Quem percorrer o mapa de Portugal de alto a baixo encontrará 40 municípios com uma estratégia virada para as cidades inteligentes. O número com que o vice-presidente da Associação Nacional dos Municípios Portugueses inaugurou o debate das Smart Cities Sessions, em Ovar, representa um “grande salto”, tendo em conta que o caminho começou há tão pouco tempo. Se invertermos o sentido, também pode querer dizer que só 13% das cidades portuguesas estão a caminhar para o futuro e que a estrada ainda é longa.

Mas esse será um percurso que, uns mais devagar do que outros, vão ter de fazer para uma “gestão cada vez mais complexa” dos territórios urbanos. “As autarquias assumiram mais competências, embora os orçamentos continuem estanques e os recursos, esses, são sempre escassos”, explica Almeida Henriques, que também é presidente da Câmara Municipal de Viseu.
Fazer mais com menos é um lugar comum que ganha uma nova dimensão. “Racionalizar, usando a tecnologia, é a solução para diminuir custos e aumentar a eficiência”, esclarece Pedro Sarmento, investigador do Nova Cidade. E esta é uma equação que já se começa a fazer, mas será preciso cautela para evitar o deslumbramento com o admirável mundo dos dados. “Não se pode correr para uma solução sem primeiro entender esse grande volume de informação a que hoje temos acesso”, diz Miguel Velosa Rodrigues, da Simens MobilitY, na Smart Cities Sessions@Ovar, do Portugal Mobi Summit.

Entender significa pôr a tecnologia ao serviço de quem vive nas cidades. “Se os dados são fornecidos pelas populações, então as autarquias terão de compensar quem souber tirar partido das melhores práticas”, diz Pedro Sarmento. Será o mais justo para quem faz reciclagem, opta pela bicicleta ou desliga interruptores e fecha torneiras mais vezes do que todos os outros.
Exemplos começam a surgir, conta o autarca de Viseu, apontando para os casos que conhece de perto. Premiar os bairros que mais separam o lixo, atribuindo, no final do mês, um euro por cada três vezes que um morador faz a reciclagem. Como querem depois aplicar esse dinheiro é uma decisão da comunidade. Essa é também a lógica dos 18 ecopontos florestais que a câmara planeia instalar. Os residentes depositam nos compostores os resíduos de limpeza de matas, jardins e cultivo de terras. A junta vende depois as toneladas de biomassa e investe em benefícios para a freguesia.

As estatísticas também salvam vidas. Foi para isso que serviram os indicadores de sinistralidade da PSP. Os pontos críticos na Estrada da Circunvalação permitiram criar 69 passadeiras inteligentes à volta de 13 escolas e 11 rotundas: “Tínhamos duas a três mortes por ano, mas, nos últimos três, nem uma.” Sabendo o que é possível fazer com o acesso à informação, os dados são um trunfo para criar uma estratégia de investimento. Mais do que isso, conclui Almeida Henriques, uma oportunidade única para as cidades do interior conquistarem o seu lugar no mapa de Portugal.

Katia Catulo

The post O admirável mundo dos dados ainda não chegou a todas as câmaras appeared first on Portugal Mobi Summit.

Leia mais em www.portugalms.com