Hoje é o Dia Mundial do Trânsito e da Cortesia ao Volante

05/05/2024

Manobras perigosas, estacionamento onde não é permitido, desrespeito pelas passadeiras para peões. Atualmente a lista de comportamentos indevidos ao volante é extensa, pode provocar atos de violência e o fenómeno chama-se “road rage”.

 

Segundo apurou o Diário de Notícias, “Episódios de road rage podem levar a sofrimento físico e psicológico, traumas, evitamento/fuga e até à possibilidade de perdas humanas”, como afirma ao DN a psicóloga clínica Ana Beatriz Confraria.

Na data que assinala o “Dia Mundial do Trânsito e da Cortesia ao Volante”, o jornalista Francisco de Almeida Fernandes, procurou perceber melhor esta realidade e de que forma pode estar ligada à sinistralidade nas estradas portuguesas.

Não existem no nosso país dados a nível nacional que permitam aferir quantos acidentes são provocados por comportamentos agressivos ao volante, como confirma fonte oficial da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR). Simplesmente essa estatística não é realizada, ao contrário do que acontece, por exemplo, nos Estados Unidos, em que a AAA Foundation for Traffic Safety, que analisou mais de 10 mil relatórios policiais sobre acidentes rodoviários que resultaram em violência, concluiu que, entre 1990 e 1996 (os dados mais recentes analisados), a agressividade dos condutores contribuiu para 218 mortes e 12.610 lesões. Nesse período, os incidentes relacionados com road rage aumentaram 7% ao ano.

Também por cá já se registaram mortes em consequência deste tipo de incidentes. Em março de 2005, Nélio Marques, filho do internacional do Benfica Nelinho, foi assassinado com três tiros à queima-roupa depois de uma discussão com outro condutor que começou na estrada e terminou, fatalmente, numa estação de serviço em Benfica.

E ainda em agosto, em Quarteira, um homem de 44 anos, que seguia no passeio e se envolveu numa discussão, seguida de agressão física, com um motociclista, acabou a sentir-se mal e a morrer no local.

Se está comprovado que as longas filas de trânsito, os engarrafamentos e as manobras perigosas aumentam os níveis de frustração, ansiedade e agressividade, é também verdade que a impulsividade pode resultar em situações como as acima citadas.

“Sentimentos como a zanga ou a raiva tiram-nos a capacidade de pensar racionalmente e levam-nos a comportamentos impulsivos”, explica Ana Beatriz Confraria, que lembra que isto é o resultado “de um desequilíbrio entre o pensar e o agir”.

Ser mais cortês ao volante

A psicóloga clínica do Gabinete de Psicologia, e cujo percurso passou também pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, aponta que existe “uma correlação de variáveis individuais, ambientais e sociais” que ajudam a compreender o fenómeno da road rage.

Os “homens de idade mais jovem” parecem ser “mais propensos” a este tipo de situações, ainda que não seja, de todo, exclusivo: “Também as mulheres e pessoas com mais idade poderão ter este tipo de condução.” Mas há, claramente, fatores que contribuem de forma negativa para essa realidade: traços de personalidade, variáveis emocionais, comportamentos de risco como o consumo de álcool ou o excesso de velocidade, assim como o stresse e a fadiga.

“Aprender a gerir as nossas emoções é fundamental para controlarmos as nossas reações às situações, e, para tal, consultas de psicologia poderão ser uma mais-valia”, afirma a especialista. No entanto, pequenos gestos, como sair mais cedo de casa, exercícios de respiração para controlo da ansiedade ou até evitar o contacto visual com pessoas que demonstram comportamentos agressivos, “são alguns dos conselhos que poderão ser úteis para viagens mais calmas e seguras”.

Portugal com mais acidentes

Além da agressividade, comportamentos de risco, como a utilização do telemóvel durante a condução ou a ingestão de bebidas alcoólicas, ajudam a que Portugal esteja entre os países da União Europeia com piores resultados na sinistralidade rodoviária.

“Já não é só o falar ao telefone, é também ler e responder a mensagens”, lamenta José Manuel Trigoso. O presidente da associação Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP) aponta ainda o excesso de velocidade como um dos principais fatores que contribui para os maus resultados nacionais, em grande parte devido à forma como as estradas são desenhadas.

“As vias têm de ser construídas para se circular à velocidade que queremos que os veículos circulem, têm de limitar naturalmente a velocidade”, acrescenta.

Os dados oficiais da sinistralidade rodoviária para 2023 mostram que, entre janeiro e novembro, morreram nas estradas 442 pessoas – mais 12 do que no mesmo período em 2022. Registaram-se ainda mais acidentes (6,7%), mais feridos ligeiros (6,8%) e mais feridos graves (7,3%), embora o tráfego tenha também subido face a 2022.