Renault lança Estafette elétrica. «Estamos prontos!», diz Heinz-Jürgen Löw

19/09/2024

No salão de Hannover (‘IAA Transportation’), na Alemanha, a Renault revelou o novo ‘concept’ Estafette, proposta 100% elétrica que antecipa a futura geração de comerciais ligeiros assentes na plataforma FlexEVan.

 

Texto João Ouro

A versão definitiva estará no mercado daqui a dois anos e não será muito diferente da do protótipo, pelo menos é o que está ‘em cima da mesa’, garantem os responsáveis da marca francesa.

«Foi fácil encontrá-lo…», afirma Heinz-Jürgen Löw, Vice-Presidente da Renault LCV (veículos comerciais ligeiros), acerca do nome Estafette, lembrando a história da marca e a ligação natural ao icónico modelo comercializado entre 1959 (o primeiro Renault de tração à frente) e 1980 – depois substituído pelo Trafic.

O mesmo nome servirá, agora, para designar a gama 100% elétrica do furgão compacto ligeiro que estará à venda em 2026, assente na novíssima plataforma FlexEVan, esta última derivada do mais abrangente conceito Flexis, desenvolvido em conjunto pela Renault, Volvo Trucks e CMA CGM Group.

 

Os responsáveis da Renault confirmam que a versão definitiva não será muito diferente da do protótipo, adiantando que ainda não foi decidido se se mantêm ou não as câmaras laterais, em vez dos convencionais espelhos retrovisores. Isso é possível, claro, mas importa saber se o caderno de encargos incluirá ou não esse tipo de tecnologia, tendo em conta a relação custo-benefício. Resta esperar.

Mais provável é que se mantenha (quase) todo o design futurista do ‘estudo’, assim como as diversas soluções apontadas, sendo certo o formato e as dimensões, o teto alto e a grande cabine, a relembrar várias parecenças com o Estafette original.

Com recurso à nova plataforma FlexEVan, o comprimento total atinge 4,87 metros e a largura é de 1,92 metros – muito próximo do atual Kangoo, por exemplo –, enquanto a altura máxima se coloca nos 2,59 metros, estando previstas outras variantes (talvez com teto mais baixo) e diversas combinações ou transformações ‘à la carte’, como é habitual no segmento.

A capacidade de carga anunciada é de 7,1 metros quadrados, um valor à medida do que é comum num furgão maior, como no caso do Renault Trafic, imagine-se!, sendo que a marca anuncia uma ótima manobralidade para o ambiente urbano, semelhante ao do de um Clio, tendo em conta o reduzido diâmetro de viragem, pouco acima dos 10 metros. Fácil de manobrar e de estacionar, é essa a ideia.

Na traseira, a porta vertical – tipo estore – abre até ao cimo do tejadilho, pelo que as entradas e as saídas de carga são fáceis, sem aumentar a área ‘à volta’, como acontece quando as portas abrem para fora. «Na versão definitiva haverá um puxador, tipo cabo, para se fechar esse portão de uma maneira mais fácil …», diz Yannick Bignon, diretor de design LCV (Flexi Van). À frente, as portas laterais são deslizantes, indicadas para tarefas rápidas ou ocasionais, sendo que a elevada altura do teto é mais-valia preponderante.

Outra vantagem é a de permitir um enorme à-vontade às pessoas de maior estatura, tanto na cabine como no vão de carga – até aos 1,90 metros é possível ficar de pé… –, e a possibilidade de se passar do ‘cockpit’ para essa zona sem qualquer impedimento, existindo aí uma porta automática deslizante.

Note-se que esta mesma base também poderá ter outras variantes com mais lotação (neste ‘concept’ há um único assento rotativo para o condutor, sendo que o banco do lado é rebatível…), uma vez que não se exclui eventuais versões de passageiros e/ou do tipo Camper Van, mais aventureiras. Tudo é possível.

Com um pára-brisas gigante e vertical, a cabine é ampla e panorâmica (amarelo vivo), estando o volante numa posição elevada, contando-se com um painel de instrumentação digital de 7” à frente do condutor, além de ecrã tátil central de 12” (também virado para o condutor), entre outros monitores táteis com uma série de ‘widgets’ e atalhos funcionais.

Destaca-se ainda a avançada conetividade a bordo (arquitetura SDV, ‘Software-Defined Vehicle’ da base FlexEVan, desenvolvida pela Ampere) e os tais monitores verticais de 10” instalados junto às portas, nos extremos do tablier, os quais transmitem as imagens captadas pelas pequenas câmaras de vídeo que estão no lugar dos espelhos retrovisores.

Por fora, o formato vertical é igualmente sublinhado pelo design tipo viseira de capacete, enquanto a dianteira se diferencia pela grelha translúcida e pela inovadora assinatura LED (símbolo iluminado), estando os faróis principais na zona mais inferior, junto aos pára-choques, com efeito 3D e câmara integrada. De igual modo, as jantes têm um design aerodinâmico. A cor exterior cinzenta ‘Helium Grey’ e o tejadilho ‘Tropical Yellow’ (superfície em vidro) rematam a estética tão irreverente.

A comunicação para o exterior é efetuada através de ecrãs/’placards’ eletrónicos que transmitem mensagens, as quais aparecem na grelha frontal, nas portas e no topo do portão traseiro.

A produção da nova gama Estafette ocorrerá na fábrica de Sandouville, na Normandia (Le Havre, inaugurada em 1964), unidade que se especializou desde 2014 nos veículos comerciais ligeiros da marca, onde também se fabrica atualmente a gama Trafic, tendo existido um investimento acima dos 300 milhões € para o arranque do desenvolvimento e da produção da nova geração dos veículos comerciais.

«Estamos prontos!», salienta Heinz-Jürgen Löw, Vice-Presidente da Renault LCV, afirmando que a Renault está preparada para os anos que se aproximam, sem medo dos atuais desafios que se colocam à indústria como um todo (descarbonização, emissões e a pretensa ‘guerra’ com a China…) e, em particular, perante a acelerada eletrificação que se verifica na categoria dos comerciais ligeiros, sem esquecer, até, a aposta no hidrogénio como energia alternativa.

«Não temos medo. Estamos prontos para esse caminho…!», diz, novamente, Heinz-Jürgen Löw, adiantando que «para a maioria dos clientes, os modelos elétricos são a grande solução, embora o hidrogénio surja, cada vez mais, como escolha complementar. E não como concorrente».

O ‘concept’ Estafette é, para já, a base da verdadeira revolução protagonizada pela Renault, sem desvalorizar a forte presença de outros adversários de peso – como é o caso, por exemplo, dos futuros comerciais ligeiros da Kia –, igualmente revelados no concorrido (e gigante!) salão de Hannover, na Alemanha.

Num caso como noutro, uma derradeira certeza: as cidades e os automóveis do transporte urbano do futuro, inclusive da logística, terão, seguramente, outra… aparência. Nenhuma dúvida acerca disso! Basta vê-los, já hoje. Mais compactos, conectados e, obviamente, mais ecológicos. É exigível que assim seja.