A segurança rodoviária suscita desafios que vão das questões ambientais aos modos suaves de mobilidade. Mas o erro humano nunca será eliminado. Atenuar os seus efeitos é o que resta.

 

 

Depois de décadas inteiras a pensar as cidades em função do automóvel, chegou o momento de “montar ecossistemas para humanos”. É precisamente esse desafio que o município de Cascais procurou agarrar, sendo frequentemente apontado como um dos exemplos de como se pode repensar a mobilidade, sem ter o carro no centro de todas as escolhas.

Este modelo, no entanto, só ganhará verdadeira dimensão quando se alastrar por todo o país. Mas a incerteza quanto à tecnologia ainda suscita dúvidas no que toca às respostas que terão de ser encontradas. “Há várias tendências – afirma João Figueiredo, gestor de inovação da Infraestruturas de Portugal – e o desafio é conseguir perceber o que de facto irá acontecer e tentar projetar perante tanta incerteza.”

Na última das sessões warm up da Mobi Summit, na cidade de Faro, um dos temas em discussão foi “Infraestruturas: como criar um ecossistema urbano à prova de humanos?” A automação, a inteligência artificial, a mobilidade suave, sem esquecer as alterações climáticas, influenciam a atual forma de pensar a rede rodoviária.

João Figueiredo tem consciência de que há muitas preocupações em simultâneo, sejam elas de natureza ambiental ou tecnológica, mas também questões tão elementares como procurar perceber qual terá de ser a largura de uma estrada ou ângulo correto de uma curvatura. São perguntas básicas, mas ainda sem resposta: “Temos de assumir que todos estes desafios só vão ter soluções através da partilha de conhecimento e de tecnologia entre todos os agentes envolvidos.”

 

Temos de assumir que todos estes desafios só vão ter soluções através da partilha de conhecimento e tecnologia

João Figueiredo, gestor de informação da Infraestruturas de Portugal

 

Sendo as parcerias tão importantes, justifica-se um maior incentivo à colaboração porque só assim será possível avançar mais depressa, defende o responsável. E foi por isso que nasceu o programa 50 Desafios de Investigação, Desenvolvimento e Inovação da I.P. O objetivo passa por estabelecer protocolos de cooperação com as mais diversas comunidades, desde académica, científica, tecnológica e empresarial. “Todos em conjunto temos de construir esse futuro”, realçou João Figueiredo.

Em Cascais já muito se vislumbra desse possível futuro, com uma rede de transportes que incluiu bicicletas, trotinetes, car sharing, circuitos pedonais e até um veículo autónomo. Estas mudanças permitiram, segundo Rui Rei, presidente da Cascais Próxima, transportar meio milhão de passageiros. E, neste bolo, a aposta nas bicicletas partilhadas já representa uma fatia de 150 mil viagens.

Porém, a inovação precisa de ser apoiada para ganhar consistência, alerta o responsável, dando o veículo autónomo como exemplo para a necessidade de acelerar o processo. Mas a grande dificuldade tem sido a legislação: “O Estado deveria estimular esse tipo de iniciativas, mas tende a querer regular tudo”, critica Rui Rei, chamando a atenção para a urgência em criar ambientes propícios para se testarem as novas ideias: “Acham que, por exemplo, a Alemanha vem para Portugal ensaiar as suas soluções tecnológicas se tiver de ficar dois anos à espera de autorização?”, questiona.

É preciso ultrapassar todos esses obstáculos, diz o dirigente da Cascais Próxima, mas o cenário pode não parecer assim tão pessimista. Tudo depende da perspetiva. Se para alguns o copo está quase vazio, para outros, esse mesmo copo poderá parecer quase cheio. Pelo menos é essa a visão de Ana Tomaz, vice-presidente da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, que prefere olhar para o “percurso assinalável” que já foi feito no decurso dos últimos 20 anos.

Bastará recordar como a sinistralidade já foi “catastrófica” e como a indústria automóvel e as infraestruturas evoluíram para darem resposta aos desafios da segurança: “Até aos anos 80, por exemplo, os choques frontais tinham consequências muito mais dramáticas porque o motor entrava pelo veículo, atingindo os passageiros”, recorda.

Ana Tomaz, João Figueiredo e Rui Rei insistiram na urgência de se investir na inovação como a solução mais segura para proteger ciclistas, condutores e peões

 

Olhar para o passado ajuda a enquadrar o fenómeno da sinistralidade rodoviária, mas não é por isso que o futuro será negligenciado, esclarece a dirigente da ANSR. Até porque “Portugal tem sido muito inovador nas questões de mobilidade”, realça Ana Tomaz, destacando o teste com o automóvel autónomo feito no ano passado na CREL.

“Não devemos ser um entrave à inovação, mas temos de acautelar problemas”, alertou a responsável, acrescentando que a aposta nas infraestruturas e na tecnologia automóvel serão os grandes pilares da prevenção rodoviária. “Teremos de contar sempre com o erro humano porque é inevitável.” A única salvaguarda serão sempre as soluções inovadoras para “minimizar os impactos desses erros”, remata.

 

Elisabete Silva | Texto

João Silva /Global Imagens | Fotos

 

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