Mitsubishi ASX 1.3 DI-T MHEV Intense: “A Guerra dos Clones”

05/04/2023

O ASX é o primeiro passo num ano que a Mitsubishi classifica como de “regresso” à Europa. Sem tempo para soluções próprias, a marca japonesa recorreu a um dos modelos de sucesso da Renault e está bem servida. É para isto que servem as alianças.

Tentei abrir um Renault Captur aqui à porta de casa, de uma cor parecida e uns quatro ou cinco lugares ao lado de onde tinha estacionado o ASX na noite anterior? Sim, tentei. Mas, isso quase nada interessa quando o que está em jogo é a presença num mercado – a Europa – que valeu mais de 11 milhões de unidades no ano passado e num segmento (B-SUV) que significa perto de 20% dessas vendas.

A marca japonesa reverteu a decisão de abandonar o mercado europeu depois da Renault ter garantido a produção de dois dos seus bestsellers com o emblema dos três diamantes. O ASX é o primeiro a chegar por estes dias ao mercado. Segue-se, lá mais para o verão, o Colt (baseado no Clio). A decisão da Aliança que junta Renault, Nissan e Mitsubishi vai permitir, até final do ano, alargar uma gama onde já só sobravam dois modelos – Space Star e Eclipse Cross PHEV. Os únicos a cumprir as apertadas regras europeias de emissões.

Os tempos desta decisão não deram grande folga criativa à Mitsubishi e o ASX é assumidamente um Captur com uma grelha vagamente diferente e o nome da marca japonesa, por extenso, colado na porta da bagageira. A Mitsubishi assume que o próximo modelo desta estratégia, o Colt, também usa a mesma tática, ou seja, será um Clio com emblema diferente e pouco mais. Mais adiante, haverá outros modelos que, apesar de recorrerem a plataformas da Renault, terão um outro nível de diferenciação.

Mas, vamos às notas destes dias de convívio com o ASX. No interior há plásticos suaves e de boa qualidade nas áreas superiores, com materiais rígidos em zonas mais escondidas, mas sempre com montagem e acabamento bastante aceitáveis. A posição de condução é elevada, não há nada de estranho no que toca a ergonomia, com todos os comandos no sítio certo, sendo que este ASX pede emprestado ao irmão gémeo da Renault um bom equilíbrio entre conforto e comportamento dinâmico.

Esta versão, movida por um 1.3 turbo a gasolina mild hybrid (ou semi-híbrido como a Mitsubishi o classifica), debita 160 cv e permite ritmos mais animados, sempre com o chassis a acompanhar, sem queixas, os desejos de quem vai ao volante. A suspensão, que nesta versão mais potente tem afinação mais firme, controla de forma eficaz os movimentos laterais em curva, mas sem comprometer demasiado o conforto. A propósito de motorização, o capot esconde um pormenor curioso. Este motor é, no final do dia, a grande característica diferenciadora entre o ASX e o Captur, já que não está disponível no modelo da Renault.

A caixa de dupla embraiagem e sete relações ajuda à descontração, num SUV que se destaca pela facilidade de condução e pelo à vontade em percursos urbanos ou em estrada aberta. Com algum cuidado no pé direito é relativamente fácil chegar a consumos bem simpáticos em estrada, na casa dos 5l/100 km. Em cidade, este ASX 1.3 é bem menos poupado e torna-se difícil baixar dos 6l/100 km.

A Mitsubishi pede 29.990€ pelo ASX 1.3 DI-T, que só está disponível no nível mais alto de equipamento. A oferta de série é bastante completa e pouco lhe falta, destacando-se uma longa lista de sistemas de segurança e de apoio à condução que são já quase norma neste segmento. Esta não será, certamente, a versão mais vendida do novo ASX, mas não deixa de ser um ambicioso e interessante clone.

Texto: Paulo Tavares