A pista que este ano celebra os seus quarenta e cinco anos de vida escreveu algumas das páginas mais interessantes e entusiasmantes do automobilismo mundial, com a Fórmula 1 a ter papel de destaque, mas não só. Depois de a categoria máxima do desporto automóvel ter visitado o nosso país na Boavista e em Monsanto no final dos anos cinquenta e início dos anos sessenta, foi no traçado que é considerado “a casa espiritual do automobilismo português” que regressou ao contacto com os fervorosos adeptos portugueses, em 1984, e a forma como voltou não poderia ser mais excitante.
Vivia-se então intenso domínio da McLaren com os seus fabulosos MP4/2 de carbono saídos da pena de John Barnard e animados pelos pujantes TAG V6 turbo, construídos sob medida pela Porsche para a equipa de Woking, e Alain Prost e Nki Lauda chegavam ao último Grande Prémio da temporada, o de Portugal, separados três pontos e meio. As qualificações correram bem ao francês, que assegurou o segundo posto ao lado de Nelson Piquet, ao passo que o austríaco não ia além do décimo primeiro lugar da grelha de partida.
No entanto, no dia da corrida o bicampeão mundial ditou a sua lei e, muito embora Prost tenha vencido, recuperou até ao segundo posto, o que lhe permitiu sagrar-se Campeão Mundial de 1984 por apenas meio ponto de diferença – distância mais curta entre os dois primeiros classificados do Campeonato de Pilotos de sempre e que se mantém até aos dias de hoje.
Mas a prova portuguesa continuou a fazer história logo em 1985, quando Ayrton Senna, uma estrela em ascensão que começou a dar nas vistas na temporada anterior ao volante de um Toleman Hart, começou a sua lenda. O brasileiro, então ao volante de um Lotus Renault, conseguiu a pole-position com uma volta impressionante na qualificação de sábado, mas foi no domingo que realmente mostrou quem era.
Num dia primaveril, mas com a chuva a ser uma convidada indesejada, o então jovem de vinte e cinco anos revelou uma destreza extraordinária em condições de pista horríveis, com fundas poças de água que atiraram pilotos bem mais experientes para o despiste, parecendo ter um circuito seco só para ele. No final das duas horas de prova, Senna tinha dobrado todos os seus adversários, menos Michele Alboreto, que terminou no segundo posto a mais de um minuto do “fenómeno brasileiro.
O inglês falhara a sua boxe para trocar de pneus e engrenou a marcha-atrás, o que lhe valeu a desclassificação. Contudo, “Our Nige” “nunca viu” a bandeira preta que lhe fora mostrada por diversas vezes e, quando Senna, que era de facto o primeiro, o tentou ultrapassar na Curva 1, fechou a porta vigorosamente, acabando os dois na escapatória.
A vitória caía nas mãos de Gehrard Berger, que regressava depois do seu horrível acidente no Tamburello de Imola, e Senna, graças ao incidente, ficaria numa situação difícil no Campeonato de Pilotos que acabaria por perder para Prost em Suzuka em circunstâncias especiais.
Por seu lado, o francês, que sofrera uma derrota em 84, nove anos depois chegaria ao seu quarto título precisamente no Autódromo do Estoril. Depois de ter sido despedido pela Ferrari e de um ano sabático, Prost regressava à Fórmula 1 em 1993 com a Williams, por imposição da Renault, então a parceira técnica da equipa de Frank Williams. A superioridade dos carros de Grove foi evidente ao longo de toda a temporada e o gaulês assegurou o seu quarto título na “nossa pista”, a duas provas do final da época, apesar de Michael Schumacher ter vencido, então uma estrela em ascensão que conquistava o seu segundo triunfo em Grandes Prémios. Mas nem só de Fórmula 1 viveu o Autódromo do Estoril e em 1977 disputou-se uma ronda do Campeonato Mundial de Carros de Desporto.
Então a Alfa Romeo dominava complemente a competição com o seu imponente 33 SC12 e destruiu a oposição, assegurando os três primeiros lugares da prova, que teve a duração de duas horas e meia. Os preformantes carros de Arese completaram quase quatrocentos quilómetros (387,150), à média de 153,891 Km/h.
História sobre rodas
O palco histórico por excelência que é o Autódromo do Estoril vai revisitar este fim de semana de 21 e 22 de outubro o passado do automobilismo com um conjunto de corridas que vão desde os carros de Grande Prémio do pré-guerra, até aos Fórmula 1’s do início dos anos oitenta, passando por alguns dos mais emblemáticos protótipos e GT’s que passaram por Le Mans ao longo de inúmeras décadas.
Para além disso, o Estoril Classic Festival organizado pela Race Ready com o apoio da Câmara Municipal de Cascais e Turismo de Portugal contará com diversas actividades no paddock, desde uma roda gigante, que permitirá aos espectadores ver as corridas de um ponto de vista distinto, até street-food e diversos espaços dedicados a auto-memorabilia que farão as delícias de todos os adeptos de automobilismo.
Todo o fim-de-semana se pretende que seja uma festa, sendo o acesso às bancadas gratuito, ao passo que o bilhete de paddock, onde será possível respirar o ar de maquinas únicas, custa a partir de dez euros.