Podemos ir além do eu e restituir a confiança entre todos nós para passarmos a acreditar mais uns nos outros. Ou um pensador criativo e imaginativo a desconstruir o pensamento para erigir melhores cidades

Para Charles Landry, um dos pensadores contemporâneos que (também) se dedica a apanhar a resposta à questão do milhão de euros (quem somos e para onde vamos? – ou: cidades do futuro), o óbvio é ululante: é preciso descarbonizar, re-ligar as pessoas à natureza e repensar um modelo de polis menos castigador para todos. Propõe que voltemos a descobrir a pólvora: se tudo é imersivo e está a ficar disfuncional, é preciso um novo humanismo. Atenção sensibilidades mais finas: um “sustentabilismo”.

Landry fala quase numa espécie de nova religião, porque um novo caminho – e se falou de caminhos, falou de caminhar e de subir escadas como quem toca piano, etc. – requer algum virtuosismo. Não porque requeira uma crença sem limites, mas precisamente porque exige algo do mesmo âmbito dentro dos limites da humanidade: acreditar e confiar. E não é nem ironia, nem cinismo.

Logo a abrir a palestra Seamless Connectivity in a Nomadic WorldKeynote (Algo como “Conectividade perfeita num mundo nómada”) houve humor com mira afinada. “Aqui [palco, instalações da SBE], temos a oportunidade de estar fixados num lugar. Já que estamos sempre a falar de mobilidade”, gracejou, mas com propósito. “As pessoas sentem que não têm de se mexer porque podem fazer tudo no mesmo local. Todas as cidades progressistas estão a pensar: qual é o meu futuro? Onde é que eu estou? Todas sabem que têm de ser diferentes”, avançou o inglês de 71 anos, reconhecida autoridade em matéria de pensamento criativo e imaginativo para criar novas cidades mais integradoras e amigas das pessoas.

Autor, orador e consultor para o futuro das cidades, Charles Landry começou a desconstruir o pensamento para chegar a uma ideia mais coesa, solidária e benéfica de comunidade.

“A mobilidade humana aumentou 130 vezes em 50 anos” ou “em Telavive há um grafito –  23.59 – a lembrar-nos constantemente que estamos a um minuto de um novo dia” são peças do argumentário de Landry para sustentar uma teoria. Mas há mais: “A tecnologias é imersiva. Vivemos em híper-vitalidade e vai-se a concentração, o discernimento. Come-se mais depressa, anda-se mais depressa e – tenta-se – pensar mais depressa. Não nos podemos esconder dos grandes bancos de dados”, carrega o pensador inglês.

“Tudo para transformar o mundo num local mais pequeno, para o sentar na sua cadeira. Tudo é imersivo e tudo está a ficar disfuncional”, carrega na ferida. “Até já temos programas de desintoxicação digital, existe o mindfulness…”, provocou.

Então, passemos a caminhos, já que “andar é a forma mais comum de nos movermos”. Primeiro, lá está, é preciso gatinhar. “Só resulta se comprarmos cinco litros de pensamento coletivo. Se fizermos as coisas juntos e de forma coletiva. A crise é económica, mas também de expansão da matéria e de divisão social”, começou por apontar.

“Podemos ir além do eu, do mim. Temos de restituir a confiança entre todos nós e passarmos a acreditar mais uns nos outros”, concluiu triunfante.

Portanto, só há mobilidade ou cidades inteligentes se houver combustíveis naturais e – até prova em contrário – inesgotáveis: solidariedade, altruísmo, sentido de comunidade. E não pareceu necessariamente panfletário, a propósito. Até porque, como disse com estilo Charles Landry, “a cidade é um drama no tempo, mais do que um lugar no espaço”.

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