Quem frequentou o liceu no início dos anos 90 do século XX, certamente terá memória do veículo de duas rodas mais popular entre os adolescentes dessa década: a Yamaha DT 50 LC.

 

Este motociclo relativamente simples, tinha um design apelativo, um motor extremamente fiável e era sinónimo de liberdade e independência na mobilidade dos jovens da altura. Claro que para os rapazes era também motivo de popularidade junto das raparigas, e um ótimo pretexto para levar a namorada a casa.

O seu sucesso foi tão grande no nosso país que até tivemos direito a uma edição especial chamada “Cabo da Roca”. Depois do final da sua produção em 2000 não houve outra motorizada com a mesma importância para a juventude em Portugal.

 

Os veículos elétricos Cake são fruto do génio do empreendedor sueco Stefan Ytterborn, que já tinha criado em 2005 a marca de proteções e vestuário para desportos radicais POC. Depois de vender a empresa, dedicou-se aos motociclos construídos à volta de um motor elétrico baseado na tecnologia de ímanes permanentes interiores refrigerado a ar, que utiliza menos metais raros e é feito em alumínio aeroespacial para ser leve e compacto.

A Cake Kalk tem até
280 Nm de torque
na roda traseira

A potência não foi sacrificada, e no modelo Kalk, criado exclusivamente para ser utilizado em fora de estrada produz 15 cv e até 280 Nm de torque na roda. Na versão testada, Kalk&, que pode circular na estrada, os valores foram reduzidos para uns ainda assim significativos 10 cv e um máximo de 252 Nm.

Com um prémio Red Dot Award na categoria de motos elétricas em 2019, o design e a ergonomia da Kalk& (and), estão algures entre uma bicicleta de downhill e uma moto 125 cc de motocross. Apetrechada com todos os elementos legais para poder circular na estrada, pode ser conduzida por titulares de carta A1.

Com uma bateria de 2,6 kWh, a marca estima uma autonomia até 80 quilómetros à velocidade máxima de 80 km/h. Pode ser convenientemente retirada para carregar em casa, mas tanto o carregador, como os conectores são proprietários, o que impossibilita a hipótese de utilizar a rede de carregadores públicos ou uma wallbox para o efeito. No entanto, a reduzida capacidade da bateria permite uma carga completa do 0 aos 100% em três horas, ou até aos 80% em apenas duas horas.

Tendo em conta a distância média que a maioria das pessoas percorre até ao trabalho: segundo o INE são 13,4 km na área metropolitana do Porto e 14,8 km em Lisboa, a autonomia da Kalk& deverá ser suficiente para uma utilização como meio de transporte diário e poupar imenso tempo no processo.

 

A Kalk& tem três modos de condução: 1 – Explore; limitado a 45 km/h, proporciona 3-4 horas de autonomia. 2 – Enduro; entre 1-2 horas de condução, e 3 – Excel; que disponibiliza o torque e velocidade máximos até 1 hora de utilização. Para além disso tem ainda três modos de regeneração de energia: Freewheel; roda livre, em que não é feita qualquer regeneração, 2-stroke; que simula o efeito de travão-motor de uma moto a 2 tempos com regeneração, e 4-stroke; com o comportamento de uma moto a 4 tempos e recuperação de energia.

Não tem qualquer ajuda eletrónica, nem controlo de tração, nem mesmo ABS

Com tanto torque disponível, o receio de ser algo impossível de controlar desvanece-se nos primeiros metros em que se rola com a Kalk&, pois não existe qualquer ajuda eletrónica tal como controlo de tração, nem mesmo ABS. O software que controla o acelerador está precisamente calibrado para uma entrega de potência muito progressiva e linear.

Os 910 mm de altura do banco ao solo não levantaram problemas a alguém com 1,70 m. E o facto de pesar apenas 79 kg, inspira confiança suficiente para circular na cidade sem problemas. A ergonomia é boa, mas o assento é algo duro, o que não deverá ser um problema em trajetos curtos. Os espelhos para além de não estarem bem conseguidos esteticamente, são difíceis de regular. O design minimalista não previu um local para guardar o carregador, por isso, terá de ser transportado numa mochila para segurança em viagens maiores.

No nosso teste em percurso urbano conduzimos cerca de 18 quilómetros, sem preocupações no modo 2 com a regeneração em 2-stroke, chegando ao destino com apenas duas das cinco barras disponíveis no mostrador do estado da bateria. Segundo as indicações no site da Cake, cada barra corresponde a 20% de carga, pelo que concluímos ter ainda 40% de bateria disponível. Funciona, mas preferíamos ter uma opção no mostrador que indicasse a percentagem de carga restante.

Por mais sentido que faça a utilização da Kalk& como meio de transporte urbano, o seu aspeto desafia a ir para fora de estrada com ela. Aceitámos o desafio e assim o fizemos. Como o local onde queríamos andar estava a 20 quilómetros de distância, optámos por colocá-la num reboque para não gastar a bateria no percurso. Já nos trilhos é onde a Cake Kalk& revela o que é capaz.

Aqui, a ergonomia revela-se perfeita, e durante cerca de 1 hora no modo 3 e uma bateria esgotada, percebemos a razão da escolha meticulosa dos componentes por parte dos seus criadores. Desde o quadro minimalista e braço oscilante ambos em alumínio, ao excelente funcionamento da suspensão e amortecedor, totalmente ajustáveis da também sueca Öhlins, aos travões de disco italianos com quatro pistões da Formula. Todos criados segundo especificações da Cake para a Kalk, quando teria sido mais fácil e barato reaproveitar componentes já existentes.

A Cake Kalk& podia ser a herdeira da Yamaha DT 50 LC, pelo seu design apelativo e fácil manutenção e sem o inconveniente de ficarmos com a roupa a cheirar a auto-lube. No entanto temos de falar do seu maior inconveniente que é o preço: custa 13.970 euros, não é barata e não nos parece que venha a ser. A Cake parece feliz com o seu produto de nicho construído à mão na Suécia, e nunca irá produzir unidades em quantidade suficiente para o preço baixar. Isso teria de ser uma tarefa para um grande construtor. Será que a Yamaha alguma vez irá fazer uma Yamaha DT 50 LC elétrica?

Ficha técnica
Cake Kalk&

  • Motor: Elétrico com ímanes permanentes interiores
  • Potência: 10 cv / 11 kw
  • Torque: 252 Nm
  • Transmissão: Automática
  • Altura do assento: 910 mm
  • Capacidade bateria: 2,6 kW
  • Peso: 79 kg
  • Pneu dianteiro: Town&trail 19“
  • Pneu traseiro: Town&trail 19“
  • Suspensão dianteira: Öhlins 200 mm curso totalmente ajustável
  • Suspensão traseira: Öhlins TTX22 200 mm curso totalmente ajustável
  • Travão dianteiro: Formula hidráulico, disco Ø 220 mm pinças 4 embolos
  • Travão traseiro: Brembo disco Ø 220 mm pinças 4 embolos
  • Preço: 13.970 euros
  • Garantia: 3 anos

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AVALIAÇÃO
Qualidade geral
9,5
Prestações
10
Ergonomia
9,5
Condução
10
Autonomia
7
Preço
6