O conceito atual de segurança rodoviária parte da premissa de que as mortes são inaceitáveis. Como errar é humano, há que encontrar soluções para minimizar consequências. O autónomo é uma das respostas, mas não a única. E são muitos os desafios a ultrapassar, que vão das tecnologias às infraestruturas.

 

Ao longo de décadas surgiram várias teorias para tentar explicar porque acontecem os acidentes rodoviários, que tantas mortes provocam todos os anos. Em Portugal foram 675 em 2018, o número mais alto desde 2012. Carlos Lopes lançou o mote para o debate, que surgiria mais tarde no painel dedicado à Visão Zero – O Veículo Autónomo É a Resposta? O programa nasceu na Suécia, em finais dos anos 1990, e parte da premissa de que o erro humano é inevitável, mas as perdas de vida serão sempre inaceitáveis. A solução está, portanto, na capacidade para minimizar os impactos dos acidentes, explicou o diretor da Unidade de Prevenção e Segurança Rodoviária da ANSR.

A Visão Zero esteve precisamente em foco na terceira e última sessão warm up da Mobi Summit, que decorreu em Faro. A tecnologia tem um papel determinante e a inteligência artificial é agora apontada como um dos caminhos mais eficazes para prevenir a sinistralidade. “O autónomo é a resposta?” A pergunta colocada ao painel de especialistas pode até ser simples, mas a resposta é bem mais complicada.

A única certeza é de que a mobilidade está a mudar e há novos desafios que precisam de respostas. Luís Reis, senior manager strategy & business development for mobility do CEIIA, está convencido de que a introdução de soluções autónomas irá levar tendencialmente a menos acidentes e menos poluição, mas serão necessárias políticas adaptadas às infraestrturas de forma a acomodar as novas tecnologias: “Julgo que será possível pensar nos espaços urbanos para a condução autónoma, mas terá de haver um planeamento integrado no ambiente e nas políticas para reduzir os automóveis.”

 

O peso do carro na mobilidade

E quem espera que os autónomos assumam a condução nas estradas no curto espaço de tempo, pode ficar desapontado, avisa Lara Moura, I&D Manager da A-To-Be (Powered by Brisa): “Não é para já e ainda há muitos desafios a ultrapassar.” Já se vão dando passos importantes, como foi o caso do teste feito no ano passado com um automóvel sem condutor a circular na CREL. Tudo em ambiente controlado, a estrada fechada e escolta da GNR. São ensaios como estes que vão permitir clarificar o que pode e não pode ser feito. O rigor tem de ser levado a sério, pois “um veículo autónomo terá de ter um conhecimento muito profundo de tudo o que está ao seu redor”, explica a especialista.

Mas tentar adivinhar como vai ser o automóvel do futuro é um exercício arriscado. Paulo Figueiredo, diretor de Negócios Automóvel da Fidelidade, até tem dúvidas de que venham a ser a principal solução para a mobilidade: “Quando acabei o meu curso pensei logo em comprar carro e só depois em arranjar um emprego.” A geração seguinte é um pouco diferente e isso vê-se bem no caso da filha, a estudar em Lisboa, que só para não se sujeitar ao “drama” diário da falta de estacionamento, dispensa o automóvel.

 

Paulo Figueiredo, da Fidelidade, Luís Reis, do CeiiA, e Lara Moura, da A-to-Be, debateram os desafios da condução autónoma na segurança rodoviária.

 

O carro autónomo, como tal, não será a solução porque o mais certo é “haver várias soluções”. E existem muitas perguntas ainda sem resposta: “Será que a condução vai ser totalmente autónoma ou o humano poderá assumir o controlo a qualquer momento?” Se assim for, o risco de acidente também poderá ocorrer a “qualquer momento”. São dúvidas como esta que colocam também desafios às seguradoras: “Do ponto de vista jurídico nem sempre será fácil destrinçar entre a responsabilidade do condutor e da máquina”, avisa Paulo Figueiredo, alertando para a dificuldade de entender a lógica dos algoritmos nas decisões potencialmente perigosas.

 

Novos desafios, mais oportunidades

Apesar de a tecnologia já permitir soluções parcialmente autónomas, como é o caso do cruise control, a evolução irá mais além e, entre os novos desafios, surgem oportunidades que Luís Reis acredita poderem vir a ter um impacto positivo na indústria portuguesa. A componente física do automóvel já é pensada com a digital e o responsável do CEIIA vê nessas mudanças espaço para as empresas nacionais. Mas será preciso acelerar os testes dos autónomos em ambiente real não só para que as empresas estrangeiras possam estudar a tecnologia mas também para que as portuguesas apostem nas novas soluções.
Há muitas variáveis em jogo e a mais importante acaba por ser a informação que o veículo autónomo recebe do ambiente em redor.

Esse é o ponto crítico para Lara Moura, que insiste na necessidade de garantir o rigor dos dados que vão ser interpretados pela máquina. E, neste aspeto, há mais um desafio no plano da segurança: “O carro, sendo um computador, vai ser um alvo para os ataques cibernéticos”, alerta a I&D Manager da A-To-Be, para mostrar que os sistemas inteligentes trazem vantagens, mas também perigos que vão precisar de vigilância.

 

Elisabete Silva | Texto

João Silva | Foto

 

 

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