Combustíveis de baixo carbono querem alistar-se na guerra da descarbonização

16/03/2022

Nova plataforma apresentada, hoje, em Lisboa, reúne oito organizações da cadeia de valor do setor e defende os combustíveis de baixo carbono como alternativa aos veículos elétricos na batalha pela descarbonização dos transportes.

A meta é a descarbonização total dos transportes em 2050. A Plataforma para Promoção dos Combustíveis de Baixo Carbono (PCBC), apresentada, hoje de manhã, em Lisboa, concorda em pleno com o “destino”, mas acredita que existem outros caminhos para o alcançar, além da eletrificação dos veículos. Quais? Através da via alternativa dos biocombustíveis e combustíveis sintéticos, contemplados na nova plataforma que, para já, reúne oito organizações portuguesas que operam na cadeia de valor dos combustíveis: ABA, ACP, ANAREC, ANECRA, APETRO, APOREB, APPB e EDIP. Numa altura em que o preço dos combustíveis dispara devido à guerra na Ucrânia, a PCBC quer alistar-se no combate pela neutralidade carbónica.

António Comprido, presidente da APETRO, foi o primeiro a usar da palavra e fez questão de sublinhar o carácter “inclusivo” de uma plataforma que quer “fazer parte do processo”. Mas, segundo explicou, seria desejável que “não se endeusassem determinadas soluções (como os veículos elétricos) e se diabolizassem outras, como os combustíveis de baixo carbono”. Uma alternativa com “muitas vantagens” e que carece de “regulamentação para poder chegar ao mercado a preços acessíveis aos cidadãos”.

Endeusar vs diabolizar

O mote estava dado. E António Comprido passou a explicar as vantagens desta solução alternativa. Desde logo, recorrendo ao facto de esta poder ter efeitos imediatos, uma vez que pode “aproveitar as infraestruturas existentes e não obriga as pessoas a mudar de veículo”. Apesar de o número de vendas de veículos elétricos estar em pleno crescimento, “colocado em perspetiva com o atual parque automóvel”, será ainda um processo lento rumo ao objetivo europeu da descarbonização em 2050.

Na mesma linha de raciocínio, João Mendes Dias, da ACP, complementou o quadro do atual parque automóvel nacional. Segundo revelou, a média de idade, em Portugal, “é de 13,2 anos – 12% mais elevada do que a média europeia”. Mas não só: “62% dos veículos tem mais de 10 anos, o que corresponde a 3,3 milhões de automóveis”.
Os combustíveis de baixo carbono conseguem reduzir as emissões de carbono, nomeadamente os biocombustíveis, em cerca de “83% quando comparados com os combustíveis fósseis

Uma realidade ainda muito distante do número de veículos elétricos a circular nas nossas estradas. “Não chegam a 50 mil”. Isto num universo circulante “próximo dos 6,5 milhões de veículos”. O crescimento dos veículos híbridos e elétricos tem sido “considerável”, sobretudo, desde 2020. Contudo, “existem 77 municípios onde, atualmente, não se encontram acessíveis pontos de carregamento elétrico público”. José Mendes Dias sublinhou ainda que “apenas um em cada quatro pontos de carregamento é rápido”, concluindo que, a eletrificação, “apesar de necessária, não pode ser a única via”.

Economia ambientalmente neutra

Em nome da ABA falou Ana Calhôa, que enfatizou a importância da plataforma juntar “organizações que operam em diferentes etapas da cadeia de valor dos combustíveis em Portugal, desde a matéria-prima à produção, incluindo o fornecimento, a distribuição e a utilização”. De seguida, reforçou o compromisso de “contribuir para uma economia neutra para o clima em 2050”. Uma premissa baseada na “diversidade de vetores energéticos e soluções tecnológicas, neutralidade tecnológica, matérias-primas alternativas como a biomassa sustentável, agrícola e florestal, e resíduos (biocombustível), hidrogénio verde e CO2 capturado – combustíveis sintéticos e renováveis derivados de hidrogénio”.

Os designados combustíveis de baixo carbono conseguem reduzir as emissões de carbono, nomeadamente os biocombustíveis, em cerca de “83% quando comparados com os combustíveis fósseis”, adiantou Ana Calhôa. A alternativa defendida pela plataforma são, assim, “combustíveis sustentáveis de origem não petrolífera com nenhuma ou emissões muito limitadas de CO2, durante a sua produção e utilização”. Entre as vantagens, está o facto de poderem “ser utilizados nos ativos atuais, evitando disrupções e tornando-os muito acessíveis”.