A sinistralidade voltou a subir e os especialistas, reunidos na Universidade do Algarve, em Faro, defendem novas abordagens para inverter a tendência.
Não podia calhar em melhor altura as Road Safety Sessions, que decorreram esta semana na Universidade do Algarve, em Faro. Em plena Semana Europeia da Mobilidade, o tema ganha uma relevância ainda mais atual. E haverá muitas razões para isso, mas uma que se sobrepõe a todas as outras: 673 mortes, no ano passado, é um número que incomoda. “Desde de 2012 que não morria tanta gente na estrada”, relembra o administrador da Global Media Group, Afonso Camões, no arranque da última conferência que antecede a grande cimeira Portugal Mobi Summit, em outubro.
A questão agora é saber porque acontecem os acidentes. E teorias não faltam. Desde os anos 50 que se tentam encontrar os culpados. Desde uma minoria de condutores desastrados, que colocam em risco a vida de uma maioria, passando pelo automóvel que se transformou na principal causa de acidentes até aos dias de hoje em que se procura atacar o problema em todas as frentes.
“Um sistema construído em nome da segurança tem de atuar não só no plano das infraestruturas e do veículo, como também ao nível dos condutores e dos peões”, explica, Carlos Lopes, especialista da Autoridade Nacional da Segurança Rodoviária. Estradas mais seguras, limites de velocidade adequados aos “perfis das cidades”, fiscalização e, por fim, educação e sensibilização são as grandes dimensões a ter em conta, diz Carlos Lopes.
A interferência humana
O problema é quando o fator humano entra nesta equação. Mudar hábitos é o mais difícil. “As pessoas ainda andam de carro para fazer percursos de 15 ou 20 minutos a pé”, adverte o presidente da Câmara Municipal de Faro, explicando que a cidade algarvia conheceu nos últimos dois anos um “incremento de 10% a 15% de carros particulares”, acompanhando a evolução demográfica. “É preciso diminuir a circulação do automóvel.”
Ou seja, é preciso mudar as mentalidades. E é aí que tudo pode desmoronar, avisa João Ferreira, diretor de Planeamento Estratégico da agência Partners. As campanhas já não funcionam. Pelo menos, as campanhas a que estamos habituados: “As ações de sensibilização têm hoje a mesma eficácia que tem o papel de parede”, defende o especialista que, nas road safety sessions, participou no debate sobre “políticas públicas e programas de segurança rodoviária”.
Talvez a “personificação do problema” seja o caminho, propõe, entretanto, Luís Marreiro, do Observatório de Segurança Rodoviária da Brisa.: “A comunicação tem de entrar na vida das pessoas e, acima de tudo, estar articulada com os vários agentes estatais, privados, regionais e locais.”
Políticas integradas de redução do automóvel é disso que se trata, diz Luís Reis, especialista do CEiiA – Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto – que juntamente com Paulo Figueiredo, da Fidelidade, e Lara Mora, I&D Manager da A-To-BE, participaram no painel sobre “Visão Zero – o autónomo é a resposta?” O debate colocou uma pergunta que, sem surpresa, ficou sem resposta clara.
Mas é preciso cautela com os entusiasmos, adverte o presidente da Autoridade Nacional da Segurança Rodoviária que, no encerramento da sessão, deixou um alerta para estes tempos de transição: “Julgamos que as máquinas são infalíveis, mas é bom tomar consciência que elas também erram”. É algo que teremos de aceitar, diz Rui Soares Ribeiro. O que já não é aceitável são as mortes na estrada. “Sejam elas centenas ou apenas uma”, remata.
Kátia Catulo
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