Mais recentemente, em 2002, conheceu talvez o maior protagonismo da era moderna, pelo menos, do grande ecrã, quando foi utilizado no segundo filme da saga Harry Potter, Harry Potter e a Câmara dos Segredos, para levar Ron Weasley e Harry até Hogwarts. As peripécias por que o Anglia passa são bem visíveis e o veículo encaixa na perfeição no contexto cénico da adaptação da obra à sétima arte.
No entanto, “por detrás das cenas” há alguns detalhes curiosos e bem menos conhecidos. O modelo que surge no filme é autêntico, um Ford Anglia 105E de 1962 com o número de chassis 7990 TD, e foi construído na fábrica da marca no Reino Unido. Durante a produção, John Richardson, responsável pelos efeitos especiais do filme, retirou-lhe o motor e mais alguns elementos para o tornar mais leve, introduzindo-o numa grua móvel para o poderem facilmente fazer rodar ou girar durante as filmagens. Depois disto, colocaram a grua na par detrás de uma pick up para o moverem e trabalharem as cenas.
No total foram utilizados 16 Ford Anglia, cada um com adaptações específicas: alguns foram cortados ao meio para facilitar as filmagens no seu interior; outros foram equipados com motores mais potentes para as cenas a velocidades mais elevados; outros ainda foram sendo destruídos por fases para se obter a cena em que o modelo bate na árvore (ndr.: denominada Salgueiro Zurzidor no filme) à chegada a Hogwarts.
Porém, não é só de cinema que é feita a história deste modelo. Aqui deixamos por isso uma pequena resenha do seu percurso:
Tendo inicialmente por base o 7Y, a primeira linhagem do Anglia ficou internamente conhecida por E04AO. O carro era marcado pela simplicidade: design alusivo aos anos 30; duas portas; quatro lugares; mecânica simples e um motor de 10 cv.No final da década de 40 tinham sido produzidas 55.807 unidades do ‘interno’ E04A que deu lugar ao E494A, que foi produzido como Ford Popular. Em 1953 a Ford refrescou as linhas do Anglia, sob o ‘nome de código’ 100E.
O mercado passava assim a contar com um Anglia de três volumes de imagem moderna que, apesar das mexidas, mantinha a sua genética simplista e o competitivo baixo preço de mercado. Este modelo equipava um motor de válvulas laterais, acoplado a uma caixa de três velocidades. Uma característica curiosa é que ostentava um limpa pára-brisas operado a vácuo, que era conhecido por parar nas inclinações.
Porém, foi em 1959 que aquele que é o Anglia mais conhecido de todos surgiu, o 105E. A versão padrão ostentava um vidro traseiro com inclinação ao contrário do habitual e sob o capot apresentava um motor dianteiro longitudinal, de quatro cilindros e refrigerado a água. Este tinha 997 cc e uma potência que já chegava aos 37,5 cv às 4.800 rpm. A velocidade máxima era de 120 km/h e o registos dos 0 aos 100 km/h de 28 segundos.
Um dos marcos do percurso do Ford Anglia remonta a 1961, quando assinou o registo de 16.000 km ininterruptos, realizados durante sete dias e a uma média de cerca de 95 km/h, ao conhecido traçado de Goodwood.
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