O conceito de smart cities ou cidades inteligentes está muito ligado à luta contra o tempo para travar o aumento dos níveis de poluição responsáveis pelo aumento do buraco de ozono. Um autêntico “exército” científico e tecnológico, no qual se inclui o centro português de engenharia CEiiA, desenvolve permanentemente soluções para tornar os espaços urbanos mais sustentáveis, uma vez que se estima que mais de metade da população mundial já vive em centros urbanos, afirma Catarina Selada, a responsável do CEiiA para as smart cities.

Se há 200 anos apenas Londres, Tóquio e Pequim tinham mais de um milhão de habitantes, hoje são quase 500 mil as metrópoles que já ultrapassaram os sete dígitos.
O conceito de cidade inteligente é baseado em projetos em ambiente urbano, de uso intensivo de tecnologias de comunicação e informação adaptado às necessidades de contexto, à gestão urbana e ação social, a partir da direção de dados.

É neste contexto que surge o CEiiA, o Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto português, que já integra estruturas internacionais, como a Aliança para a Descarbonização dos Transportes, que engloba parceiros diferentes, como a Michelin, a ITAIPU Binacional ou a Alston, mas também estruturas estatais de países como França, Holanda e Costa Rica.

Em inglês, designa-se data driven urbanism e agrega áreas como a Internet das Coisas (objetos com capacidades intercomunicacionais avançadas, o big data, que é o processamento e análise de grandes quantidades de dados ou informação, e a governação algorítmica, que é a estratégia de gestão e planeamento com base nas ações construídas a partir de algoritmos aplicados à vida urbana. 
Este conceito tem como objetivo criar condições de sustentabilidade, melhoria de condições de sobrevivência das populações e fomentar a criação de uma economia baseada na análise de dados.
Como facilmente se compreende, estamos a falar de um setor que engloba um leque bastante abrangente de indústrias da mobilidade, desde o setor automóvel e a mobilidade urbana à aeronáutica, ao mar e ao espaço.

“É nestas áreas que o CEiiA desenvolve produtos físicos, sendo a questão dos dados a característica comum e transversal a toda a sua atividade, desde a recolha ao processamento, à análise e produção de informação e de conhecimento para suportar a tomada de decisão”, explica Catarina Selada. 
A responsável do CEiiA pela área de smart cities assegura que é no âmbito da mobilidade urbana que o centro tem vindo a trabalhar numa lógica de proximidade com as cidades e outros territórios. Nesta área, quando se refere a cidades inteligentes, o CEiiA gosta mais da designação smart and sustainable cities, porque, para este centro, o termo smart é apenas um instrumento, um enabler e o objetivo final pretende ser, de facto, a promoção da sustentabilidade das cidades e a promoção da qualidade de vida dos cidadãos, logo, a questão da inteligência urbana e das tecnologias é muito mais um instrumento do que um fim em si mesmo.
Neste domínio, o centro trabalha com cidades em todo o mundo, mas, em Portugal, garante não ter a ambição de trabalhar massivamente com todas as cidades, tendo elegido alguns polos que considera serem os seus laboratórios. Living labs de teste e experimentação de soluções, com os quais trabalha mais intensamente do ponto de vista da demonstração. 

<Os laboratórios de Cascais e de Matosinhos

Cascais e Matosinhos são, para este efeito, os seus laboratórios vivos, por excelência, onde tem vindo a implementar projetos concretos, exemplifica Catarina Selada.
Em Cascais, o CEiiA participa num projeto ligado à estratégia de mobilidade integrada, no âmbito do conceito de “mobilidade como um serviço”, no qual está a funcionar a plataforma MobiMe, que desenvolveu internamente e onde o utilizador acede a uma aplicação e através dela pode ter acesso a todos os serviços de todos os operadores de mobilidade, com um único canal de pagamento. Em Cascais inclui autocarros, comboios, bicicletas e até trotinetas elétricas, porque tudo está integrado numa aplicação, o que facilita bastante a vida do cidadão. 

Já em Matosinhos, o CEiiA está a testar outro tipo de soluções no âmbito de um projeto que é apoiado pelo fundo ambiental que dá pelo nome de Living Lab Matosinhos, que olha mesmo para uma zona central da cidade onde estão a ser testados e experimentados um conjunto de produtos e serviços na área da mobilidade, eficiência energética e do ambiente, em contexto real e com forte envolvimento dos cidadãos. 
É um projeto que tem cerca de 30 parceiros e o CEiiA participa nele em duas fases, o que mostra a transversalidade da intervenção. “Uma primeira participação foi no conceito, na definição da estratégia do que iria ser o Living Lab e, numa segunda fase, também participou com o teste e experimentação de algumas das suas soluções tecnológicas na área da mobilidade sustentável.”

Estes são os laboratórios preferenciais do CEiiA, onde já testou várias tecnologias, incluindo a nova plataforma Ayr, que a partir de junho quer abrir aos munícipes e a novas empresas. A plataforma Ayr é apresentada como “uma solução inovadora e revolucionária para descarbonizar as cidades que tem o foco no cidadão”. Como? “Basicamente passa por democratizar a descarbonização das cidades com o envolvimento ativo de cada um de nós no futuro das cidades onde vivemos”, explica a engenheira.
A Ayr é uma plataforma de quantificação, valorização e transação das emissões de carbono poupadas na mobilidade urbana por bens e serviços sustentáveis, onde se pode recompensar o cidadão pela adoção de comportamentos amigos do ambiente. 

Por exemplo, ao deslocar-se para o trabalho de trotineta elétrica em vez de utilizar o automóvel movido a gasolina, ou gasóleo, estão a evitar-se emissões de carbono.
Através da plataforma Ayr, baseada em blockchain (base de dados universal com base num protocolo de confiança), estas emissões são quantificadas e convertidas em créditos. Estes são armazenados naquilo que se designa de carteira digital do utilizador e, tal como uma moeda local, podem ser transacionados por bens e serviços nas cidades.  

Podem ser trocados por descontos, por exemplo, em novos serviços de mobilidade urbana sustentável, ou seja, posso pagar um serviço de bikesharing, ou ter um desconto num serviço de bikesharing, com Ayrs, observa a responsável do centro de engenharia. Por outro lado, também estão a ser consideradas outras transações em serviços culturais, lazer, obtenção de descontos em taxas municipais, etc.
Neste domínio, o CEiiA diz que começou num universo micro, mas a ambição é alargar estas transações a toda uma cidade, de modo a que o Ayr funcione como uma moeda da sustentabilidade.
O CEiiA é ainda um dos parceiros do município de Aveiro na área da mobilidade, onde vai implementar a plataforma de gestão de mobilidade MobiMe, na qual a plataforma Ayr pode vir a funcionar como complemento, apesar de não estar ainda perspetivado para este concelho.

Em maio esta nova plataforma Ayr foi apresentada nos EUA, no seminário anual de smart cities de Nova Iorque, onde o CEiiA desenvolveu contactos para futuras negociações desta app com algumas autoridades norte-americanas. A ambição é aplicar a plataforma Ayr em várias cidades portuguesas e também em outros países.

Ana Maria Ramos

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