A recuperação de energia nos automóveis elétricos é uma característica que torna este tipo de veículos mais eficientes, na medida em que se aproveita energia que, de outra forma, se perderia sob a forma de calor durante a travagem. Mas quanta energia é efetivamente recuperada e qual o impacto desta tecnologia na eficiência global? O ADAC alemão decidiu que era altura de responder a esta pergunta.
Quando o veículo elétrico está a rolar e o condutor alivia o pé do acelerador ou trava, mesmo que suavemente, o motor elétrico, que normalmente impulsiona o veículo, muda de papel, tornando-se um gerador, aproveitando a energia cinética do movimento do automóvel e convertendo-a em eletricidade que reabastece a bateria.
A quantidade de energia que um veículo elétrico recupera através da recuperação depende de alguns fatores. Os veículos mais pesados podem consumir mais energia para acelerar, mas o seu impulso ajuda-os a gerar mais eletricidade durante a travagem. Da mesma forma, os motores elétricos com potências mais elevadas são melhores para converter a energia da travagem em eletricidade. Além disso, a melhor altura para maximizar a recuperação é durante a condução em cidade. As constantes paragens e arranques dão ao sistema muitas oportunidades para recuperar energia, sendo possível ganhar quilómetros. A recuperação é menos eficaz em autoestradas, com as suas velocidades constantes e travagens limitadas.A ADAC escolheu o Kesselberg da Baviera entre os Lagos Kochel e Walchensees para medir uma viagem de montanha. Para este efeito, o seu percurso e perfil de inclinação foram registados e recriados no banco de testes ADAC, uma vez que todas as influências perturbadoras do tempo e do tráfego podem ser excluídas no banco de testes e a precisão da medição é, portanto, maior do que numa condução real. O percurso de 5,5 km foi percorrido em subidas e descidas novamente, com troços com inclinação ou declive de até 10%.
Estes são os princípios essenciais da regeneração. Contudo, na prática que ganhos reais se conseguem com a regeneração?
Subidas e descidas em montanha
Para esclarecer isso, o clube automóvel alemão ADAC realizou um teste a três veículos elétricos – o Dacia Spring, o BMW i7 e o Tesla Model Y Long Range – num percurso de subida e descida.
Sem surpresa, o BMW i7 ficou em primeiro lugar na recuperação de energia em descidas. No entanto, o Dacia Spring, mais leve, revelou-se o mais eficiente em termos globais durante a viagem em montanha. A ADAC sublinha que isso demonstra o delicado equilíbrio entre o consumo de energia e a recuperação – embora os VEs mais pesados possam recuperar mais energia, também precisam de mais potência para se deslocarem.
A descer:
A subir:
O pesado BMW requer mais energia nas subidas, o Dacia, leve, requer menos energia.
Dacia Spring | Tesla Model Y | BMW i7 | |
Energia usada a subir a montanha | 26.35 kWh/100 km | 48.74 kWh/100 km | 59.34 kWh/100 km |
Energia usada a descer a montanha | -7.05 kWh/100 km | -17 kWh/100 km | -26.27 kWh/100 km |
Energia recuperada | cerca de 35% | cerca de 40% | cerca de 50% |
Uso de energia (WLTP) | 14.5 kWh/100 km | 16.9 kWh/100 km | 18.5 kWh/100 km |
Tesla Model Y: 387 kW | Peso de teste de 2.186 kg | tração integral
BMW i7 xDrive 60: 400 kW | Peso de teste de 2.830 kg | Tração integral
Em terreno plano
Para além dos percursos montanhosos, como se comportam os elétricos em condução normal em termos de regeneração?
Para perceber a capacidade de regeneração de um elétrico em terreno plano, o Green NCAP agarrou num total de 19 veículos elétricos e testou-os no banco de ensaios sob condições idênticas a 23 graus com uma bateria que não estava totalmente carregadas.
Modelo | % de energia recuperada |
Nio ET7 100 kWh | 31% |
Hyundai Ioniq 6 77,4 kWh | 29% |
VW ID.5 | 26% |
BMW i4 eDrive35 | 24% |
Tesla Model S | 24% |
XPeng G9 Long Range | 24% |
Audi Q4 e-tron 50 | 23% |
Tesla Model 3 | 23% |
Hyundai Ioniq 5 58 kWh | 22% |
MG 4 Comfort | 22% |
Renault Mégane E-Tech EV60 | 22% |
BYD Atto 3 | 21% |
Nissan Ariya 87 kWh 2WD | 21% |
Smart #3 | 21% |
Renault Kangoo E-Tech | 20% |
MG 5 Maximum Range | 19% |
Ora Funky Cat | 18% |
Cupra Born 58 kWh | 16% |
Dacia Spring | 9% |
Uma análise dos vários perfis de percurso WLTP mostra que a maior parte da energia é recuperada em cidade, com uma média de 33%. Mesmo o pior veículo do estudo recupera 15% nas áreas urbanas. Em média, o desempenho de recuperação fora da cidade é de 21%, enquanto em autoestrada (com uma velocidade máxima de 130 km/h) é de apenas 12%.
Estas diferenças explicam-se, pois, enquanto no ciclo urbano muitas vezes temos que travar (devido a semáforos, cruzamentos, trânsito e obstáculos vários), em estrada nacional ou autoestrada estamos a lidar com um tráfego que flui de forma mais uniforme. Portanto, há muito menos situações para o carro recuperar energia. Além disso, à medida que a velocidade aumenta, a resistência do ar tornam-se mais importantes.