Para começo de conversa, os veículos clássicos são parte do património histórico do século XX, assim como os prédios antigos tombados pelas entidades de defesa da cultura arquitetónica. E ninguém cogita pôr abaixo esses imóveis porque são menos seguros que os edifícios “inteligentes” atuais… Ora, se os veículos antigos têm o mesmo valor histórico e cultural que as edificações de outras épocas, então devem ser igualmente preservados.
Os automóveis antigos até podem ser menos seguros que os novos, quando os colecionadores os mantêm originais e não promovem nenhuma atualização mecânica, como instalação de freios a disco, injeção eletrônica ou cintos de segurança – modernização conhecida como “restomod”. Mas também é verdade que os verdadeiros antigomobilistas conhecem muito bem as limitações mecânicas das suas máquinas e as conduzem com muita cautela. Por respeito à segurança e por saberem das dificuldades para encontrar peças de reposição, evitam ao máximo qualquer tipo de imprudência – o que é bem mais raro entre quem dirige automóveis velozes contemporâneos. Por outro lado, SUVs e picapes gigantes são muito mais letais para os motoristas de veículos menores em colisões.
Por fim, há a alegada questão da poluição. Claro que os catalisadores e a eficiência dos motores térmicos modernos reduziram em muito a emissão de gases de efeito estufa. Mas os poderosos propulsores necessários para mover SUVs e picapes de várias toneladas (veículos de péssima eficiência aerodinâmica) consomem muito mais combustíveis fósseis do que os “motorzinhos” de baixa potência da maioria dos automóveis de antigamente e, consequentemente, acabam poluindo mais. Além disso, os veículos clássicos geralmente rodam poucas centenas de quilômetros por ano, o que reduz o volume de suas emissões a níveis insignificantes.
Fotografias: Eduardo Scaravaglione
Irineu Guarnier Filho é brasileiro, jornalista especializado em agronegócios e vinhos, e um entusiasta do mundo automóvel. Trabalhou 16 anos num canal de televisão filiado à Rede Globo. Actualmente colabora com algumas publicações brasileiras, como a Plant Project e a Vinho Magazine. Como antigomobilista já escreveu sobre automóveis clássicos para blogues e revistas brasileiras, restaurou e coleccionou automóveis antigos.