Os mais musculados Renault Clio da primeira geração

10/03/2024

POR TIAGO NOVA

O Renault Clio veio substituir o Renault 5, no entanto, era necessário desenvolver um sucessor para a versão mais desportiva, o Renault 5 GT Turbo. A solução de motor sobrealimentado foi descartada, com o desenvolvimento de um motor mais moderno, de maior cilindrada, multiválvulas e dupla árvore de cames à cabeça.

O projecto desta versão desportiva do Clio iniciou-se quase após a definição do design geral do modelo, e logo desde cedo foi decidido que o modelo deveria ter as vias mais largas. O departamento de design da Renault desenvolveu dois designs distintos para esta versão, que se designara Clio 16 Soupapes (que significa válvulas em francês). Um deles tinha os alargamentos em plástico inspirados no 5 GT Turbo, e o outro tinha os painéis da carroçaria alargados com um aileron traseiro a meio da tampa da bagageira. Destes dois protótipos foram retirados elementos para o modelo de produção, que iria ser conhecido como Clio 16S em França e Clio 16V para o resto do mundo. A apresentação deste modelo ocorreria em Novembro de 1990, na pista de Nogaro, com o piloto Jean Ragnotti.

Em 1991 é então lançada a primeira versão verdadeiramente desportiva do Clio, o Clio 16S, equipado com o motor F7P de 1,8 litros de cilindrada, duas árvores de cames à cabeça e 16 válvulas, para desenvolver 140cv ou 137cv nas versões com catalisador. Com este motor, o Clio atingia os 212 km/h ou 209 km/h, respectivamente, de velocidade máxima e chegava aos 100 km/h em cerca de oito segundos. A travagem e a suspensão foram melhoradas, para estar em linha com o aumento de potência. Acoplado ao motor estava a caixa de cinco velocidades JB3. O coeficiente aerodinâmico é de 0.33, um número bom para um utilitário.

Exteriormente, os para-choques eram mais agressivos feitos em material compósito Naryl com um lip na frente, uma entrada de ar em “castelo” no capot, guarda-lamas mais largos, tanto à frente como atrás e as icónicas jantes Speedline Turbine. No entanto, as saias laterais utilizadas no Clio RSi e no Baccara não vinham de séria na versão mais desportiva. No interior salta à vista um conjunto de manómetros auxiliares, com pressão e temperatura do óleo, assim como o nível, no entanto este só dá informação aquando do arranque do motor. Os bancos também são mais desportivos, com um maior apoio lateral e têm um tecido específico, além do volante desportivo de três braços.

Em 1994, com a chegada da segunda fase do Clio, o Clio 16V foi também alterado, tornando-o um pouco mais pesado. Para além das alterações que a restante gama sofreu, o Clio 16V tem outras que o distingue do anterior. Para começar, a designação 16S desaparece, sendo todos vendidos como Clio 16V, mesmo em França. De seguida, recebeu as jantes de cinco braços Vega de 15” do Renault 19 16V, um volante mais moderno com airbag e foi adicionado um imobilizador. No restante, permaneceu inalterado, incluindo a mecânica. Em 1996, o modelo é descontinuado, não havendo sucessor na terceira fase do Clio.

Mas, sem dúvida que a versão mais icónica da primeira geração do Clio é o Clio Williams, lançada em 1993, com base no Clio 16V. De salientar que a Williams em nada contribuiu para a construção desta versão, sendo somente utilizado o seu nome para comemorar as conquistas da Williams-Renault na Fórmula 1, com o piloto Nigel Mansell, campeão em 1992. O Clio Williams foi desenvolvido pela Renault Sport, em Dieppe, como modelo de homologação para ralis. Esta versão seria limitada a apenas 2500 unidades, número necessário para homologação, mas devido à grande procura, a Renault acabaria por construir mais de 12.000 unidades, distribuídas por três fases.

A primeira versão do Clio Williams é a mais procurada por ter uma placa numerada no tablier. Exteriormente, o Clio Williams distingue-se do 16V, pela cor azul única Sports Blue Metallic 449, emblemas Williams na lateral e traseira, assim como pelas icónicas jantes Speedline douradas de 15”, envoltas na época nuns pneus Michelin Pilot HX MXV3A, na medida 185/55 R15, não esquecer também do emblema lateral 2.0 a indicar que este Clio tem um motor especial. No interior, tem os mostradores de fundo azul, carpete azul, cintos azuis, bancos com tecido específico e o logótipo da Williams bordado no encosto de cabeça e moca da alavanca das velocidades também em azul. Como opção poderia vir ainda com um porta-fatos na chapeleira.

O motor utilizado é o F7R, que tem por base o utilizado no Clio 16V mas é bastante diferente, com válvulas maiores, árvores de cames alteradas, touches hidráulicas, cambota melhorada do Clio 1,9D por ser mais resistente, colector de escape 4-1, distribuição redesenhada, e agora com dois litros de cilindrada, devido ao diâmetro e curso alargados, desenvolvendo 150 ou 147cv na versão com catalisador, às 6100 rotações por minuto e 175Nm de binário às 4500 rotaões por minuto, com 90% do binário logo às 2500 rotações por minuto. Com este motor, a velocidade máxima passa para os 215 km/h e atinge os 100 km/h em 7,8 segundos. Acoplado ao motor está uma caixa de cinco velocidades JC5, específica do Clio Williams. Além das alterações do motor, foi ainda adicionado um permutador de óleo, a suspensão é mais firme, as vias são mais largas em 34mm, um camber mais agressivo das rodas da frente e a barra estabilizadora é mais grossa 1mm. O peso situa-se nos 1010 kg.

Após os primeiros 500 exemplares, a Renault produziu um total de 5417 unidades dos Clio Williams da primeira fase. Em 1994 introduziu, a segunda série do Clio Williams, que mais não era do que aplicar a actualização presente na restante gama, com a adição dos espelhos eléctricos, e sem a placa com o número de série. A derradeira versão, introduzida em 1995, tinha como únicas diferenças visuais a introdução de tecto de abrir e a cor azul mais clara, designada Mónaco Blue 432, assim como um sistema de ABS. Estas duas fases são conhecidas por Williams 2 e Williams 3, com uma produção de 5065 e 1618 exemplares, respectivamente. Tal como no Clio 16V, o Clio Williams não continuou na terceira fase da primeira geração do Clio.

Apesar de estas versões serem especiais só por si, ainda foram lançadas umas ainda mais especiais. Na Alemanha, e tal como o Clio RTi Grand Prix, também foi lançado, em 1995, o Clio 16V Grand Prix, limitado a apenas 500 unidades, com a cor exterior Mónaco Blue e logótipos Grand Prix. No interior tinha controlos do rádio na coluna de direcção, tapetes específicos e medidor de temperatura exterior.

O Clio Williams também recebeu uma versão especial, lançada em 1995 e designada Clio Williams Swiss Champion, limitada a 500 unidades para o mercado suíço. Esta versão distingue-se do Clio Williams tradicional, através dos logótipos exteriores e a cor azul Metil 432. No interior tinha um sistema de som melhorado com um rádio CD Sony com comandos na coluna de direcção e caixa de seis CD’s no porta-luvas, chapeleira específica com duas colunas de 120w, um volante exclusivo Personal e placa metálica com o número de série.

Não poderia terminar sem fazer referência aos Clio Dimma, alterados pela britânica Dimma, famosa pelos seus kit’s de alargamentos aplicados em vários automóveis Kit Car e Maxi de ralis e de transpor esses kit’s para os automóveis de estrada. Os Clio 16V e Williams não foram excepção, com vários alterados pela Dimma, tanto a nível estético, como mecânico, com até inclusão da mecânica do Ford Escort RS Cosworth e sistema 4×4, assim como a inclusão de compressores volumétricos nos Clio 16V passando a ter uma potência de 230cv. No total, a Dimma produziu originalmente 38 Clio 16V, incluindo três Clio 16V Supercharged, e apenas quatro Clio Williams, todos eles ostentam uma placa com o número de série.