A tecnologia de condução autónoma, apontada como uma solução eficaz e avançada para acabar com a sinistralidade rodoviária poderá não ser tão revolucionária nesse campo como o esperado, de acordo com um estudo americano.

Se os erros de condução humanos são causadores de uma grande maioria dos acidentes de viação em todo o mundo, a tecnologia de condução autónoma é, à partida, a peça fundamental para reduzir substancialmente ou eliminar por completo essa problemática rodoviária. Porém, o Instituto de Seguros para a Segurança Rodoviária (IIHS) dos EUA indica, num estudo, que apenas um terço dos acidentes poderá ser evitado se os veículos autónomos adotarem uma postura demasiado próxima à dos condutores humanos.

Recorrendo a uma base de dados de mais de 5000 acidentes de viação compilados pela polícia a nível nacional (nos Estados Unidos), o instituto aponta que apenas um terço desses acidentes foram consequência de erros que os veículos autónomos poderiam evitar porque têm “uma capacidade de perceção mais apurada do que a dos humanos e não são vulneráveis à incapacitação. Para evitar os outros dois terços, teriam de ser programados especificamente para dar prioridade à segurança sobre velocidade e conveniência”.

“É provável que os veículos totalmente autónomos possam eventualmente identificar os perigos melhor do que as pessoas, mas descobrimos que isso só por si não previne a maioria dos acidentes”, explica Jessica Cicchino, vice-presidente da IIHS pela Pesquisa e coautora do estudo.

A equipa da IIHS passou em revista os casos e separou os acidentes relacionados com os humanos em cinco fatores: ‘Sentidos e perceção’ (erros como distração, visibilidade dificultada ou falha no reconhecimento de perigos), ‘Previsão’ (erros como falhas no julgamento na velocidade de outro veículo ou assunção errada da direção a tomar pelo outro veículo), ‘Planeamento e decisão’ (erros que incluem condução demasiado rápida ou lenta para as condições da estrada, condução agressiva ou pouca distância de segurança para o veículo precedente), ‘Execução e performance’ (erros assentes em manobras evasivas incorretas e outros erros no controlo do veículo) e, por fim, “Incapacitação’ (problemas relacionados com álcool, abuso de drogas, problemas médicos ou sonolência ao volante).

Os investigadores também entenderam que alguns acidentes eram inevitáveis, como aqueles causados por problemas mecânicos, como o rebentamento de um pneu.
Para o estudo, foi imaginado um futuro no qual todos os carros na estrada fossem autónomos e assumiram que esses pudessem eliminar os acidentes causados exclusivamente por erros de perceção ou que envolvessem um condutor incapacitado, uma vez que as câmaras e os sensores conseguem monitorizar a estrada e identificar potenciais perigos melhor do que um condutor humano e são incapazes de serem distraídos ou incapacitados. Ora, de acordo com o estudo, os acidentes resultantes de ‘Sentidos e perceção’ representaram 24% do total e os de incapacitação 10%.

É ainda estabelecida uma comparação com o acidente de um veículo autónomo de testes da Uber que vitimou uma mulher no Arizona, em março de 2018. O sistema autónomo terá tido dificuldades em identificar a mulher, mas, assim que o fez, também não foi capaz de prever que Elaine Herzberg se iria atravessar na estrada, falhando também na manobra evasiva.

Assim, se os veículos autónomos tiverem mesmo como objetivo a eliminação de todos os acidentes, terão não só de obedecer às regras de trânsito e de se adaptar às condições da estrada, mas também implementar estratégias para ter em conta a incerteza sobre os outros utilizadores da estrada, o que poderá levar a uma velocidade muito mais baixa em áreas com muitas pessoas ou em situações de pouca visibilidade.