Como vê o estado atual da mobilidade elétrica em Portugal: quais são os principais avanços que se salientam e quais são os principais desafios que se deparam à expansão do veículo elétrico?
Daniela Simões (Miio): Na minha opinião, existem quatro pontos fundamentais que sustentam os principais avanços da mobilidade elétrica no nosso país:
Em primeiro lugar, destaco o facto de a rede Mobi.e ter atingido um novo recorde de utilizações em julho deste ano, tendo sido registados 378.669 transações, o que representa uma subida de 63% face ao mesmo mês do ano passado.
Em segundo lugar, é também de evidenciar que os consumos de energia na rede ultrapassaram recordes anteriores, tendo-se atingido os 6.348.476 kWh, um aumento de 83% em comparação com o mesmo período homólogo.
De destacar também que o contínuo crescimento da rede é um dos principais fatores que contribui para os números acima referidos, uma vez que tem acompanhado o incremento do parque de viaturas elétricas. No final de julho, integravam a rede Mobi.e um total de 4.809 postos (3.673 públicos).Por fim, mas não menos relevante, a potência da rede que é atualmente superior a 206.528 kW. Isto traduz-se num aumento de 44% em relação ao ano anterior. No final de julho, cerca de 1.347 postos de carregamento eram rápidos ou ultrarrápidos, o que representa mais de um terço (36%) do total.
Por outro lado, como principal desafio diria que a falta de redundância nas autoestradas é uma questão real e que deve ser resolvida rapidamente, pois em picos de procura, como acontece nos fins de semana de verão quando há uma maior afluência nestas estradas, torna-se bastante moroso conseguir efetuar um carregamento. E isto é algo que afasta os condutores de uma possível transição para um veículo elétrico.
Quais são os principais obstáculos que ainda precisam ser superados para uma adoção mais ampla de veículos elétricos em Portugal?
Deve existir um esforço crescente por parte das marcas que comercializam veículos elétricos para que seja partilhada mais informação no momento de venda do carro, acelerando assim a curva de adaptação e reduzindo a frustração em situações de carregamento que não são bem concretizadas.
Paralelamente, a maior amplitude de serviços de venda e instalação de wallboxes devidamente certificadas através de processos mais simples gera maior confiança por parte dos utilizadores.
Em termos de infraestrutura de carregamento para um veículo elétrico, que retrato faz do país? O que faz falta ser feito?
A rede está continuamente a crescer e isso é um ponto bastante positivo. No entanto, e como já referido anteriormente, acredito que ainda falta redundância nas principais autoestradas do país, sendo necessário aumentar a capilaridade da rede de carregamentos, sobretudo em outras autoestradas para além da A1 e A2. Com isto, certamente que muitas situações como as recentemente reportadas de horas de espera para carregar carros elétricos poderiam ser evitadas.
Quais são os vossos próximos projetos em Portugal para podem contribuir para expandir a infraestrutura de carregamento existente ou a adoção da mobilidade elétrica?
Enquanto empresa que atua na área da criação de software que facilite o acesso dos utilizadores à infraestrutura de carregamentos existente no país, vamos continuar a apostar na simplificação de todos os processos no ecossistema da mobilidade elétrica, trazendo ainda mais simplificação aos carregamentos na via pública, mas não só. São novidades que esperamos poder partilhar em breve com a comunidade de utilizadores de veículos elétricos em Portugal, Espanha e França.
Que medida recomendaria que o governo tomasse com vista a uma maior e mais rápida adoção de veículos elétricos no país?
Há várias medidas que podem ser tomadas a nível governamental de forma a potenciar a adoção dos veículos elétricos no nosso país e que vão desde a redução do IVA na energia que é consumida por estes carros, à manutenção dos vouchers de apoio na aquisição ou a isenção do IVA. Incentivos para a aquisição de uma maior gama de wallboxes para carregamento doméstico sempre que tal for viável ou o incentivo ao abate para os carros mais poluentes são medidas que deveriam também ser consideradas.
No que toca às empresas, acredito que seria importante a manutenção da dedução de IVA nas empresas para que estas possam mais rapidamente transitar para frotas elétricas e amigas do ambiente.
