Os bonecos de simulação de acidentes, comummente denominados ‘crash-test dummies’, assumiram-se como uma das melhores ‘ferramentas’ para o estudo nos seres humanos das consequências dos acidentes de trânsito. Atualmente, o desenvolvimento e o trabalho de investigação na área da segurança é cada vez mais digitalizado, mas os ‘dummies’ ainda não perderam a relevância.

Já foram inspiração para uma banda de música, não têm identidades e estão condenados a serem submetidos aos tratamentos mais desumanos que podem receber por parte de um fabricante de automóveis. A vida difícil dos ‘crash-teste dummies’ não foi aligeirada pela chegada de cada vez mais simulações de acidentes com recurso a ferramentas informáticas, sendo que as marcas automóveis continuam a confiar nestes multifacetados bonecos para retirarem conclusões que não são para brincadeiras. Cada boneco de teste ajuda a salvar vidas.

Fabricantes como a Skoda continuam a confiar nestes bonecos de teste para testar os seus automóveis antes do lançamento, procurando obter informações sobre potenciais focos de lesão para os futuros passageiros dos seus veículos. A marca checa conta com o seu próprio laboratório de colisões, fazendo até 300 testes de acidente por ano naquele mesmo local.

De acordo com a Skoda, a própria exigência em torno dos bonecos cresceu grandemente nas últimas décadas, tanto em termos de sensores e pontos de medição de contacto para lesões, como na sua própria variedade em termos de formato e compleição física. Um boneco adulto nunca poderá ter a mesma representação que o de uma criança nos testes de colisão, pelo que é cada vez maior a tipologia de ‘crash-test dummies’ posta em uso. A marca checa usa agora um total de 12 tipos de bonecos, dos quais oito representam adultos e os restantes crianças de 1,5, 3, 6 e 10 anos de idade.

Regra geral, os ‘crash-test dummies’ são o elemento mais dispendioso de cada simulação de acidente em laboratório.

“Nos testes de colisão são utilizados diferentes tipos de bonecos para representar os vários géneros e tamanhos humanos. Bonecos de homens, mulheres e crianças são usados nos testes de colisão”, refere Jan Domkar, coordenador do desenvolvimento de segurança dos veículos, lembrando que cada boneco reage de forma diferente aos acidentes, sistemas de segurança e ao próprio design da viatura. “E esse é o objetivo: testar o máximo de opções possíveis para garantir que tanto os passageiros adultos, como as crianças, estão bem protegidos, onde quer que se sentem no carro”, complementa.

Dentro dos próprios bonecos, há diferentes abordagens na sua conceção, simulando a resposta do corpo humano. Assim, para os embates frontais é usado um tipo de ‘dummy’ (como o Hybrid III ou o Thor), enquanto para os laterais é usado outro (o EuroSID II ou o WorldSID).

Porém, como depois os veículos são depois também sujeitos aos testes da Euro NCAP, entidade europeia que avalia a segurança dos automóveis novos em matéria de segurança em colisão e assistência ao condutor, torna-se importante usar o mesmo tipo de bonecos de teste que os da Euro NCAP. O objetivo é obter os resultados mais fidedignos possíveis.

Composição variada e cada vez mais realista

Longe vão os tempos em que a indústria automóvel recorria a soluções tão eticamente discutíveis como a utilização de cadáveres humanos na realização de testes de colisão. Desde há largos anos que os bonecos de teste são concebidos de forma a replicarem de maneira exata o comportamento do corpo humano, necessitando de materiais que repliquem essa mesma circunstância.

Assim, são feitos de um amplo leque de materiais. A construção básica em metal é forte e duradoura, mas o corpo do boneco, em si, também é feito de muitos materiais que simulam a composição do corpo humano em situações específicas. Metais especiais são usados para as costelas, coluna vertebral ou articulações. Já a pele é feita de plásticos específicos, bem como a área da pélvis. A carga que estes elementos sofrem é medida de forma precisa, sendo possível deduzir onde e como é que as lesões verdadeiras poderão ocorrer nos humanos em caso de acidente. As partes individuais são substituíveis, para que a sua duração seja ilimitada.

Muitos dos elementos de design dos bonecos são patenteados e são poucos os fabricantes de ‘crash-test dummies’ a nível mundial. Em resultado disso, estes dispositivos de pesquisa científica são tudo menos acessíveis em termos de custo. Com efeito, são geralmente a parte mais cara envolvida numa simulação de acidente em laboratório.

“Por exemplo, o boneco Thor para a colisão frontal custa 650 mil euros e o WorldSID para o embate lateral custa 350 mil euros”, revela Domkar, que adianta ainda que a este custo é preciso ainda adicionar valores de calibração e de manutenção, o que acontece de forma programada após uma série de utilização em acidentes simulados.

O seu custo deriva, naturalmente, da tecnologia envolvida, já que cada ‘dummy’ está repleto de dezenas de sensores que medem a aceleração, forças de gravidade e deformação, sendo tecnologias em constante evolução, especialmente, nos pontos de deteção. Bonecos como o Hybrid III, utilizado desde o início do milénio, tinham 56 pontos de medição no seu corpo, mas o mais recente Thor já apresenta 116 pontos de medição.

O passo seguinte está na adição de novas tipologias de bonecos, como a dos idosos, sendo esta uma área na qual Domkar espera mais inovações nos próximos anos, à medida que a idade dos condutores também vai avançando.

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