Europa quer travar “concorrência desleal” de veículos elétricos chineses

15/09/2023

Os subsídios que Pequim dá aos elétricos chineses estão a distorcer o mercado, diz a Comissão Europeia que garante: “Não aceitamos isto”.

 

Há cada vez mais veículos elétricos de marcas chineses a entrar no mercado europeu, mas Bruxelas está desconfiada de que os preços baixos pelos quais este género de modelos está a ser comercializado constituem concorrência desleal, já que tudo indica que são preços suportados pelo governo de Pequim.

“Estamos abertos à concorrência, mas não a práticas desleais. É por isso que estamos a lançar uma investigação sobre os automóveis elétricos provenientes da China”: as palavras do vice-presidente executivo da Comissão Europeia com a pasta do Comércio, Valdis Dombrovskis reforçam o anúncio de Ursula von der Leyen, feito no seu discurso sobre o Estado da União Europeia, de que será aberta uma investigação contra subvenções no setor dos automóveis elétricos provenientes da China.

No discurso sobre o Estado da União, na sessão plenária do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen vincou que “a concorrência só é verdadeira se for justa”, observando que “os mercados mundiais estão agora inundados de veículos elétricos chineses mais baratos”.

“TEMOS DE NOS DEFENDER DE PRÁTICAS DESLEAIS”, DIZ URSULA VON DER LEYEN.

O ponto de discórdia está, assim, nos “enormes subsídios estatais” que a China garante aos fabricantes de automóveis elétricos chineses que fazem com que o preço destes veículos seja “mantido artificialmente baixo”.

“Isto está a distorcer o nosso mercado e como não aceitamos isto a partir de dentro, também não o aceitamos a partir de fora, por isso, posso anunciar que a Comissão vai lançar uma investigação contra as subvenções aos veículos elétricos provenientes da China”, revelou von der Leyen.

E rematou: “A Europa está aberta à concorrência, [mas] não para uma corrida ao fundo do poço. Temos de nos defender contra práticas desleais”.

Após o anúncio, Wang Lutong, diretor-geral para os assuntos europeus do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, classificou a investigação como “puro protecionismo”, numa mensagem publicada na rede social X (antigo Twitter).

“Muitos membros da UE subsidiam as suas indústrias de veículos elétricos. Que legitimidade tem a Comissão Europeia para abrir uma investigação sobre subsídios atribuídos aos veículos elétricos na China?”, questionou.

A Câmara de Comércio da China na UE também expressou “forte preocupação e oposição” e considerou tratar-se de uma medida “unilateral” e “obstrutiva”, que vai contra os compromissos assumidos pela UE no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Entre janeiro e agosto deste ano, as exportações de veículos elétricos da China cresceram 110%, de acordo com informações da Associação de Fabricantes de Automóveis da China (CAAM).

No ano passado, quase seis milhões de viaturas elétricas tenham foram vendidas na China, ultrapassando a soma de vendas de todos os outros países do mundo.

Cinco das dez marcas de veículos elétricos mais vendidas em todo o mundo são agora de origem chinesa, com a BYD a vir logo atrás da americana Tesla como a maior delas.

O domínio chinês estende-se também à indústria de baterias, onde as empresas chinesas CATL e BYD lideram como os maiores fabricantes globais. Além disso, Pequim mantém um controle significativo sobre o acesso a matérias-primas essenciais, incluindo terras raras.