Nos anos 70, a Matra está, sobretudo, associada ao desporto automóvel. Permitiu a Jackie Stewart a conquista do seu primeiro título de F1, venceu as 24 h de Le Mans, e é também conhecida pelos seus coupés originais, como o Djet, o 530x ou o Bagheera (e mais tarde, o Murena). Mas com a crise petrolífera, a Matra vê-se obrigada a apostar na diversificação da sua produção para sobreviver.

Philippe Guédon, talentoso engenheiro da casa, propõe então ao presidente do grupo, Jean-Luc Lagardère, um conceito inovador: um veículo familiar, acessível e virado para os lazeres. O projecto suscita um entusiasmo tão limitado quanto a verba que, ainda assim, é concedida a Guédon para concretizar o seu projecto, o qual, uma vez finalizado, terá de cumprir o objectivo de 25000 vendas.

Dispondo de poucos recursos, a equipa de Philippe Guédon vê-se obrigada a desenvolver o seu conceito inovador, a partir de uma base existente: a rústica pick-up Simca 1100 VF2! O resultado é apresentado no salão de Genebra de 1977, com o nome Matra-Simca Rancho, sendo difícil colocá-lo numa categoria em particular. Essa berlina/carrinha/jipe apresenta-se como um novo modelo, sendo, no entanto, perceptíveis elementos já bem conhecidos.

De facto, apesar do desenho particularmente bem conseguido de Antonis Volanis, num misto de veículo familiar e de (quase) todo-o-terreno, o Rancho não consegue disfarçar as suas origens Simca, a começar pela frente de 1100, que se vislumbra por detrás da barra e do largo pára-choques que inclui os faróis adicionais. Igual no habitáculo, com um tablier derivado do mesmo 1100, sendo que os bancos, esses, são específicos para o Rancho. O motor, por seu lado, é o 1.442 cc de 80 cavalos, com carburador duplo Weber, proveniente do 1308 GT.


Disponível em várias versões (“X” mais luxuosa, “AS” comercial de dois lugares, Découvrable, Grand Raid…), além da versão de base, o Rancho é dos primeiros modelos especificamente criados para os lazeres, renunciando às pretensões mais estatutárias de muitos outros automóveis.

Depois da integração da Simca no grupo PSA, o Rancho deixa de ser Matra-Simca para ser Talbot-Matra a partir de 1980, sendo produzido até 1983, superando todas as expectativas, com cerca de 57.000 veículos vendidos.

Mas no início dos anos 80, as atenções da Matra e de Philippe Guédon estavam mais focadas noutro conceito, igualmente inovador, uma espécie de “van” europeu (o futuro Renault Espace), e o Rancho acabou por não ter sucessor. Aliás, de certa maneira até teve, e muitos! É que veículos polivalentes, derivados de carrinhas “profissionais”, e que agora são muito comuns (Berlingo, Rifter, Kangoo, ou ainda, os Roomster e Yeti da Skoda…), podem, legitimamente, reivindicar uma certa filiação (mais até do que os SUV’s). Só que chegaram bem mais tarde. Ou terá sido o Rancho que chegou demasiado cedo?

