O seu carro está a espiá-lo?

10/09/2023

E se o seu automóvel estiver a espiar a sua atividade sexual?

Com a democratização da tecnologia em automóveis cada vez mais autónomos, as questões relacionadas com a privacidade estão a subir de tom, enquanto não se definem fronteiras. Qual é afinal o limite para a recolha e tratamento de dados?

Um estudo da Mozilla Foundation sobre as políticas de privacidade das marcas automóveis vem agora alimentar a desconfiança em torno desta matéria, com resultados que são, no mínimo, preocupantes: em 25 empresas analisadas, nenhuma obteve uma boa classificação. As marcas de automóveis não estão a dar aos condutores o controlo suficiente sobre a privacidade dos seus dados.

“Os automóveis parecem ter passado despercebidos no radar da privacidade e espero que possamos ajudar a remediar esse facto, porque são verdadeiramente terríveis”, afirmou Jen Caltrider, o principal responsável da investigação, citado pela Euronews. “Os carros têm microfones e as pessoas têm todo o tipo de conversas sensíveis dentro deles. Os carros têm câmaras que estão viradas para dentro e para fora”.

No seu inquérito “Privacy Not Included”, a Fundação Mozilla revela que a maioria dos principais fabricantes admite que pode estar a vender as informações pessoais que recolhe dos clientes; metade afirmou que as partilharia com governos e autoridades sem exigirem uma ordem judicial. A Nissan foi uma das seis empresas automóveis que afirmaram poder recolher “informações genéticas” ou “características genéticas”, diz o relatório, onde também está descrito que a marca recolhe informações sobre “atividade sexual”, mas não explicou como.

Ao todo, 25 marcas de automóveis tiveram os seus avisos de privacidade revistos, e nenhuma delas cumpriu os padrões mínimos de privacidade da Mozilla. Só Renault e Dacia oferecem aos condutores a opção de apagar os seus dados, diz a entidade que mantém o navegador Firefox.

“Cada vez mais, a maior parte dos carros são escutas telefónicas sobre rodas”, disse Albert Fox Cahn, investigador de tecnologia e direitos humanos Carr Center for Human Rights Policy de Harvard. “Os aparelhos eletrónicos que os condutores pagam cada vez mais para instalar estão a recolher cada vez mais dados sobre eles e os seus passageiros”.

Para estes responsáveis, o facto de as normas de segurança serem vagas também constitui uma grande preocupação, dado o historial de suscetibilidade dos fabricantes de automóveis à pirataria informática.

Os investigadores da Mozilla afirmaram que a maioria das marcas de automóveis ignorou as perguntas que lhes foram enviadas por correio eletrónico sobre o assunto.