No final da década de 20 do século passado Espanha tentava ainda recuperar a sua influência internacional e imagem após a instabilidade política que se fazia sentir há muito e que se acentuou a partir de 1917, quando no espaço de seis anos, até 1923, o país chegou a ter treze governos diferentes. Em Setembro desse ano dá-se o golpe de estado liderado pelo General Primo de Rivera que, com a conivência do Rei Afonso XIII, instaura a conhecida Ditadura de Primo de Rivera, que viria a trazer alguma estabilidade ao país nos anos que se seguiram.
É neste contexto de credibilização de Espanha fora de portas e de algum optimismo, que o país se propõe a celebrar no ano de 1929 duas grandes exposições, a Internacional de Barcelona e a Exposição Ibero-Americana de Sevilha, esta última inicialmente planeada para 1927.
Noutra tentativa de afirmação internacional, Espanha foi um dos países fundadores do Bureau International des Exposition (BIE), tendo assinado a Convenção de Paris no ano de 1928, enquanto trabalhava já na organização do certame catalão. A Exposição Internacional de Barcelona é reconhecida com o estatuto Universal, sendo dos últimos eventos deste tipo realizados antes da entrada em funcionamento do BIE em 1931.
Para um projecto tão ambicioso foram também realizadas várias melhorias na rede viária e seus equipamentos para que as deslocações pelo país fossem menos penosas para os automobilistas, deu-se a génese da rede de Paradores Nacionales de Turismo, de forma a que condutores e passageiros tivessem instalações de qualidade onde se hospedar nas tiradas mais longas. É de referir que os Paradores foram uma das principais influências para a rede de pousadas portuguesas que surgiu nos anos 40 e que ainda hoje detêm uma vitalidade assinalável.
A indústria automóvel espanhola estava também bastante vulnerável não só devido à situação do país, que apesar da posição neutral na Primeira Grande Guerra, teve problemas derivados da escalada internacional do conflito, mas também devido ao parco grau de industrialização e estandardização, que não era comparável ao de outros países. No entanto existiam algumas marcas que granjeavam prestígio fora de portas pelo seu luxo, desempenho e características técnicas, sendo provavelmente a mais famosa a Hispano-Suiza, emblema que foi recentemente recuperado para os nossos dias e que disponibiliza um exclusivo desportivo eléctrico produzido em pequenas quantidades.A Hispano-Suiza rivalizava directamente naqueles anos com a Rolls-Royce ou Bentley e, além do luxo, os seus modelos apresentavam performances e soluções técnicas dignas de nota.
Como mostra de vitalidade a marca propõe-se a apresentar a sua oferta nas duas grandes exposições, com pavilhão próprio onde também dava grande ênfase ao seu fabrico aeronáutico. Esta iniciativa também convinha ao governo, que com esta e mais algumas presenças empresariais poderia reivindicar o seu espaço numa Europa industrializada.
Para aumentar o impacto da sua participação nos dois eventos a Hispano-Suiza fez a apresentação oficial do seu modelo T-56 Bis, também conhecido como H6C Bis, gama já produzida na fábrica da marca em França, mas que passaria à produção na fábrica de La Sagrera em Barcelona.
O monarca Afonso XIII era também um aficionado pelos automóveis e tinha mesmo uma predileção pelos Hispano-Suiza, por isso nas suas visitas, em Outubro de 1929, tanto à exposição catalã como à andaluza, deslocou-se num veículo da marca e inaugurou os seus pavilhões, tendo mesmo sido guiado pelo presidente da marca, Damián Mateu, em Barcelona. Nestas visitas reais o monarca fez-se acompanhar também pelo presidente do Governo, o General Primo de Rivera, e outros representantes do estado.