Fernando Alonso: “Falta de ação em pista fez-me sair”

17/08/2018

Depois de anunciar a sua retirada, não definitiva, da Fórmula 1 em 2019, Fernando Alonso falou aos jornalistas em SIlverstone, no âmbito da sua participação em mais uma jornada do Mundial de Endurance (WEC) com a Toyota.

E porque havia enorme curiosidade em saber qual a verdadeira razão para que o duas vezes campeão do Mundo abdicasse de tentar a terceira coroa mundial, o “assalto” por parte dos jornalistas foi impressionante. E o espanhol não desiludiu!

“Parei porque a ação em pista, na minha opinião, é muito pobre! Na verdade, falamos mais de F1 fora das pistas que dentro delas. Falamos de polémicas, de mensagens no rádio, enfim, falamos de tudo e mais alguma coisa, menos da competição e quando chegamos a esse nível, é um mau sinal.” Alonso sem filtros e sem contemplações.

“A ação em pista está longe daquela que imaginei quando cheguei à Fórmula 1 ou quando estava nas diversas fórmulas de ascensão, ou até mesmo o tipo de atividade que cheguei a conhecer em outros anos da minha carreira na F1.”

Para Alonso, esta situação tem uma razão bem clara. “Tudo isto sucede porque a ação em pista é muito pobre durante o fim de semana e essa é a forma como vejo a F1, hoje: pobre! Penso que há outras disciplinas que oferecem mais ação, mais interesse e divertimento e é isso que busco ao sair da F1 rumo a novas experiencias.”

Claro está que Fernando Alonso não diz a verdade toda, admitindo nas entrelinhas que caso tivesse um projeto ganhador entre mãos – Ferrari ou Mercedes – que lhe pudesse outorgar o terceiro título mundial em 2019, ele não se afastaria, mesmo que estivesse, como parece estar aborrecido com a Fórmula 1.

Aliás, no seguimento das muitas declarações que Alonso tem feito em Silverstone aos jornalistas presentes para a prova do WEC, o espanhol deixou escapar que “nos anos 2003, 2004, 2008, 2009 e 2011, não ganhei muitas corridas, mas era sempre difícil saber quem ia ganhar, por exemplo, em Spa ou em Monza. Não era fácil adivinhar os vencedores de cada corrida e as surpresas sucediam-se a um ritmo muito interessante. Nos dias que correm, podemos escrever num papel, uma semana antes, os quinze primeiros da classificação de qualquer Grande Prémio e salvo um ou dois erros, acertamos sem dificuldades.”

Aqui o espanhol entra pela porta errada das justificações, pois se há campeonato imprevisível e com desfechos totalmente inesperados, tem sido a edição de 2018 do Mundial de F1. Soa mais a ressabiamento que outra coisa, com o espanhol a insistir na tecla, recordando os testes de inverno.

“Vamos para Barcelona testar e no final do primeiro dia e ficamos logo a saber o que vai acontecer até novembro no Abu Dhabi e isso é desmotivante” refere Alonso, uma vez mais do lado errado do passeio, pois ao longo de 2018, a evolução de Ferrari e Mercedes tem sido fantástica e os carros que apareceram em Barcelona antes do Mundial começar, não têm nada a ver com os atuais.

Mas como muito bem diz Alonso, “para mim isso não é um grande problema, pois em 18 anos de carreira conquistei muito mais do que alguma vez tinha sonhado!” Fica a preocupação do espanhol com os jovens. “Esta situação é mais complicada para os jovens, pois todos os anos esperam pela sua oportunidade e quando surge, acreditam que a equipa vá dar um enorme salto qualitativo ao longo do ano e isso acaba por não acontecer. E para aqueles que tem ambição, nada mudar será uma machadada forte no seu futuro.”

Quanto ao seu regresso à Fórmula 1, Alonso abre o sorriso e lembra que “ainda sou novo! Não tenho 45 anos e sinto-me forte e capaz de continuar a pilotar ao mais alto nível. Vou fazer 27 corridas este ano e sinto-me bem, não havendo razões nenhumas para fechar portas pois ninguém sabe o que nos reserva o futuro.”

Afinal, o que provocou a saída de Fernando Alonso da Fórmula 1? Bom, tudo e nada pois como habitualmente, o natural de Oviedo lançou uma cortina de fumo lembrando a falta de ação em pista, a falta de emoção, os testes previsíveis, enfim, tudo e mais alguma coisa, deixando de lado a razão principal: não ter uma equipa competitiva que o quisesse nas suas fileiras e que pudesse oferecer-lhe a perspetiva de um terceiro título mundial. Resta-lhe juntar o seu nome a Graham Hill e vencer as 500 Milhas de Indianápolis, juntando assim à vitória em Le Mans e as duas vitórias no GP do Mónaco e desenhar a “Triple Crown”.

José Manuel Costa/Autosport