Carlos Silva: “Será mais barato ter autocarros gratuitos do que pagar as multas”

29/11/2023

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Presidente da EMEL foi à Conferência de Cascais do Portugal Mobi Summit alertar o próximo governo para a necessidade de se empenhar no cumprimento das metas europeias de descarbonização. Porque serão mais caras do que oferecer transportes grátis à população

 

Já muito se tinha falado na necessidade de cooperação entre entidades e municípios para proporcionar conforto e atratividade aos cidadãos para que troquem a viatura particular pelos transportes públicos quando, já na última intervenção do painel “Como acelerar uma viragem modal nas cidades?”, o presidente da EMEL largou a bomba: se o próximo governo não se comprometer com as metas europeias da descarbonização as multas serão tão pesadas que será mais barato proporcionar autocarros gratuitos.

Carlos Silva respondia esta quarta-feira à pergunta já colocada aos outros intervenientes no debate da Cimeira de Cascais do Portugal Mobi Summit sobre quem deve ser o novo ministro das Infraestruturas quando afirmou: “Mais do que um ministro, precisamos de um primeiro-ministro comprometido com a mobilidade, temos um atraso de 20 anos nas infraestruturas, anuncia-se muita coisa que nunca se concretiza.” E disse mais: “Tem que ser alguém comprometido com a área, senão Portugal não fará a transição energética e as multas são muito pesadas. Tem que se pensar em autocarros gratuitos, se calhar é por aí que temos que ir… será mais barato do que as multas que temos que pagar por não cumprir as metas.”

A Lei Europeia do Clima, recorde-se, estabelece a meta da União Europeia (UE) de redução de emissões líquidas de gases com efeito de estufa para, pelo menos, 55% até 2030 (dos atuais 40%). Ao mesmo tempo, torna juridicamente vinculativa a meta de neutralidade climática até 2050.

Eduardo Ramos, administrador do Grupo Brisa e CEO da Via Verde, espera que as eleições de 10 de março próximo tragam um ministro “que tenha capacidade e visão de interagir com estas peças todas e capacidade de execução”. E as peças são as entidades públicas, privadas, concessionárias, autarquias, etc.

A dificuldade de cooperação foi uma das tónicas do discurso de Rui Rei, da Parques Tejo (Oeiras), que puxou dos galões para enaltecer as políticas de transportes do município – que voltará a ter o SATU no próximo ano – para apontar, por exemplo, o dedo à Brisa, nomeadamente por não traçar um corredor para autocarros na A5. “É importante que Governo e Brisa se ponham de acordo para o fazer e rápido.” Criticou ainda a estrutura de nós de acesso à autoestrada Lisboa-Cascais, que considerou rígidos. “A Câmara já quis pagar a alteração no nó de Oeiras”, exemplificou.

Eduardo Ramos respondeu que há disponibilidade da Brisa para avançar, mas fez questão de referir que a A5 não tem os níveis de qualidade que a empresa gostaria e que primeiro terá de haver melhoramento de alguns troços.

Francisco Aires de Sousa, diretor comercial e de marketing da Carris, colocou o dedo na ferida. A viragem modal nas cidades é tão mais difícil devido a questões culturais: “Não temos tradição de transportes públicos, antes só queríamos o carro.” Por isso entende que, se por um lao é preciso abertura, também é preciso garantir conforto e agilidade a quem está cativo da viatura própria. A mobilidade será tanto mais ágil quanto maior for a possibilidade de se selecionar o meio de transporte, qualquer que ele seja.

“Não há como transformar o sistema sem dar confiança”, disse o responsável da Carris, adiantando que a empresa tem tido aumentos contínuos de passageiros desde 2017. Mas admitindo que a perda do poder de compra pode influenciar essa tendência.

Eduardo Ramos apontou a baixa capacidade de execução para melhorar a intermobilidade. Tanto mais que as cidades vão continuar a sofrer pressão e os movimentos foram planeados de forma pouco integrada. Salientou a importância de conhecer exatamente o que os clientes pretendem, para melhor se planear.

Rui Rei criticou as políticas dos aos 80/90 e deu como exemplo a construção dos chamados parques dissuasores. Precisamente uma medida que a EMEL se orgulha de estar a levar a cabo – os parques navegante – e que foi trazida à conferência do Portugal Mobi Summit pelo seu presidente. Carlos Silva explicou que, ao contrário de Oeiras, entram em Lisboa uma média de 350 mil carros. Logo, os automóveis são os principais inimigos das metas “arrojadas” de descarbonização.

A boa notícia que o presidente da empresa que gere os estacionamentos em Lisboa trouxe é que a EMEL mudou o seu paradigma de intervenção: os reboques e bloqueadores estão a atuar fora do tarifário. “Não é uma prenda de Natal, é para ficar.”

Portugal Mobi Summit