Futuro da indústria de componentes com “incerteza sem precedentes”

28/11/2024

A indústria europeia de componentes para automóveis enfrenta “níveis de incerteza sem precedentes”, de acordo com a associação europeia do setor.

 

A redução da procura e a diminuição da competitividade da União Europeia são as grandes preocupações das empresas do setor.

Os últimos dados do estudo promovido pela CLEPA (Associação Europeia de Fornecedores do Setor Automóvel) em conjunto com a McKinsey, sublinham que 60% das empresas do setor preveem uma diminuição das receitas no próximo ano.

68% dos fornecedores esperam que os lucros permaneçam baixos e aproximadamente 38% dos inquiridos julgam que irão operar no limiar de rendibilidade ou enfrentar perdas durante o ano de referência de 2024, afirma o estudo em que participaram 120 empresas.

Dados os elevados níveis de incerteza em torno de novos projetos e da procura de veículos elétricos na Europa, 65% dos fornecedores preveem que a taxa de penetração dos veículos elétricos a bateria se mantenha abaixo dos 50% até 2030.

“Os resultados do inquérito dão uma imagem clara dos imensos desafios que a nossa indústria enfrenta. Os fornecedores europeus do sector automóvel têm o poder de inovação necessário para liderar a transformação da mobilidade, mas as pressões dos custos estão a forçar a perda de postos de trabalho e o encerramento de fábricas. Para proteger o emprego, aumentar a competitividade e acelerar as transições ecológica e digital, precisamos urgentemente de uma recalibração dos quadros regulamentares,” enfatiza Benjamin Krieger, Secretário-Geral do CLEPA

O inquérito ainda não reflete as últimas notícias sobre possíveis fechos de fábricas e paragens de produção que têm assolado a Eurpa mas, mesmo assim, as expetativas quanto ao futuro por parte da indústria de componentes já eram negativas.

Os elevados níveis de incerteza em torno de novos projetos e da procura de veículos elétricos (EV) na Europa, juntamente com a pressão dos fabricantes de veículos (OEM) para reduzir os custos e as preocupações relativas à competitividade da UE, estão a contribuir para a deterioração do sentimento empresarial no sector, afirma a CLEPA.

Em resultado destes desafios, as projeções de rentabilidade apresentam um quadro sombrio. 38% dos fornecedores preveem agora operar com níveis de rendibilidade marginais ou negativos, em comparação com apenas 25% no início do ano. Apenas 31% preveem uma rendibilidade superior a 5%, o que representa uma quebra em relação às previsões anteriores. As perspetivas para o ano fiscal de 2025 não registam grandes melhorias.

No inquérito, cerca de três quartos dos fornecedores identificaram o investimento na produção de eletricidade e nas infraestruturas de carregamento, bem como a criação de um ecossistema europeu de baterias e semicondutores, como áreas-chave de investimento para reforçar a força competitiva da Europa.

A redução da procura é citada por 80% dos inquiridos como a questão mais premente. 77% referem dificuldades significativas em fazer repercutir os aumentos de custos nos OEM. “Os fornecedores, enquanto intermediários na cadeia de abastecimento, são os primeiros a absorver as pressões sobre os custos. Embora alguns contratos incluam cláusulas de indexação para ajustar os preços com base nos custos numa base regular, muitas relações contratuais com os fabricantes de veículos não incluem essas cláusulas e exigem negociações para ajustamentos de preços”, afirma a associação do setor em nota à imprensa.

Além disso, 58% dos fornecedores referem a crescente instabilidade geopolítica como uma das principais preocupações. 29% dos fornecedores identificam as falências dos fornecedores de nível 2 mais pequenos, bem como a saída de fornecedores do sector automóvel, como tendo um forte impacto nas suas operações, o que representa um aumento acentuado em relação ao ano passado, quando apenas 16% identificaram este aspeto como um desafio importante.

Menos de 50% dos fornecedores do sector automóvel preveem um crescimento das vendas de veículos elétricos a bateria (BEV) nos próximos 12 meses. As perspetivas de crescimento são particularmente incertas para os veículos da gama de preço médio. 65% dos fornecedores do sector automóvel preveem que os BEV representarão menos de 50% das vendas de automóveis até 2030.

A imensa maioria das empresas fornecedoras de componentes, um total de 81%, considera os preços altamente relevantes para explicar o declínio da procura de BEV.

A CLEPA, Associação Europeia de Fornecedores do Setor Automóvel com sede em Bruxelas, representa mais de 3000 empresas, desde multinacionais a PME, que fornecem componentes e tecnologia para a indústria automóvel. Os fornecedores do sector automóvel na Europa investem mais de 30.000 milhões de euros anualmente em investigação e desenvolvimento e empregam diretamente 1,7 milhões de pessoas na UE.