Carlos Tavares, CEO da Stellantis reuniu as tropas para anunciar um investimento de 30 mil milhões na eletrificação das marcas do grupo até 2025. A revelação foi feita, ontem, numa longa “maratona” digital designada “Stellantis EV Day 2021”, onde, ao longo de quase quatro horas foram dados a conhecer os caminhos a percorrer por cada uma das marcas com vista à descarbonização.
“A nossa viagem de eletrificação é, possivelmente, o tijolo mais importante a colocar, numa altura em que começamos a desvendar o futuro da Stellantis, fazendo-o apenas seis meses após o seu nascimento, e estando agora toda a Empresa em pleno modo de execução para superar as expectativas de cada cliente e acelerar o nosso papel na redefinição da forma como o mundo se desloca”, afirmou Carlos Tavares. “Contamos com a escala, as competências, o espírito e a sustentabilidade para alcançar margens Operacionais correntes de dois dígitos, para liderar a indústria com eficiências de referência e entregar veículos eletrificados que inflamam as paixões”, sublinhou.
A conferência digital deu conta da forte ambição do grupo para os próximos anos. E deixou a promessa de lançamento de modelos “entusiasmantes” em todas as marcas, com destaque para o regresso do Opel Manta, em versão “verde”, mas com o seu ADN perfeitamente intacto.
Uma estratégia da Stellantis que procurará aproveitar a sua “experiência interna”, mas também “as parcerias e joint ventures para disponibilizar tecnologias avançadas a preços acessíveis”. No fundo, a ideia será “alcançar, a médio prazo, e de forma sustentável, uma margem operacional corrente de dois dígitos”, preconizou o CEO.
“O cliente está sempre no coração da Stellantis e o nosso compromisso com este plano de investimento de 30 mil milhões de euros é o de oferecer veículos icónicos com o desempenho, a capacidade, o estilo, o conforto e a autonomia elétrica que se encaixem perfeitamente no seu quotidiano”, garantiu Carlos Tavares. “A estratégia que hoje definimos concentra a quantidade ideal de investimento na tecnologia ideal para chegar ao mercado no momento certo, garantindo que a Stellantis potencia a liberdade de movimentos da forma mais eficiente, acessível e sustentável”, sublinhou.O regresso do Opel Manta, em versão “verde”, mas com o seu ADN perfeitamente intacto, foi um dos pontos altos do Stellantis EV Day 2021
Investimento vs retorno
Todo o investimento reclama o seu retorno. E a Stellantis planeia alcançar uma rentabilidade acrescida nos próximos anos. Desde logo, através de um plano de redução dos custos das baterias e pela otimização contínua dos custos de distribuição e de produção, bem como pela realização de novas fontes de receitas, em particular dos serviços conectados e dos futuros modelos de negócio de software. Como resultado, a Stellantis aponta a uma margem operacional corrente de dois dígitos, de forma sustentável a médio prazo (até 2026).
Mais. A Stellantis assumiu a intenção de “tornar-se líder” de mercado em matéria de veículos de baixas emissões (LEV). Até 2030, o mix de LEV do grupo para automóveis de passageiros na Europa tem como objetivo crescer de forma constante para mais de 70%, 10% acima dos pressupostos atuais da indústria para o mix do mercado global. Nos EUA, o mix LEV para passageiros e comerciais ligeiros deverá ser superior a 40% até 2030.
Redução de custos
O fornecimento de baterias EV da empresa pretende garantir mais de 130 gigawatts/hora (GWh) de capacidade até 2025 e mais de 260 GWh até 2030. “As necessidades de bateria e componentes EV serão satisfeitas com recurso a um total de cinco “gigafactories” na Europa e América do Norte, complementadas com contratos de fornecimento adicionais e parcerias para responder à procura total.
Nesse sentido, a Stellantis assinou “Memorandos de Entendimento” com dois parceiros de processo de exploração geotérmica de lítio na América do Norte e na Europa, de modo a garantir um fornecimento sustentável de lítio, identificado como a matéria-prima para baterias mais crítica no que diz respeito à disponibilidade, bem como para ter a capacidade de integrar o lítio na cadeia de abastecimento, uma vez tal se encontre disponível.
Além das estratégias de fontes de abastecimento, a experiência técnica e as sinergias de produção permitirão baixar os custos das baterias. Os custos dos packs de baterias para veículos elétricos deverão ver-se reduzidos em mais de 40% entre 2020 e 2024 e em 20% adicionais até 2030. Todos os aspetos do pack de baterias desempenham um papel na redução dos custos, via a otimização do conjunto do pack, a simplificação do formato dos módulos, o aumento do tamanho das células e a melhoria dos conteúdos químicos da bateria.
Cliente no centro
A acessibilidade é uma prioridade na Stellantis, uma vez que a empresa tem como objetivo fazer com que o custo total de propriedade dos EV seja equivalente ao dos veículos com motores de combustão interna, até 2026.
Para a Stellantis, a eletrificação não é um plano do tipo “uma solução única para todos” (‘one size fits all’). Cada uma das 14 marcas icónicas da Empresa está empenhada em oferecer soluções totalmente eletrificadas best-in-class e fazê-lo de forma a reforçar o ADN de cada marca. Cada uma delas com a sua própria assinatura “elétrica”: Abarth – “Heating Up People, But Not the Planet”; Alfa Romeo – “From 2024, Alfa Becomes Alfa e-Romeo”; Chrysler – “Clean Technology for a New Generation of Families”;
Cargas e recargas
A Stellantis acredita que as autonomias e as recargas rápidas serão fundamentais para a aceitação generalizada dos veículos BEV por parte dos consumidores. E vai ao encontro deste desafio com um conjunto de BEV que irão proporcionar autonomias entre os 500 e os 800 km (300 a 500 milhas) e com capacidade de carregamento rápido líder da classe, de 32 km (20 milhas) por minuto.
Neste caso, a estratégia passa por oferecer um conjunto completo de soluções para clientes individuais, empresariais e frotistas, que ajudam a simplificar a posse destes veículos. Os esforços irão incluir o fornecimento de ofertas de carregamento inteligente para o quotidiano, utilizando fontes de energia verde, aproveitando as parcerias existentes para expandir as opções de carregamento e acelerar o uso da rede inteligente.
A empresa pretende ainda apoiar o desenvolvimento de redes de carregamento rápido em toda a Europa, possibilitada por um “Memorando de Entendimento” assinado entre a Free2Move eSolutions e a Engie EPS. A intenção é replicar o modelo de negócio da Free2Move eSolutions no mercado norte-americano.
Quatro plataformas
Tanto quanto foi dado a conhecer no Stellantis EV Day 2021 são quatro as plataformas BEV que formam a espinha dorsal dos veículos eletrificados das marcas do grupo. As plataformas são projetadas com um elevado nível de flexibilidade (comprimento e largura) e partilha de componentes, proporcionando economias de escala, uma vez que cada plataforma pode suportar uma produção máxima de dois milhões de unidades por ano.
Todas as quatro plataformas com uma autonomia máxima própria: STLA Small, (500 km); STLA Medium (700 km); STLA Large (800 km) e STLA Frame (800 km).
A propulsão é assegurada por uma família de três módulos elétricos (EDM) que combinam um motor, uma caixa de velocidades e um inversor. Estes EDM são compactos, flexíveis, podem ser facilmente dimensionados e também configurados para tração dianteira, tração traseira, tração integral e 4xe. A combinação das plataformas, dos EDM e das baterias de elevada densidade energética irá permitir fornecer veículos best-in-class em termos de eficiência, autonomia e recarga. Um programa de atualizações de hardware e de atualizações de software em modo over-the-air permitirá prolongar a vida das plataformas mesmo na próxima década. A Stellantis irá desenvolver software e controlos internamente para manter as características específicas de cada um das marcas do grupo.
Os packs de baterias serão adaptados para vários veículos: desde propostas urbanas mais pequenas, a conjuntos mais densos em termos energéticos para veículos de performance e comerciais ligeiros. A utilização de duas soluções químicas para baterias está prevista para 2024. Dois anos depois, em 2026, será introduzida a primeira tecnologia competitiva de baterias em estado sólido.
A Stellantis conta atualmente ou está a concluir várias joint ventures tecnológicas chave, que vão desde operações de e-powertrain e e-transmission até à química inerente à produção de pilhas de baterias, bem como de cockpits digitais e serviços conectados personalizados.