Alfa Romeo 155: Das pistas para a estrada

13/04/2019

Quando o novo 155 é apresentado em Barcelona, no início de 1992, são muitos os alfistas que não consideram o sucessor do 75, como sendo um verdadeiro Alfa Romeo. A estética (para alguns) e a tracção dianteira (para muitos outros) são os principais defeitos apontados. Há que convencer os entusiastas da marca de que o 155 é um verdadeiro Alfa Romeo com cuore sportivo, e a competição é um excelente meio para isso.

Assim, é apresentado um novo carro de corrida para disputar o campeonato italiano de superturismo de 1992: o 155 GTA, baseado no Q4 de série. É ainda equacionada a comercialização de uma versão de estrada do GTA, realizando-se um protótipo com carroçaria em fibra de carbono, mas os dirigentes da marca acabam por não dar seguimento ao projecto, invocando dificuldades na industrialização do mesmo. O protótipo 155 GTA “Stradale” (recentemente restaurado) será utilizado como safety-car em Monza.

No entanto, a Carrozzeria Zagato, confrontada com sérias dificuldades financeiras, vê um certo potencial numa versão super desportiva do 155 que capitalizasse comercialmente com os sucessos conquistados nas pistas (o GTA vencera o campeonato italiano e o V6 Ti iniciava a sua famosa epopeia no DTM). Em 1993, a Zagato propõe à Alfa Romeo um 155 Ti-Z (Tourism International Zagato), igualmente baseado no 155 Q4, ou seja, tracção integral e motor 2.0 litros do Delta HF Integrale, mantendo-se aqui os 215 cavalos do Lancia, o Q4 ficando-se pelos 190. Esteticamente, o 155 Ti-Z ganha um kit carroçaria específico (aileron, embaladeiras, pára-choques…).

A Alfa Romeo tarda em dar o seu aval, pelo que a Zagato faz mais uma tentativa para convencer a marca de Milão com o protótipo GTA-Z, com o motor mais potente (cerca de 230 cavalos) e kit carroçaria ainda mais agressivo. Mas não obstante a insistência da Zagato, a Alfa Romeo acaba por recusar o projecto.

Luca Zagato, neto do fundador, Ugo Zagato, e líder da recém criada Z Automobili, decide então aproveitar os protótipos já fabricados para lançar uma versão Zagato do 155, destinada exclusivamente para o Japão. No entanto, a aventura japonesa não foi pacífica, com atrasos na produção e na entrega, défices de qualidade, desorganização geral… Os vários problemas na execução deste projecto acabam por ditar o seu fim e dificultar hoje em dia o recenseamento dos exemplares produzidos. Os números não sendo muito fiáveis, estima-se que terão sido produzidos cerca de 24 exemplares do 155 Ti-Z/GTA-Z, dos quais 13 baseados no 2.0 Twin Spark de 170 cavalos (tracção dianteira) e 6 no Q4. Terá sido ainda construída uma versão a partir do V6, os restantes sendo meros protótipos.

Muitos poderão dizer que houve excesso de romantismo, mais emoção do que razão… Provavelmente terão razão. Mas todo este processo, desde o GTA Stradale até aos Ti-Z e GTA-Z, teve o mérito de transformar um patinho feio, que era o Alfa 155, num automóvel de excepção. Os sucessos desportivos fizeram o resto…

Bruno Machado/Jornal dos Clássicos

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.