As três vidas de um nobre inglês

21/04/2019

De todas as aventuras em que já me meti como antigomobilista apaixonado, essa, sem dúvida, foi a mais incrível. Encontrei o clássico Land Rover 1951 abandonado havia uns 20 anos em uma garagem da Zona Sul de Porto Alegre, no Sul do Brasil. Mas botei o olho nele e percebi o seu potencial: motor original, volante do tipo “banjo”, grelha com emblema, instrumentos no painel…

Apesar da aparência deplorável, o Land Rover merecia uma segunda vida. Afinal, o modelo é um clássico, que serviu à Família Real inglesa, e tem fãs apaixonados em todo o mundo. Nem rodava, mas foi paixão à primeira vista. Comprei-o para restaurá-lo. Só que a empreitada revelou-se demasiado complicada para minhas posses e conhecimento à época – e decidi vendê-lo no estado em que estava.

Apareceu um comprador no Nordeste do Brasil. O carro foi embarcado em um caminhão cegonha em Porto Alegre e seguiu viagem. No caminho, o caminhão rolou por uma ribanceira – e o jipe virou um chinelo. Não acreditei quando vi as fotos. Pensei: é o fim do velho lorde inglês. Descanse em paz.

Por incrível que pareça, soube mais tarde pela empresa que intermediou o negócio que o comprador recusou a indenização do seguro e preferiu ficar com o que sobrou do carro, para restaurá-lo. Paixão é paixão. O velho Land Rover ganhou uma terceira vida…Nunca mais tive notícias do simpático jipinho.


Irineu Guarnier Filho é brasileiro, jornalista especializado em agronegócios e vinhos, e um entusiasta do mundo automóvel. Trabalhou 16 anos num canal de televisão filiado à Rede Globo. Actualmente colabora com algumas publicações brasileiras, como a Plant Project e a Vinho Magazine. Como antigomobilista já escreveu sobre automóveis clássicos para blogues e revistas brasileiras, restaurou e coleccionou automóveis antigos.

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