Peugeot 205 Rallye, o desportivo sem filtro

14/01/2024

Em 1988, nem todos os entusiastas conseguem adquirir um 205 GTi 1.6 de 115 cavalos, sendo que também não se podiam contentar com um 205 GT ou XS de apenas 85. Havia um certo vazio na gama a corrigir. Além disso, a marca de Sochaux pretende propor um automóvel de corrida para a categoria 1300cm3, bastando produzir, pelo menos, 5000 exemplares para homologação.

Razões comerciais e desportivas, num contexto bastante favorável para a Peugeot, que goza então de um certo prestígio no desporto automóvel (com os sucessos do 205 T16, no campeonato do mundo de ralis, em 1985 e 1986, e depois, no Dakar, em 1987 e 1988), estão na origem deste novo 205 com um nome bastante sugestivo: “Rallye”.


À partida, vemos um 205 algo básico, com jantes em ferro de 13 polegadas, um spoiler sem faróis de nevoeiro… Mas com os seus guarda-lamas alargados, a sua cor branca “Meije” e os seus stickers PTS (Peugeot Talbot Sport), a pequena bomba francesa tem um pequeno “je ne sais quoi” de 205 T16 do Grupo B!

Mesmo refrão no habitáculo, com um tablier digno de um básico Junior, uma consola central reduzida, sem rádio, um porta-luvas todo aberto… Mas a alcatifa vermelha, os cintos de segurança vermelhos, as baquets do GTi com o símbolo PTS (igualmente presente no centro do volante) e o conta-rotações no quadrante, confirmam a impressão que o exterior nos dá: este 205 está focado no essencial, dispensando a panóplia mais “bourgeoise” de um GTi.


O motor, preparado pela Danielson, é o 1294cm3, que os proprietários do Citroën AX Sport já conhecem, mas aqui com dois carburadores duplos Weber (Solex para o AX). A potência obtida é de 103 cavalos, mas graças ao seu peso contido (cerca de 800 quilos), as performances não são nada ridículas face a um 205 GTi 1.6 ou um Golf GTi, mais potentes. O motor é robusto, mas precisa de maior atenção, sobretudo os carburadores. Por seu lado, a caixa é de cinco velocidades, igual à do XS / GT.

Todos nós conhecemos o 205: um utilitário que levou os filhos à escola, trouxe as compras do supermercado, etc… Mas esqueça isso com o Rallye. O conforto é mínimo e o motor não se adapta à circulação urbana. Este, só gosta de altas rotações (é um automóvel de corrida, certo?). Então que assim seja!


Ao contrário de muitos desportivos actuais, o Rallye não tem modos de condução programados, botões on/off para isto e para aquilo, configurações, assistências e mais blá, blá, blá! Aqui o modo de condução é determinado pelo seu pé direito, mais nada!

Curvas e contra-curvas, eis o terreno predilecto do 205 Rallye, sendo que o chassis, particularmente bem trabalhado pela Peugeot, lhe confere um comportamento muito divertido para quem gosta de condução desportiva, mas sem abusar muito! E a ausência de direcção assistida, aliada à firmeza das suspensões (iguais às do GTi), permitem uma ligação directa com o piso.


Em 1990, o Rallye beneficia das pequenas alterações realizadas na gama 205: piscas brancos, ópticas traseiras, tablier mais escuro, sistema de escape e um novo sistema de admissão do ar.

É de referir, ainda, uma versão Rallye 1.4 de 75 cavalos para o mercado britânico com uma pintura amarela e uma versão 1.9 de 105 cavalos do 205 Rallye comercializada para o mercado alemão e suíço, devido às normas anti-poluição locais. E são precisamente as normas ambientais (agora a nível europeu e que entraram em vigor em 1 de Janeiro de 1993) que ditaram o fim da carreira do 205 Rallye.


O Peugeot 205 Rallye não é um automóvel para deslocações quotidianas ou passeios tranquilos, como qualquer outro 205. É sim, um veículo de corrida adaptado à estrada, em que a condução não é um meio, mas sim, um fim em si. Lembra-se que a produção devia ser de 5000 exemplares? Foram fabricados mais de 30.000. Pelos vistos, houve quem considerasse que a falta de conforto e de gadgets electrónicos não eram problemas, eram antes futilidades a menos. Para quando um 208 Rallye?