A história comercial da Automobili Lamborghini teve início no seu stand no Salão Automóvel de Genebra de 1964, com a apresentação pública do 350 GT. A partir desse momento, os clientes puderam adquirir um automóvel com o icónico emblema do touro. Logo desde a sua concepção, o 350 GT era, ao mesmo tempo, rápido e extraordinário. O chassis e o quadro foram fruto do trabalho do engenheiro Giampaolo Dallara, muito jovem na altura, e considerado, agora, um dos melhores fabricantes de chassis do mundo. O motor V12 de 3,5 litros, com quatro árvores de cames à cabeça, resultou do design do engenheiro Giotto Bizzarrini, que o concebeu para uso em competição, e foi adaptado para utilização em estrada no 350 GT pelo engenheiro Paolo Stanzani, figura chave na história da Lamborghini, e dos automóveis GT de todo o mundo. A concepção da carroçaria em alumínio, e a sua produção, foram levadas a cabo pela Carrozzeria Touring, de Milão que, no início da década de 1960, era considerada a melhor neste domínio, capaz de disponibilizar automóveis desportivos com um acabamento de luxo.
O primeiro modelo de produção fabricado pela Lamborghini foi um êxito imediato, e captou a atenção de grande parte dos meios de comunicação presentes em Genebra naquele momento. O interior do 350 GT era do mais alto nível, com uma profusa utilização de couro e de cromados, e caracterizado por uma configuração do tipo 2+1, com dois bancos dianteiros, e um central traseiro. Tal como o design, a engenharia era surpreendente: a suspensão independente às quatro rodas e o rendimento do motor, com 320cv, eram escolhas de última geração. O motor cativou todos os visitantes do stand, onde o próprio Ferruccio Lamborghini mostrou o automóvel a curiosos, futuros clientes e jornalistas. Como confirmação das suas qualidades, o Lamborghini V12 foi levado aos 4,0 litros apenas uns meses mais tarde, no 400 GT, e, nesta nova configuração, tornar-se-ia na pedra angular do sucesso da Lamborghini. Durante os 40 anos seguintes, a mesma geometria seria utilizada em diversas posições e variações, e tornar-se-ia num dos símbolos fundamentais do ADN da Lamborghini. Efectivamente, este motor seria utilizado em posição longitudinal dianteira no 400 GT, no Islero, no Jarama, no Espada e no LM 002, em posição transversal traseira no Miura, e em posição longitudinal traseira no Countach e no Diablo.
O primeiro 350 GT foi entregue ao baterista de Livorno, Giampiero Giusti, que se encontrava no auge do seu êxito com a banda “I 5 di Lucca”, e que mais tarde se converteria no “Quartetto di Lucca”, considerado um dos mais importantes conjuntos de Jazz italianos. Marcou o início de uma estreita relação entre a Lamborghini e o mundo do espetáculo, em que muitos actores e intérpretes musicais se tornaram clientes apaixonados da empresa. O 350 GT protagonizou ainda, em 1967, o filme da Columbia Pictures “Ama-me… ou mata-me”, realizado por Francesco Maselli, em que era conduzido pelos protagonistas Monica Vitti e Jean Sorel.
O automóvel exposto no stand da Lamborghini em Genebra, em 1964, era o 350 GT chassis nº 101, de cor Verde Ginebra Metalizado, com interior branco, o primeiro alguma vez produzido. A viatura, mais tarde utilizada enquanto veículo de testes de desenvolvimento e resistência, foi, infelizmente, destruído por uma colisão traseira enquanto estava parado num semáforo.
Contudo, o seguinte 350 GT, com o segundo número de chassis, sobreviveria: de cor cinzenta metalizada, com interior vermelho, foi expedido desde Sant’Agata Bolognese a 15 de Agosto de 1964, e entregue completamente novo em Genebra. Esse mesmo automóvel é, agora, o Lamborghini de produção em série mais antigo em existência, perfeitamente restaurado, e certificado pelo Lamborghini Polo Storico. Este ano, o construtor de automóveis de Sant’Agata Bolognese quis celebrar a sua história, trazendo-o de regresso à vida, e em plena forma, nas ruas de Genebra, a cidade onde foi, primeiramente, entregue e apresentado há já seis décadas.