partnership da UE e € 1,68 milhão do governo alemão, enquanto mais de € 2 milhões de financiamento seguiram para o posto vindo dos estados alemães de Hesse (onde Wiesbaden está localizado) e do estado vizinho Renânia-Palatinado (por ser um projeto conjunto com a cidade de Mainz).

A empresa alega ainda falta de espaço, acrescentando que, “no longo prazo, os autocarros articulados elétricos a bateria e alguns bus articulados duplos serão adquiridos na segunda metade desta década – desde que a ESWE Verkehr tenha uma área de espaço [na garagem] adicional disponível.”

A empresa explica no comunicado de imprensa: “O realinhamento da estratégia de frota do fornecedor de serviços de mobilidade prevê a remoção de mais autocarros individuais de doze metros de comprimento da frota: um total de 61 veículos Diesel e dez autocarros com célula de combustível”.

A ESWE irá, portanto, adquirir 36 novos bus articulados Diesel “para os anos de 2022 a 2024” – porque “atualmente não existem autocarros com os chamados acionamentos alternativos no mercado”. “Com quase 19 metros, eles serão quase um metro mais compridos que os bus articulados anteriores e terão quatro portas”, afirma a empresa.

O DIRETOR-GERAL DA ESWE-VERKEHR, JAN GÖRNEMANN, DIZ: “ESTAMOS A DAR UM PASSO ATRÁS NUM CAMINHO PARA DAR DOIS PASSOS À FRENTE NOUTRO CAMINHO”.

“Com 120 veículos elétricos a bateria, a ESWE Verkehr já opera uma das maiores frotas de autocarros com emissão zero na Alemanha. Somente em Hamburgo a frota de autocarros elétricos é maior atualmente. No entanto, a espinha dorsal é atualmente formada pelos [nossos] 130 bus articulados a gasóleo”, diz Jan Görnemann.

O facto é que para implementar este projeto, a transportadora recebeu mais de €5M das autoridades alemãs e europeias, desconhecendo-se agora as implicações deste volte-face e se a ESWE Verkehr terá de efetuar alguns reembolsos.

A notícia chega duas semanas depois dos políticos da cidade alemã de Duisburg – a 225 km de distância de Wiesbaden -terem aprovado uma verba de 91 milhões de euros em 100 autocarros a hidrogénio para substituir a sua frota existente Diesel até 2030.

Uma das hipóteses para o abandono do projeto diz respeito a custos, até porque, em janeiro de 2022, a cidade francesa de Montpellier cancelou uma encomenda de 51 autocarros fuel cell depois das autoridades recém-eleitas descobrirem que os bus elétricos seriam seis vezes mais baratos de operar.

Em sentido contrário, porém, a cidade de Frankfurt, que fica a 40 km de Wiesbaden, diz estar satisfeita com os 13 autocarros fuel cell que vem testando desde outubro e planeia colocar mais de 120 bus movidos a célula de combustível nas suas estradas dentro de dez anos, declara o Frankfurter Allgemeine.