À medida que a União Europeia (UE) se prepara para eletrificar o transporte rodoviário, a procura por matérias-primas essenciais para baterias dos veículos, como dos metais lítio, níquel, cobalto e manganês, aumentará muito e rapidamente. De acordo com um novo estudo realizado pela Federação Europeia dos Transportes e Ambiente (T&E), da qual a portuguesa Zero é membro, a região necessitará até 2050 de 200 vezes mais destes metais do que os que consumiu em 2022, o que, realçam os ambientalistas, é problemático e eventualmente insustentável.
Mas o estudo revela também que a UE e os governos podem reduzir o seu consumo em praticamente metade (49%) caso adotem um conjunto de medidas, sendo a mais importante o reduzir o tamanho dos automóveis vendidos.
Além da redução do tamanho dos automóveis – automóveis mais pequenos e leves não necessitam de baterias tão grandes –, o estudo avaliou o impacto de diferentes químicas das baterias e diferentes utilizações dos veículos na procura das matérias-primas, concluindo que políticas de incentivo à produção e aquisição de automóveis elétricos de entrada de gama, pequenos e acessíveis, a adoção de tecnologias de química inovadora nas baterias e a redução das deslocações em automóvel privado poderão reduzir a procura de metais essenciais em 36-49%.
“A redução do tamanho das baterias, através da produção de veículos elétricos mais pequenos, é a forma mais eficaz de reduzir a procura de metais (19-23%), sendo necessária uma estratégia europeia, mas também políticas públicas nos Estados-Membros, de incentivo a veículos elétricos pequenos e económicos, de forma a poderem-se impor aos veículos desportivos utilitários (SUV), grandes e gastadores, que atualmente dominam o mercado”, salienta a Zero.Incentivos para modelos mais pequenos
Na perspetiva dos ecologistas, as medidas nacionais devem incluir incentivos fiscais para modelos mais pequenos, e ao nível da UE são necessárias normas em termos de eficiência das baterias e regulamentos para os fabricantes de automóveis produzirem mais modelos de entrada de gama.
“Os automóveis elétricos mais pequenos são também ideais para a aplicação de baterias baseadas em tecnologias químicas menos intensivos em recursos, que podem reduzir a procura de metais até 20%”, acrescentra a análise da Zero. Para isso, os ambientalistas defendem que “é necessária uma política industrial forte para aumentar a produção europeia destas novas tecnologias, como as baterias à base de ferro (LFP) e de iões de sódio”.
Redução de deslocações em automóveis privados
Segundo a Zero, “a redução das deslocações em automóveis privados pode permitir uma redução adicional da procura de 7-9% – efeito alcançável através da construção de menos estradas, redução do espaço disponível para os automóveis, cobrança de taxas de estacionamento, investimento em transportes públicos, e promoção de modos partilhados de mobilidade e deslocações ativas (como andar a pé ou de bicicleta). Não obstante, é essencial assegurar que os metais que continuarão a ser usados são obtidos de forma responsável e, tanto quanto possível, reciclados”.
PORTUGAL PRECISA DE UMA FISCALIDADE AUTOMÓVEL QUE PENALIZE DIRETAMENTE OS VEÍCULOS MAIS PESADOS, DEFENDEM OS ECOLOGISTAS
A Zero entende que o critério da cilindrada, que ainda é usado, “está obsoleto e é redundante com o critério emissões de dióxido de carbono, pois, em geral, carros com motores maiores têm mais emissões desse gás”.
Ao invés, a Zero “propõe que o peso seja introduzido como critério no Imposto sobre Veículos (ISV), sob a forma de uma taxa em função do peso do automóvel, passando a mensagem de que é necessário considerar o impacto dos veículos mais pesados – que além de poluírem mais, provocam um maior desgaste nas estradas, acarretam maiores riscos para os peões em caso de atropelamento, são mais ruidosos e têm uma pegada ecológica de fabrico maior”.
A associação sugere que esta taxa seja progressiva e que se aplique a partir de um determinado valor de peso do automóvel, podendo começar nos 5 euros por kg adicional de peso a partir dos 1.400 kg de peso do veículo, e subindo para os 10 euros/kg a partir de um peso de 1.800 kg.
“A taxa pode ser desenhada numa lógica de impacto fiscal neutro, baixando o ISV nos carros abaixo do patamar de peso, beneficiando assim os automóveis mais leves ao mesmo tempo que se penalizam os mais pesados (lógica de bonus-malus)”, complementa a sua explicação a associação.
A Zero “apela a Lisboa e outras cidades portuguesas que tomem medidas urgentes para travar a entrada em massa de automóveis no centro, e sugere a imposição de taxas de estacionamento mais elevadas aos condutores com base no tamanho, peso e tipo de motor dos veículos, à semelhança do que Paris está a fazer para reduzir a presença de SUV na cidade”.