Fiat 500e: os primeiros 10 000 quilómetros

13/05/2023

Parece já longínquo o dia 7 de dezembro em que levantámos o nosso Fiat 500e nas instalações da Santogal, em Alcabideche. Foi um dia chuvoso, mas nada que impedisse uns primeiros quilómetros bastante divertidos e entusiasmantes. Isto apesar de já termos tido durante alguns dias um exemplar semelhante para testes.

A escolha recaiu na versão mais equipada, com um nome longo e elaborado: La Prima Bocelli, fruto de uma venda com valor acima do esperado daquele que foi, quase certamente, o último Diesel cá de casa.

A opção pelo Cabrio deve-se também a um gosto pessoal. Depois do percurso habitual que envolve autoestrada e cidade, os últimos quilómetros são no campo, em estrada nacional. Se o tempo permitir, a capota desce quase todos os dias.

Desde a compra cumpriram-se 157 dias (obrigado timeanddate!) e, porque o pequeno Fiat não fica muito tempo parado, 11 250 quilómetros, uma média de quase 72 quilómetros por dia.

O Fiat 500e Cabrio La Prima Bocelli, no dia da entrega

O segundo carro da família é um híbrido já com alguns anos, mas relativamente pouco uso, pelo que é o Fiat que sai sempre que é preciso. Para uma família de quatro pessoas e um canídeo pequeno, o Fiat 500e tem-se revelado bastante espaçoso para tudo o que precisamos. O percurso diário envolve estrada nacional, autoestrada e cidade, num teste que quase poderia ser considerado uma combinação de ciclo médio de consumo, não fosse talvez o peso da autoestrada. Mas, ainda assim, o consumo de energia destes quilómetros todos está em 13,7 kWh (nos meses de inverno era de 13,9, tendo vindo a baixar à medida que as temperaturas sobem.)

Este resultado inclui a climatização, sempre que é necessário e uma condução mista entre aqueles momentos em que não há pressa e os outros em que é preciso compensar algum contratempo.

Há viagens de várias dezenas de quilómetros em que o consumo fica abaixo dos 11 kWh, por exemplo, sem usar o modo Sherpa (com este, que limita a velocidade máxima a 80 km/h, é possível ficar abaixo dos 10 kWh). Outros percursos mais rápidos em que pode chegar aos 17 kWh, mas só mesmo em autoestrada e a velocidades que cada vez fazem menos sentido.

Carregamento só doméstico

Apesar de contarmos com tudo aquilo que é necessário para fazer carregamentos no exterior, este 500e carregou sempre em casa. Nos primeiros dias usámos apenas o carregador que vinha de fábrica. E, salvo raras exceções, provavelmente é suficiente para quem faça até 100 km por dia.

Todavia, com a ajuda da EV Chargers, no início de janeiro, já tínhamos uma wallbox Duosida regulável a funcionar. Como ainda não alterámos a potência do quadro, está regulada para carregar a cerca de 4/4,5 kW de potência, o que tem sido mais do que suficiente para a bateria de cerca de 40 kWh do Fiat. Carregamos habitualmente à noite.

Com os consumos que temos, estamos a gastar um pouco mais de €2 por cada 100 quilómetros, o que representa uma poupança de cerca de €700/800 a cada 10 000 quilómetros face a um modelo de caraterísticas semelhantes com motor de combustão.

A utilização: melhor do que o esperado

Já sabíamos que o Fiat 500e era muito fácil de conduzir, confortável e eficiente, mas com o hábito diário, essas qualidades ainda se revelaram mais evidentes. Mesmo as jantes de maiores dimensões do La Prima acabaram por não penalizar o conforto. Claro que a versão Cabrio e com o nível de equipamento mais completo tem um alcance ligeiramente menor. Mas, na prática, 297 quilómetros com uma carga de acordo com o ciclo WLTP chegam e sobram para o tipo de utilização que temos.

O modo por defeito que usamos é o Range, que permite uma condução só com um pedal. Apresenta uma excelente recuperação de energia e, quando carregado a 100%, indica um alcance de entre 260 a 270 quilómetros. O modo Sherpa raramente é utilizado, mas sabemos que permite mais alguma dezena de quilómetros, se for necessário. O modo Normal só acho útil no para-arranca em desnível. Isto porque, no modo Range, é difícil regular a imobilização e o arranque quando a gravidade exerce a sua força, já que o acelerador fica com essa dupla função. Por vezes sucede que a ligeira pressão no acelerador não é suficiente para mover o Fiat, mas desconecta a função hill hold, permitindo que o veículo comece a mover-se. É um acerto milimétrico mas, se mudarmos para o modo Normal, isto não se verifica e torna essas transições mais suaves.

Quanto ao resto, em termos de prestações, nunca nestes cinco meses de utilização senti falta de capacidade de resposta para fazer uma ultrapassagem. A velocidade limitada a 150 km/h num veículo deste tipo é perfeitamente adequada. Só a partir dos 140 km/h indicados é que sentimos que estamos num descapotável, dada a qualidade e tipologia da excelente capota.

Nas curvas longas mais rápidas, são as caraterísticas inerentes do veículo (distância entre eixos curta, suspensão afinada para conforto) que mostram os seus limites, mas apesar de bastante desenvolto e capaz, o 500e não tem qualquer veleidade desportiva. Quem quiser explorar essa vertente tem a versão Abarth já disponível.

Car Play e um pormenor irritante (com solução à vista…)

Uma nota para o sistema de som JBL, que justifica o nome “Bocelli”. Longe de ser a minha especialidade, cumpre-me dizer que gosto bastante. Aliado ao silêncio de funcionamento do Fiat transforma o habitáculo numa sala de música bastante competente, pelo menos para os meus ouvidos. A única crítica é que não parece ser possível guardar as nossas preferências, sobretudo relativamente aos modos do som ambiente. Cada vez que ligamos o 500e, temos que voltar a selecionar a opção que preferimos.

Merece referência muito positiva também o sistema CarPlay, com uma uma excelente integração das funções do smartphone, com particular destaque para o Waze e o Spotify, que são os que uso mais. Houve uma grande evolução nesta área e a Fiat fez um bom trabalho.

Existe uma App My Fiat, mas que raramente uso. A parte mais prática é que, nos meses mais frios, posso accionar a climatização algum tempo antes de sairmos de casa. Talvez no futuro possa receber mais funcionalidades.

No Abarth 500e, a questão do fecho da mala sem sujar as mãos está assim resolvida…

Há só um pormenor bastante irritante, sobretudo nos meses de chuva e que detetamos logo nas primeiras semanas. A tampa da mala (que se abre com dois cliques no comando) não tem forma de puxar a tampa pelo interior. Isto obriga a que, se o carro está sujo ou molhado, tenhamos que ter o incómodo de usar a mão no exterior da tampa.

Acontece que está previsto, no revestimento interior, a possibilidade de colocar uma fita precisamente para resolver esta questão. O Abarth 500e já tem, como pude constatar quando o vi há um par de meses. E este também vai ter, depois da primeira revisão, daqui a algumas semanas, quando chegar aos 15 000 quilómetros.

Balanço dos primeiros 10 000 quilómetros

Quando o comprámos, não havia grande alternativa ao Fiat 500e para quem quisesse um utilitário compacto, carismático e muito competente, aliado ao facto de ser descapotável ter um alcance com uma carga que dê todas as garantias para uma utilização tranquila. E, passados estes meses, continua a não haver, para além da versão Abarth, que surgiu entretanto.

Para já, não podíamos estar mais satisfeitos com a escolha e o desempenho do nosso Fiat 500e. Vamos ver como correm os próximos meses de utilização.