Presidente da EMEL foi à Conferência de Cascais do Portugal Mobi Summit alertar o próximo governo para a necessidade de se empenhar no cumprimento das metas europeias de descarbonização. Porque serão mais caras do que oferecer transportes grátis à população
Já muito se tinha falado na necessidade de cooperação entre entidades e municípios para proporcionar conforto e atratividade aos cidadãos para que troquem a viatura particular pelos transportes públicos quando, já na última intervenção do painel “Como acelerar uma viragem modal nas cidades?”, o presidente da EMEL largou a bomba: se o próximo governo não se comprometer com as metas europeias da descarbonização as multas serão tão pesadas que será mais barato proporcionar autocarros gratuitos.
Carlos Silva respondia esta quarta-feira à pergunta já colocada aos outros intervenientes no debate da Cimeira de Cascais do Portugal Mobi Summit sobre quem deve ser o novo ministro das Infraestruturas quando afirmou: “Mais do que um ministro, precisamos de um primeiro-ministro comprometido com a mobilidade, temos um atraso de 20 anos nas infraestruturas, anuncia-se muita coisa que nunca se concretiza.” E disse mais: “Tem que ser alguém comprometido com a área, senão Portugal não fará a transição energética e as multas são muito pesadas. Tem que se pensar em autocarros gratuitos, se calhar é por aí que temos que ir… será mais barato do que as multas que temos que pagar por não cumprir as metas.”
A Lei Europeia do Clima, recorde-se, estabelece a meta da União Europeia (UE) de redução de emissões líquidas de gases com efeito de estufa para, pelo menos, 55% até 2030 (dos atuais 40%). Ao mesmo tempo, torna juridicamente vinculativa a meta de neutralidade climática até 2050.
Eduardo Ramos, administrador do Grupo Brisa e CEO da Via Verde, espera que as eleições de 10 de março próximo tragam um ministro “que tenha capacidade e visão de interagir com estas peças todas e capacidade de execução”. E as peças são as entidades públicas, privadas, concessionárias, autarquias, etc.
A dificuldade de cooperação foi uma das tónicas do discurso de Rui Rei, da Parques Tejo (Oeiras), que puxou dos galões para enaltecer as políticas de transportes do município – que voltará a ter o SATU no próximo ano – para apontar, por exemplo, o dedo à Brisa, nomeadamente por não traçar um corredor para autocarros na A5. “É importante que Governo e Brisa se ponham de acordo para o fazer e rápido.” Criticou ainda a estrutura de nós de acesso à autoestrada Lisboa-Cascais, que considerou rígidos. “A Câmara já quis pagar a alteração no nó de Oeiras”, exemplificou.Eduardo Ramos respondeu que há disponibilidade da Brisa para avançar, mas fez questão de referir que a A5 não tem os níveis de qualidade que a empresa gostaria e que primeiro terá de haver melhoramento de alguns troços.
Francisco Aires de Sousa, diretor comercial e de marketing da Carris, colocou o dedo na ferida. A viragem modal nas cidades é tão mais difícil devido a questões culturais: “Não temos tradição de transportes públicos, antes só queríamos o carro.” Por isso entende que, se por um lao é preciso abertura, também é preciso garantir conforto e agilidade a quem está cativo da viatura própria. A mobilidade será tanto mais ágil quanto maior for a possibilidade de se selecionar o meio de transporte, qualquer que ele seja.
“Não há como transformar o sistema sem dar confiança”, disse o responsável da Carris, adiantando que a empresa tem tido aumentos contínuos de passageiros desde 2017. Mas admitindo que a perda do poder de compra pode influenciar essa tendência.
Eduardo Ramos apontou a baixa capacidade de execução para melhorar a intermobilidade. Tanto mais que as cidades vão continuar a sofrer pressão e os movimentos foram planeados de forma pouco integrada. Salientou a importância de conhecer exatamente o que os clientes pretendem, para melhor se planear.
A boa notícia que o presidente da empresa que gere os estacionamentos em Lisboa trouxe é que a EMEL mudou o seu paradigma de intervenção: os reboques e bloqueadores estão a atuar fora do tarifário. “Não é uma prenda de Natal, é para ficar.”