Disponibilizar os serviços de todos os transportes da cidade numa única aplicação móvel é o conceito que a especialista em Mobilidade as a Service (Maas) apresentou no Mobi Summit. A ideia revolucionou o planeamento urbano e, agora, o passo seguinte é tornar o carro particular dispensável nas cidades.

Se quiser subir uma ou duas colinas para chegar ao topo da cidade, o que não faltam são aplicações no telemóvel para ajudar nessa escalada. Poderá optar pelas apps das bicicletas, das scooters, dos táxis ou ainda do car sharing. Com a enorme oferta disponível no smartphone, é provável que, na pressão do dia-a-dia, não tenha tempo ou paciência para fazer a escolha mais vantajosa. Agora, imagine que todos serviços públicos e privados estão numa única plataforma, permitindo selecionar o transporte, definir a rota, comprar o bilhete ou consultar os horários. É tão simples que dá vontade de perguntar porque não há ainda um serviço assim. Esta é a ideia de Sonja Heikkilä, designer de negócios e cofundadora do conceito Mobility as a Service (MaaS).

Mas vamos por partes. A história que esta engenheira dos transportes trouxe ao Portugal Mobi Summit – com o título “Mass e a Utopia das Cidade sem Carros” – começou quando ela tinha 24 anos e apresentou a sua tese de mestrado, em 2013. Logo de seguida, pôs em prática a sua utopia no departamento de planeamento urbanístico da cidade de Helsínquia, Finlândia. Começou do zero, pois nessa altura, nada nem ninguém tinha desenvolvido trabalho ou investigação nessa área.

O conceito joga com os diferentes modos de transporte – metro, autocarro, elétrico, comboios, táxis, bicicletas, scooters ou carros partilhados – combinados num único aplicativo móvel. Os serviços são oferecidos pelas operadoras que estabelecem previamente os acordos com os respetivos prestadores de serviços de transportes. O resultado é uma interface única e fácil de usar para qualquer utilizador que pretenda fazer uma deslocação curta ou planear uma viagem com várias etapas e também vários meios de transportes envolvidos.

O twist que faz aqui a diferença é o facto de os clientes comprarem o serviço à operadora e não diretamente ao fornecedor do serviço. Se, porventura, não existir uma ligação de autocarro para a rota pretendida, é o operador que sugere uma outra opção como car sharing ou scooter elétrica, assumindo assim o planeamento da viagem em nome do utente. A ideia é mesmo essa: libertar o cliente de toda a canseira que é procurar os melhores transportes para determinadas conexões, pesquisar preços, horários ou locais de partida e chegada e ainda evitar filas nas bilheteiras.

 

O automóvel como transporte redundante

O sucesso do modelo estará não somente na comodidade para o utente, como no preço que isso implica. “A palavra-chave aqui é competição”, avisa Sonja Heikkilä para mostrar que os custos podem ser controlados através das leis do mercado. Este é o conceito que tornará o automóvel – enquanto propriedade individual – “obsoleto e redundante” nas cidades, mas a mudança não vai acontecer da noite para o dia. Não será por causa das limitações tecnológicas. A digitalização do serviço é até o mais simples neste processo. O desafio é adaptar a legislação para uma realidade multimodal: “São processos graduais que implicam novas atividades e introduzem mudanças nos ambientes de negócios”, diz Sonja Heikkilä, acreditando que em cinco anos ou menos essa utopia poderá sair do planeamento e começar a circular nos centros urbanos.

O conceito, aliás, já começou a ser testado na Finlândia, país de origem desta engenheira. A capital Helsínquia quer por o modelo a funcionar em pleno para depois exportar a ideia para todas a cidades que queiram também fazer parte desta utopia. O departamento de planeamento urbano município assumiu a gestão deste projeto, prosseguindo o trabalho de Heikkilä, que continuou a sua carreira no setor privado, desempenhando atualmente as funções de Mobility Service Designer no Skoda Auto Digilab.

A autarquia de Helsínquia criou protocolos com várias empresas para obter dados anónimos dos funcionários que permitem saber os transportes e rotas usadas. Route Planner é o aplicativo que pretende provar que o automóvel particular é desnecessário. E, em 2025, Helsínquia quer ser a primeira capital do mundo a sair da utopia e a entrar na era das cidades sem carros.

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